Depois da Folia a Ressaca (Escândalo, Eleições e Revolução no Brasil)
O Brasil acordou na quarta-feira de cinzas de 2004 com uma tremenda dor de cabeça. No centro desta torturante enxaqueca está o escândalo envolvendo o sr. Waldomiro Souza, ex-assessor do ministro da Casa Civil José Dirceu, acusado de intermediar os interesses de “Carlos Cachoeira” e Alessandro Ortiz, representantes da máfia italiana e coreana, no esquema de lavagem de dinheiro proveniente do narcotráfico, através de bingos e exploração de jogos eletrônicos. Mas, o ponto fundamental que fez emergir todo o escândalo foi o fato do sr. Waldomiro ter participado no levantamento de recursos financeiros oriundos da contravenção para as campanhas eleitorais do então candidato ao governo do estado do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PDT) e Benedita da Silva (PT) e, recentemente (diz ele próprio) para a campanha do petista Geraldo Magela, ao governo do Distrito Federal. Além disso, segundo a denúncia, Waldomiro durante os governos Garotinho/Benedita/Rosinha, no Rio de Janeiro, estando à frente da Loterj, criou um esquema de superfaturamento das propagandas publicitárias para desviar recursos para os deputados do Partido Liberal, Bispo Rodrigues e Bispo Waldeci (assassinado, inexplicavelmente, até então). Em linhas gerais, a história parece se resumir no seguinte: Waldomiro negocia dinheiro da contravenção para campanhas de candidatos que em troca lhe nomeiam para postos-chaves no governo (Presidência da Loterj, assessoria no Congresso, assessoria do ministro da Casa Civil), através dos quais realiza “acordos” que favorecem as máfias (Gerplan), no controle e exploração dos jogos eletrônicos (caça-níqueis), bingos e sistema lotérico, para lavar o dinheiro do narcotráfico.
Parece por demais bisonho que um governo que chegou ao Planalto com toda a áurea de moralidade, ao estilo “udenista”, de um momento para o outro, em pouco mais de um ano de governo, se veja lançado ao mar de lama dos governos corruptos das oligarquias burguesas em nosso país. Mas, o que se poderia esperar de um governo que tergiversa descaradamente sobre seu caráter político? Promete que vai mudar tudo, mas na prática não vai além do continuísmo deslavado da política econômica reacionária das oligarquias no país, levada a cabo de forma desavergonhada pelos seus antecessores, especialmente pelo sr. Fernando Henrique Cardoso: o neoliberalismo. E se não consegue mudar o mínimo, que é a política econômica, como poderia mudar o máximo, isto é, as bases estruturais em que repousa o sistema capitalista no país? Como acabar com a concentração do capital, nas mãos de um punhado de oligarcas regionais e do capital financeiro, jogando milhões no desemprego, miséria, fome, analfabetismo, prostituição e mortes violentas? Como acabar com o latifúndio, a dependência do capital financeiro, da tecnologia dos imperialistas de todas as laias, especialmente dos EUA? Eis o porquê o governo Lula, em sua farsa “revolucionária”, não terá muito mais que apresentar senão os escândalos de corrupção e as campanhas populistas e ilusionistas como “Fome Zero”, “bolsa-família”, ou seja, aquela política clientelista que vicia a cidadania ao concurso da mendicância e do curral eleitoral; o que significa absolutamente nada em termos revolucionários para a política da América Latina e cujo desfecho todos já sabemos qual é: Getúlio Vargas e Perón foram expressões legítimas desta política.
Os dias que se seguem à quarta-feira de cinzas, na tradição cristã no Brasil, são dias de quaresma, ou seja, dias em que os cristãos espiam os pecados da carne vividos durante a folia do carnaval, até a sexta-feira santa. Embora o governo Lula contenha representantes da esquerda reformista e auto-intitulados “comunistas” (ministro da “articulação política” Aldo Rebelo, do PCdoB, e outros), na verdade conta com este clima de absolvição geral dos pecados para amortecer o impacto destes escândalos sobre seu governo. Lula, ao estilo Jânio Quadros, foi radical, com uma canetada jogou os bingos, em todo o país, na clandestinidade, mandou caçar todos os caça-níqueis, provocando a ira dos viciados da terceira idade e o desemprego de alguns milhares de brasileiros obrigados a sobreviverem neste limiar da legalidade e ilegalidade das atividades capitalistas no país. Paralelamente a isto, a oposição neoliberal ortodoxa (PFL) e a heterodoxa (PSDB) avançam junto à opinião pública, crescendo os olhos diante da oportuna (ou plantada) situação de desgaste do governo PT, PL, PTB, PMDB, PSB, PCdoB, PCB e outros penduricalhos. No governo, Lula dá uma de FHC e cai fora, vai para a Venezuela, o vice-presidente José Alencar vai para a mesa de operação extrair a vesícula e resolve ficar por lá para não assumir a Presidência, e o penico passa para as mãos do presidente do Congresso, o deputado João Paulo Cunha, que compara sua presença no exercício interino da Presidência da República ao exercício e discrição do cristão na quaresma.
