Sob a cortina de fumaça do Antraz
Alguém disse certa vez que: “em uma guerra a primeira vítima é a verdade”. E disse com razão pois, a nenhum dos lados em conflito interessa a verdade sobre todos os fatos, elucidar todos os episódios ou revelar todas as atrocidades, que são inevitáveis no processo. “A guerra é a política por outros meios, precisamente, a violência”, disse Lênin, e devemos insistir nisso porque a violência, em si, é atroz. Mas, independente até mesmo da atrocidade da guerra, em dadas circunstâncias, ela poderá desempenhar um papel revolucionário na história, visto que poderia significar o único meio de livrar a humanidade do genocídio ou extermínio total; ou ainda, da submissão a um regime de opressão, exploração e miséria – como o capitalismo. A entrada da URSS na II Guerra Mundial, contra o nazi-fascismo e a guerra civil durante a revolução russa de 1917, são exemplos disso. Neste sentido, entre a definição de uma sentença geral sobre a conduta humana e a ocultação da verdade por uma de suas partes, classes sociais ou grupos em conflitos, em uma situação “sui generis”, existirá sempre na sociedade burguesa a luta de classes a influir nos formadores de opinião (particularmente, os meios de comunicações), em conseqüência a responsabilidade destes na formação da consciência social. Se apesar da ciência uns a deformam por estratégia, outros por servilismo e outros mais por credo ou leis de mercado, a questão fundamental é saber que na sociedade de classes, a verdade é tão prisioneira desta condição humana quanto Prometeu aos rochedos, pelas correntes de Hefaísto. Como disse Marx: “a primeira condição para uma imprensa livre é que ela não seja uma indústria”.
Um exemplo atual deste fato, encontra-se vivamente nas notícias, análises e comentários, que fervilham sobre a Guerra dos EUA e Inglaterra contra o Afeganistão, nos meios de comunicações capitalistas e imperialistas. Por que será que esta mídia nazi-fascista esconde, despudoradamente, o caráter imperialista da guerra? Por que esconde que a guerra atenta contra a soberania e autodeterminação do povo afegão? Ou ainda, por que omite que a guerra vai além do sentimento de vingança “coletivo” dos EUA, contra a organização “Al Qaeda” de Osama Bin Laden e os Talibãs, para atingir objetivos inconfessáveis? Por todos os lados que se veja a questão, salta-nos às vistas a ocultação da verdade, por parte da mídia nazi-fascista. Ora, a clara participação da Inglaterra na guerra e o papel ridículo do seu Primeiro Ministro “trabalhista”, Toni Blair, não denunciam a presença das Sete Irmãs do Petróleo (Esso, Shell, Texaco, Mobil, Graxxo, Standard Oil, British Petroleum) por trás das coisas, impondo um curso à guerra para enfraquecer a OPEP e aumentar seu controle sobre as reservas de petróleo na região. Por isso, descaradamente, tentam aliciar a “Autoridade Palestina” e outros povos e países para isolar o Afeganistão e condená-lo ao genocídio e à pilhagem geral. Assim, partindo-se destes fatos para analisar o problema da verdade nesta guerra, chega-se a um outro fato: o de que uma verdade banal pode encobrir outra mais importante e fundamental, como por exemplo, reduzir o objetivo da guerra contra o Afeganistão a verdade simplória de que “foi o atentado contra o WTC e ao Pentágono, que fez os EUA declararem guerra contra o Afeganistão”; é claro que isto contou, talvez como a gota d’água, mas não determinou.
