O Show de Lula - a farsa

 

Enquanto o presidente Lula fala em espetáculo do crescimento econômico, alavancado pelas inevitáveis reformas tributária, da previdência, etc... Tudo isso alicerçado no princípio de livre mercado, com maior desregulamentação, flexibilidade (Nós ouvimos isto há mais de oito anos). O relatório do PNUD- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento que nos últimos 27 anos calcula o IDH- Índice de Desenvolvimento Humano e permite-nos uma curiosa análise da realidade nacional, onde índice de desenvolvimento não significa crescimento econômico e muito menos fim da pobreza e da fome.

Para os otimistas que comemoram a subida de quatro posições do Brasil (de 69 para 65) no mais recente ranking divulgado pelo programa (devido a mudanças na metodologia) e que somam mais de quinze posições, desde o início da classificação, vale lembrar que os avanços efetivos observados nesse índice estão relacionados à dimensão Saúde (queda da mortalidade infantil devido o aumento da expectativa de vida, relacionadas com a urbanização) e à dimensão Educação (matrículas em massa, baseadas no acesso à merenda e desconsiderando a qualidade do aprendizado, com a aprovação automática). Como se pode observar entre parênteses, alguns desses quesitos foram conquistados com um pouco de “trapaça”. Mas, em que pese tudo isso, não deixa de ser um avanço.

O problema é que o atual governo, assim como o anterior, atrelou a possibilidade de um maior (e imprescindível) avanço na área social ao crescimento econômico, sob um mercado globalizado. Se nós analisarmos a terceira dimensão do IDH, a Renda, perceberemos estarrecidos que enquanto a média de crescimento dos países ditos em desenvolvimento nos últimos 27 anos chegou a 2,3% ao ano, a dos países desenvolvidos a 2,1%, o Brasil não passou de 0,8%. Se atentarmos para os últimos 8 anos, esse valor torna-se ainda menos expressivo. Pergunta-se então: Haverá má fé no discurso de avanço social e “espetáculo do crescimento”?

O presidente da República parece responder à situação econômica, social e política do país com intervenções num quadro que está se desmoronando e é grande a expectativa por parte da população que esperou tanto. A revolução industrial aqui no Brasil, realizada nos anos 30, estabelece a ascensão da classe operária, que tem sido podada desde então, seja no Estado Novo e mais uma vez em 64, quando a ditadura militar freiou por mais de 30 anos, a subida da classe trabalhadora ao poder. Com a abertura política, no fim da ditadura militar, e a redemocratização do Brasil através das lutas democráticas, Lula é eleito presidente da República e volta a pedir paciência aos trabalhadores, mas não dá para esperar mais. Há uma urgência em atender às demandas reprimidas que, ou se realizam ou se frustam - é este o tempo político para se atender às esperanças do povo. Lula é eleito para este fim, mas quando sobe as rampas do Planalto, o que faz diante de toda essa expectativa? Procura “direitinho”, como um operário padrão, atender às necessidades dos patrões, ontem na fábrica, hoje como presidente da República. E olha que as demandas do patronato não são poucas, eles também se viram “frustados”, “apoquentados”, com a alta nas taxas de juros, com as falências, e ainda terem que cumprir as leis trabalhistas, tirando-lhes ainda mais os lucros. Então, atiraram primeiro, fizeram como o Sharon, lá na Palestina, que primeiro ataca os palestinos e estes é que tem que se defender e são acusados de evitar que a paz se instale. Aqui, os patrões atacam os parcos direitos trabalhistas da massa de trabalhadores, perseguem os servidores públicos, entre outros, e estes ainda são acusados de sabotarem o grande espetáculo do desenvolvimento do país, o seu salto rumo às estrelas do Primeiro Mundo, ou quem sabe da terceira via de Tony Blair.

