De volta à Crise, Que Fazer?
Passado o impacto da vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo, e a conquista do Pentacampeonato, o Brasil retorna à sua rotina e com ela a crise em que o país está mergulhado. Embora este cotidiano de desgraça seja engolido pelas massas trabalhadoras e exploradas, como algo tipo “feijão com arroz do dia-a-dia”, na verdade, já há alguns anos as coisas parecem ter mudado de sentido rapidamente. O noticiário da imprensa burguesa, que acentua com todos os tons e cores a violência nos grandes centros urbanos, principalmente do que chamam de “Poder Paralelo”, o narcotráfico, em si expressam bem esta nova realidade. O quadro de violência que se instaurou na sociedade brasileira mostra bem os limites do “Homem Cordial”, de Sérgio Buarque de Hollanda (in Raízes do Brasil), arquétipo de uma realidade histórica, onde o sentimento (o desterro e a orfandade) se impôs sobre o pragmatismo e formalidades nas relações sociais.
A crise que se apresenta na incapacidade das oligarquias brasileiras saírem da endemia da “subacumulação” sem cair na epidemia da “sobreacumulação” ou em inflação galopante, na verdade, encontra sua explicação fundamental no modo de produção social vigente no país. Dilemas de uma sociedade cujo modo de produção capitalista se desenvolveu a partir da herança colonial (monopólio da terra e dependência da metrópole), como capitalismo dependente, chegando à condição subimperialista. Entenda aqui como subimperialismo o sistema econômico capitalista que atinge o estágio monopolista, ou seja, a fase imperialista, através da associação do capital nacional com o capital financeiro internacional; logo, sem autonomia financeira, tecnológica e mercados, já monopolizados pelos países imperialistas. Esta condição impulsiona toda a lógica de acumulação interna para o superlucro através do rebaixamento dos salários reais dos trabalhadores constituindo um cenário de monopólio e miséria impossível de conviver, seja nos ciclos do capital produtivo (industrial), seja nos ciclos do capital monetário (financeiro). Aqui, a parceria é uma escravidão permanente e só pela “cordialidade de nossas oligarquias”, isto é, sua covardia, se explica o cenário de violência e barbárie que se impõe ao país e seu povo.
Naturalmente, alguns se perguntarão se isto não é um convite lógico a uma guerra por mercados, que se esboça em termos comerciais já nas disputas entre o Mercosul (Brasil) e a Alca (EUA). A resposta, neste caso, é: negativo. Em momento algum existe este pensamento como resultado inexorável das contradições presentes na economia nacional, embora seja uma relação lógica a idéia de que as crises decorrentes da Lei Geral da Acumulação, que no Brasil se exacerba face ao nosso desenvolvimento histórico, aponta para a corrida imperialista de conquista de novos mercados e exploração mais intensiva dos já explorados. Foi assim que o velho continente europeu saiu de suas “crises revolucionárias” no final do século XIX (Inglaterra e França), e o capitalismo tardio na “Alemanha, Itália, Japão, Rússia e EUA”, no início do século XX. É importante relembrar a importância da doutrina Monroe para a expansão imperialista dos EUA: “A América para os americanos”. Claro que há os que se limitam nestas idéias de conquista de mercados para o Brasil às fronteiras nacionais, ou seja, a soberania econômica do país frente ao imperialismo e até mesmo sua “inserção soberana na Globalização”. Mas, convenhamos, isto é hipocrisia, pois quem tem soberania interna no mundo atual isto quer dizer soberania também para dominar e monopolizar mercados; no estágio de monopólio não existe uma coisa sem a outra.
Mas, a raíz das considerações ou deduções que se possam fazer da evolução de um sistema social, determinado por contradições intrínsecas, à expansão imperialista, é importante notar que tal plano se confrontará com outros pré-existentes, não só de expansão imperial, como é o caso da nova corrida neocolonial promovida pelos EUA (ALCA), UE e Tigres; mas, sobretudo, preservação do domínio e hegemonia mundial, como é o caso muito visível dos EUA e seu “Escudo Antimíssil” e o plano de uma aliança militar da UE independente da OTAN. Quem não veja esta relação entre economia e guerra, não entende porque a hegemonia em política é algo de fato e não potencial. E este segredo da vida prática, não se pode negligenciar quando se trata de poder. E esta realidade é cada vez mais crucial para planos de soberania nacional, quanto mais os sintomas da crise geral do capital se fazem sentir nos grandes centros imperialistas, como tem se apresentado ultimamente nos EUA. O escândalo financeiro, envolvendo a contabilidade das grandes corporações monopolistas americanas, como Eron, WorldCom, Xerox, Merck, etc., não somente abalam a confiança dos investidores internacionais (cenário de ampla especulação nas bolsas de valores), mas a confiança no capitalismo, posto que o PIB americano não é mais que o resultado desta contabilidade (dizem as más línguas que o crescimento econômico dos anos 90 dos EUA está baseado neste tipo de fraude contábil, se for assim então a economia mundial está muito mal).