Pode parecer pura imaginação, mas para além da opressão e exploração imperialista ao Afeganistão ou mera vingança, a guerra possui um objetivo estratégico muito mais efetivo para os EUA e o ocidente: o controle das armas nucleares na região, para manter a hegemonia mundial. O Paquistão, recentemente criou sua bomba nuclear, na corrida armamentista contra a Índia. E sua aliança com o Afeganistão criou uma nova variável na região, pois poderia fornecer uma espada nuclear aos soldados do Islã em sua Jihad contra o Ocidente, um elemento estratégico decisivo que faltou ao Iraque durante as duas guerras no Golfo. Este fato, desequilibrou totalmente o sistema de controle do poder nuclear sobre toda a região, que até então repousava, por um lado, em Israel (controlado pelos EUA) e, por outro, na Índia (controlado pela Rússia). A bomba nuclear do Paquistão, trouxe para a região a influência decisiva da China, que é a principal aliada do regime de Salamabad e, recentemente, surpreendeu o mundo com o seu crescimento econômico; seu PIB ultrapassou a casa do trilhão de dólares e numa economia mundial que decresce de 4% para 2% o PIB, seu crescimento será de 8%. Imaginem os países da OPEP com o poder nuclear e aliados à China?
Certamente, as conversações sobre os preços do petróleo se tornariam ainda mais difíceis, o cartel das sete irmãs entrariam em bancarrota; a economia dos EUA e Inglaterra que são totalmente vulneráveis se tornariam reféns da OPEP ou da Rússia; a depressão seria inexorável, com ela, o caos na economia mundial: ou o capitalismo mudaria o seu sistema, passando a hegemonia do Ocidente para o Oriente, ou a humanidade travaria a sua Jihad final. E por isso, as alianças estratégicas, em termos mundiais, saiu do eixo que até ontem repousava nos EUA, França e China, guinando para EUA, França e Rússia.
O jogo é duro e qualquer surpresa sobre o malfadado Acordo de Defesa Global, “Escudo antimíssil”, só poderá vir desta tríade (EUA, França e Rússia), isolando ou diminuindo o poder da China. A construção da “Estação Espacial Internacional” e agora a subida da Astronauta Francesa, com os russos, são elementos sintomáticos desta nova realidade. Não há a menor possibilidade de um “Escudo Antimíssil” sem a “Estação Espacial Internacional”, de onde se monitorará tudo que aconteça na terra. A cúpula da APEC – Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico – mais que demonstrar esta tese sobre a emergência da China na luta pela hegemonia mundial, mostrou que a linha estratégica, neste momento, está muito mais em prosseguir o desenvolvimento de sua economia e unidade territorial e política. Ela, mais que qualquer outro país, sob cerco de todos os lados, sabe que transformar seu apoio ao Paquistão em espada nuclear do Islã contra o Ocidente capitalista, é menos importante que reconquistar inteiramente sua unidade territorial com a reintegração de Taiwan, e menos ainda, que instituir mecanismos de transferência de renda e tecnologia para eliminar os bolsões de pobreza e miséria que ainda subsistem no país, criando as bases materiais concretas para que seu socialismo se transforme num patamar superior do produzir e viver humanos. Naturalmente se, por um lado, elimina contradições internas e acumula forças, por outro, isto não se faz sem quebrar alianças políticas com o “mundo islâmico”. Neste aspecto, o problema fundamental é saber se a seqüência lógica dos movimentos e eventos que se efetuarão, ajudará ou não a humanidade a frear a aventura nuclear do imperialismo e do socialchovinismo russo.
Deste modo, o que está em jogo, em primeiro lugar, nesta guerra dos EUA é a hegemonia do poderio nuclear do Paquistão. Somente este domínio permitirá aos EUA manterem o poder sobre o Oriente Médio, através do poder nuclear de Israel, e com isto as condições de controle e exploração das Sete Irmãs do petróleo, inclusive dentro da OPEP. Um “alívio conjuntural” para a economia mundial, que perdurará até o próximo ciclo de depressão. E este será ainda mais complexo, devastador, devido a intensificação da crise geral do modo de produção capitalista. Contudo, tal situação como já afirmamos, freará temporariamente o avanço do “fundamentalismo” islâmico na região, ao passo que no Paquistão, a Ditadura de Mustarfad será mantida a ferro e a fogo, acelerando com isto a consciência do movimento islâmico que, no mundo globalizado e neoliberal do capital, só o poder nuclear poderá garantir a independência e a autodeterminação de um povo.