Assim, inicia definitivamente este ano de 2004, ano em que o processo eleitoral para prefeitos e vereadores está na base da movimentação da conjuntura política nacional. Pelo correr da carruagem, será um período emocionante, o governo tentando apresentar serviço e a oposição das oligarquias regionais a disseminar os boatos e factóides contra o primeiro. Enquanto isto, os fatos vão revelando o antro em que está metido o governo petista: o PIB em 2003 fechou, definitivamente, em - 0,2%, em relação a 2002. O acordo com o FMI continua dirigindo o orçamento federal, através do superávit primário para pagar os juros da dívida externa; a especulação com a dívida pública cresce com a valorização dos títulos e as operações de resgate da mesma pelo Banco Central; os banqueiros viram seus lucros aumentarem em cerca de 19% em 2003; a renda dos trabalhadores caiu cerca de 4,5%; o desemprego chegou a aproximadamente 12 milhões; a violência, a corrupção e tudo mais que caracteriza a existência de um país cujo povo é explorado e oprimido, duplamente, pelo imperialismo e as oligarquias locais. Nestes termos, o problema de fundo que vai emergindo e, em breve, atordoará a todos é: como o povo brasileiro encarará o governo Lula, se como Jean-Bertrand Aristide no Haiti, ou como Jânio Quadros no Brasil? Sabe-se, de antemão, que o governo Lula não é nem um e nem outro exemplo, contudo, não se pode negar-lhes um traço comum: a falsidade ideológica, ou em termo popular, a farsa. Enquanto isto, como se pode sugerir da vitória da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis (município da Baixada Fluminense) que tem como “patrono” o bicheiro Abraão David; a consciência antiimperialista avança, senão como luta aberta, pelo menos como reflexo contraditório na consciência dos carnavalescos, sambistas e compositores desta comunidade.
Portanto, abre-se o problema principal que nem mesmo o carnaval ou a quaresma, ou ainda a farsa ideológica pode ocultar ou obscurecer na consciência nacional e das massas. É verdade que isto pode levar algum tempo, mas diante da própria tecnologia e da experiência das massas não tardará acontecer este momento de consciência e ação de nosso povo. Do governo Lula, quem sabe, a história nos premiará com quadros que rompam com a farsa e assumam a luta pela revolução de verdade? Quanto mais o povo avançar na consciência e na sua mudança de atitude para com o governo, as oligarquias e o imperialismo, mais teremos força para avançar rumo à luta decisiva. Nós do Partido Comunista Marxista-Leninista, PCML, não temos dúvidas a este respeito, e lutamos junto ao povo para que esta consciência da revolução amadureça o mais rápido possível. Já sabemos “que a ambição cruzou o mar/ trazida pelo invasor”; que a “Amazônia é nosso Eldorado” e que continua sob cobiça do imperialismo. Mas, é preciso se conscientizar também que além da “ambição cruzar o mar” ela se implantou no país e criou um sistema de desigualdade e opressão do qual somos vítimas até hoje: o sistema capitalista. E enquanto não nos livrarmos dele seremos meros joguetes exterminados a cada dia como os incas, maias, astecas e africanos. Portanto, aos brasileiros cabem só uma saída: a luta por abolir o sistema sócio-econômico dos imperialistas, a luta pela revolução comunista.
Só o comunismo nos libertará verdadeiramente do sistema de exploração e opressão em nosso país e libertará nosso povo e o protegerá do genocídio neoliberal!
Abaixo o capitalismo e o imperialismo!
Abaixo o governo de farsa!
Viva a revolução comunista no Brasil!
Viva o Partido Comunista Marxista-Leninista!
Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2004
P. I. Bvilla/Pelo OC do PCML