E, nestas circunstâncias, o que se pode esperar em termos de entendimento, negociação ou tolerância em um mundo como este? Qual o espaço para um crescimento econômico soberano? Como escapar da crise nacional sem cair na crise mundial do capital? Estas são perguntas que desafiam o pensamento humano em todas as partes onde o modo de produção capitalista se instaurou como modo social de produção e vida e as políticas neoliberais penetraram até a raiz da vida cultural criando novas práticas rituais e comportamentos sociais. Na África, a vida vegeta entre a opressão e miséria neocolonial e repouso nas epidemias de HIV, Ebola, Fome e Guerra. A recente Conferência da ONU sobre HIV, realizada na Espanha, turvou as perspectivas econômicas de desenvolvimento da Nova União Africana. Com base nos relatórios da epidemia do HIV na África, a expectativa de vida para 2010 regrediria aos fins do século XIX: em Botsuana, seria de 27 anos; em Suazilância, 33 anos; e na Namíbia, 34 anos. 20 milhões de crianças ficarão órfãs (eis um fato que combina denúncia social e exploração imperialista). Aqui a realidade de miséria e iniqüidade fundada pelo imperialismo se volta contra os próprios africanos quando sonham com soberania e desenvolvimento. É como nosso informalismo, corrupção e autocracia endêmica, que sempre são assacadas contra nós brasileiros quando tentamos ir mais longe, mesmo dentro das regras do jogo dos imperialistas. Quem não se lembra da máxima de Charles De Gaulle contra nós: “Este país não é um país sério”.
Assim, de volta à crise, a nós brasileiros cabe responder a seguinte questão: como superar esta crise, se a sobrevida no sistema implica expansão imperialista ou permanente submissão até a africanização? Esta resposta inelutavelmente nos coloca diante de um fato: só a revolução socialista, ou seja, a mudança de todas as expectativas de desenvolvimento social, modo de produção e de vida, pode nos libertar desta escravidão cultural. Vejam o caso de Cuba, aqui tão próximo de nós, quem não inveja a coragem e determinação daquele povo? Quem de nós, brasileiros, não sente orgulho em ver um povo moldado para ser um homem, não digo “cordial” mas “serviçal”, se levantar, romper os grilhões da escravidão e submissão, alçando-se soberanamente no mundo? Quem de nós brasileiros, que travamos a luta incondicional contra este sistema podre em nosso país, não gostaria de ver justiça, igualdade e liberdade real? Assim, a resposta à questão suscitada se responde de uma única forma: luta pela Revolução Socialista. Quanto às saídas colocadas pelo sistema e que se expressam no processo eleitoral brasileiro, a questão é: quem dentro da lógica do sistema é capaz de favorecer ou não a maturação das condições subjetivas para a revolução? Os que defendem a inserção subordinada do Brasil no processo de Globalização neoliberal do imperialismo, ou os que se iludem quanto à natureza de nossa crise e pensam em soberania dentro do processo de Globalização como saída? O que provocará mais acirramento e conflito entre o pensamento e ação, entre subjetividade e objetividade na sociedade? Eis um caminho para avançarmos nesta conjuntura, no sentido da Revolução.
Se a inteligência estivesse a serviço da mediocridade, rapidamente, se trocariam as palavras de ordem de: “Viva a Revolução Social” para “viva a revolução nos presídios públicos”! Mas, felizmente, isto não é assim, e parece uma lei da história a idéia de que não se pode reduzir os homens à barbárie e ao animalesco, pois, ao contrário de um zoológico, ter-se-ia “a revolução dos bichos”. Tenho certeza que George Orwell não pensou assim, embora seu clássico sustente o mesmo tema!
Viva a Revolução Proletária!
Viva os 90 anos de nosso camarada Zola Florenzano!
Viva os 90 anos de nosso camarada João Batista!
Viva o Partido Comunista Marxista-Leninista!
Rio Janeiro, 16 de julho de 2002. P. I. BvillaP/ OC do PCML