Fora disso tudo, não passa de um discurso vazio. Quanto ao mais, tudo parece se encaminhar para um quadro em que a China receba Taiwan sem atropelos, além de ser admitida na OMC, como demonstrou a Cúpula da APEC; a Rússia retome posições no Afeganistão, como demonstra o acordo entre Putin e o ex-presidente do Afeganistão e a Liderança do Tadjisquistão. Assim, abre-se o espaço para um possível acordo entre Paquistão e Índia sobre Caxemira, que a exemplo da Palestina, se constituiria em território autônomo, sobre administração dos fundamentalistas do Talibã; já a Palestina avançará para o status de Estado sem soberania e tutelado por Israel.
Finalmente, tudo se inclina para se concretizar o acordo sobre o Escudo Antimíssil, entre EUA, Rússia e França.
É, para quem enunciou uma guerra da civilização contra as trevas, seria um “Happy End” e tanto, heim?
Pelo menos é melhor que se imaginar a humanidade, ou suas partes descartáveis na África, Ásia e América Latina, sendo dizimadas por guerras de extermínio, convencional e bacteriológica, como Ebola, AIDS, Varíola e Antraz. E por falar em Antraz, onde ele fica nesta história? É provável que diante da verdadeira natureza desta guerra, ele seria apenas uma seqüência lógica das relações promíscuas entre a crise econômica e a guerra? Por exemplo: a crise nas bolsas da “nova e velha economia” (Nasdaq e Dow Jones) e o ataque ao World Trade Center e ao Pentágono; ataque, onde apenas 4 dos mais de 6.000 funcionários do Banco Morgan Stanley que ocupa 35 andares no Edifício, foram atingidos (é muita “sorte” ou não é? Parece até que sabiam!). Um ataque com aeronaves de companhias americanas que meses antes exigiam 15 bilhões de dólares ao Governo para saírem do prejuízo, e que logo após o acontecimento receberam a verba (é muita sorte ou não é? Parece até proposital!). É claro que o anúncio da guerra e a mobilização de armamentos e recrutas, demandou investimentos em propaganda – guerra psicológica (os meios de comunicação estão faturando) e na indústria da guerra (química, metalúrgica, nuclear, alimentos, têxtil, etc...). O Congresso Americano liberou mais de 20 bilhões de dólares para a guerra e assim, a crise que marchava, inexoravelmente, para o cataclismo da depressão (como em 1929) viu a possibilidade de tudo não passar de uma extensão dos conflitos dos anos 90 (Guerras no Golfo e Iugoslávia), um movimento de intervenção do Estado na economia para neutralizar a depressão, afinal despejar cerca de 160 toneladas de bombas e mísseis, em apenas 10 dias, não é tão barato. Nesta lógica da crise, chegou a vez da indústria farmacêutica correr atrás do seu prejuízo, como tudo indica pela sua situação crítica nas Bolsas. Com o terror do Antraz, o Governo dos EUA jogará 1 bilhão de dólares nas mãos dos laboratórios (Viva o Antraz – gritam alguns!).
Se tudo isto vai funcionar ou não, isto não se sabe, o que se sabe mesmo é que a conta desta aventura será paga pelos povos explorados e oprimidos do mundo, em particular a classe operária: nós! Se é assim, e se não há meios de lutar contra isso, que fique claro uma coisa: a cortina de fumaça do Antraz não pode esconder que o futuro da humanidade está sendo jogado neste exato momento, pelas grandes potências mundiais: EUA, França, Rússia e China (o conspícuo Conselho de Segurança da ONU); não ver isto é profunda estupidez. O Brasil, que até bem pouco tempo aspirou a protagonizar a história mundial, como potência emergente, como a China, não pode esquecer esta lição: o sistema imune a crise do capital é o socialismo; e a independência e soberania nacional no mundo globalizado do capital, é a tecnologia da bomba nuclear. O resto é conversa fiada.
Abaixo a Guerra Imperialista e assassina!Abaixo o acordão contra os países e povos oprimidos do mundo!Proletários de todos os países: uní-vos!Viva o Partido Comunista Marxista-Leninista do Brasil!
Rio de Janeiro, 23 de outubro de 2001
P.I. Bvilla P/ OC do PC Marxista-Leninista