Em termos econômicos, o Brasil de Lula não se voltou para as demandas internas do povo mas para a velha lógica da divisão internacional do trabalho seguindo a geopolítica de subordinação ao capital financeiro, vinculado à dependência aos países ricos, o que tirou os objetivos internos para vincular ao contexto da globalização. O país está diante desta contradição. O sucesso do show é fazer uma agricultura de Primeiro Mundo, em contrapartida à fome que se agudiza em milhões de brasileiros. É ter um superávit recorde enquanto as obras sociais são reprimidas, milhões vagam pelas ruas no desemprego e falta de moradia, muitos caem nas calçadas, ingressam no exército do lúpemproletariado, e dá-lhe polícia de “inteligência” a la “Garotinho” e penitenciárias de segurança máxima para “depositar” todo mundo. Nas negociações com o Mercosul a inequívoca intenção de negociar com a Alca e não para tornar a região independente. Não há uma tentativa séria sequer de lutar pelo controle soberano das decisões internas, perdido principalmente com as privatizações das principais estatais do país após os oito anos de governo francamente neoliberal, do agora opositor, FHC.

Em vez disso, Lula freia a revolta dos setores que mais se identificaram com ele durante toda a sua trajetória rumo ao governo e acena com, diga-se de passagem, parcas medidas paliativas em forma de cotas para minorias, faz jogo de cena com o MST, fome zero, o primeiro emprego, e outras promessas. Todo esse espetáculo enquanto o ensino público continua sendo sucateado e os professores surrados moralmente, antes com o FH, agora com o Lula. Enquanto os latifundiários continuam fazendo o que sempre fizeram, armando-se até os dentes para fazerem novas chacinas de Eldorado dos Carajás, de Corumbiara... e continuarem a matança de trabalhadores rurais. O desemprego campeia alcançando patamares cada vez maiores. E de concreto, nada que justifique e mereça os 53 milhões de votos das urnas, a saber, dos trabalhadores do setor privado, do setor público, de desempregados, estudantes e camponeses.

O que se vê é um espetáculo para a burguesia internacional e a estrela é o “Lula-lá”, seja com o patrão-mor George W. Bush, com Tony Blair, mais conhecido como o cãozinho de Bush; em Portugal, onde levou uma reprimenda daquelas, ou na Espanha onde posou com a família real. Que coisa, hein! - a união da ‘classe trabalhadora’ e da realeza - e lá estava o ator principal Luís Inácio Lula da Silva sorrindo ao lado de sua senhora. Neste show, que nada tem de fantástico e que lembra com mais propriedade a película “Show de Truman”, de Peter Weir, em que o personagem principal, uma criança rejeitada nasce e é criada durante toda a sua vida diante das câmeras de um megashow de tevê assistido por milhões de telespectadores e lá, tendo uma relação verdadeira com uma realidade falsa que só ele não sabe, cria seus laços sociais: estuda, trabalha, casa, tem os amigos, tudo como deveria ser; até que alguém o chama à realidade e ele passa a desconfiar de sua vida, mas mesmo assim continua sua rotina até que uma câmera quase cai em sua cabeça, e, tudo que lhe é normal até então, passa a não ser tanto assim. Descobre ter vivido em toda a sua existência num grande estúdio e seus amigos, meros atores; suas emoções, manipuladas. Então, descoberta a farsa, toma uma atitude que não é simples: abandonar o show da vida e se arriscar a viver a dura e verdadeira realidade como qualquer mortal ou permanecer no mundo do faz-de-conta, onde tudo age em resposta às suas ações. Ele sai. É o fim da ficção. Em nossa realidade, salvo as devidas proporções, o que fará Lula? A dica de que ele está vivendo uma ficção vem de milhões e milhões de trabalhadores, a câmera em sua cabeça são: as vaias, os protestos, a greve, a miséria de nosso povo. Até quando ele fará de conta que está vivendo a história de mais um presidente da República fantoche; será que já “caiu” sua ficha? Será que já entende qual o seu papel histórico, mesmo nos limites intrínsecos da social-democracia? Por que não sai da ficção o ex-operário metalúrgico, o sindicalista de multidões, o candidato das esquerdas? Por que se compraz como o pavão FHC, em banquetear-se com a burguesia que oprime nações inteiras?

Abaixo o show de Lula!

Por uma visão crítica da realidade através do estudo do marxismo-leninismo!

Viva a Revolução!

Todos à organização do II Congresso do Partido Comunista Marxista-Leninista!

Rio de Janeiro, 17 de julho de 2003 Redação do OC do PCML