Um tiro na esperança, um Etna de Esperanças
Parece que a Europa começa a acordar para a tenebrosa realidade em que se converte o mundo pós-desintegração da URSS. A face da fera é horrível e causa terror ao mais corajoso dos homens combatentes anticapitalistas que se conseguiu forjar nestes tempos de reação. Desde Seattle, o desenho desta nova fase na luta de classes internacional foi se configurando como uma das mais violentas das que já viveu a humanidade até aqui em sua história. Agora, após o assassinato brutal do jovem italiano Carlo Giuliani, 23, nos confrontos recentes em Gênova _ o protesto contra a Reunião do G-8 (com os presidentes dos 7 países mais ricos do mundo e mais a Rússia, acompanhados pelos presidentes da EU, o premier belga Verhofstadt, e da Comissão Européia, o italiano Romano Prodi) _, este quadro ficou muito expressivo, e como dizia o brilhante e revolucionário pensador cubano, José Martí, é monstruoso. Mas para a juventude da Europa ocidental e do mundo capitalista central, esta situação é ainda mais dolorosa, pois das entranhas do monstro é difícil se aperceber que papel obtuso é possível desempenhar num contexto como o que se vive desde o último quartel do século XX para este início de século XXI. E é melhor para toda humanidade que seja assim: que cada vez mais os hooligans se transformem em hooligans da luta antiglobalização, antineoliberalismo, antiimperialismo, em síntese, anticapitalismo.
Sem dúvida, o monstruoso assassinato pela polícia nazi-fascista do G-8 (que se grave bem o nome deles: George W. Bush, dos EUA; Jacques Chirrac, França; Gerhard Schröder, Alemanha; Junichiro Koizumi, Japão; Sílvio Berlusconi, Itália; Jean Chrétien, Canadá; Vladimir Putin, Rússia; Tony Blair, Inglaterra) não somente consternou a opinião pública internacional, principalmente a européia, como também a fez se colocar diante de uma inevitável realidade histórica de impasse; como sair do atoleiro da crise geral do capital que se agrava: Fascismo ou Comunismo? E neste contexto em que a juventude do velho continente passa claramente a sustentar uma luta cada vez maior contra o capitalismo, levando tanto os governos sociais-democratas e neoliberais a recorrerem aos métodos fascistas e nazistas de repressão às massas, como ocorreu em Seattle, Gotemburgo e agora Gênova, mais e mais a tendência do velho continente será acompanhar a juventude, se colocando como protagonista de uma nova fase na história da luta de classes, cuja solução será, cedo ou tarde, a revolução comunista.
Claro que se trata de uma ironia da história, daquelas que acontecem porque em nossa luta pela sobrevivência, diante de um mundo capitalista cada vez mais darwinista, nos estreita o horizonte não muito além da ponta do nariz e prisioneiros da árvore nos perdemos no labirinto do bosque. Mas quem reflita um pouco mais, e agora, só um pouquinho mais, notará que com a queda do campo socialista e da ex-URSS, o mundo capitalista que sobreveio se revelou em toda sua soberba. As oligarquias financeiras que, na virada do século XIX para o XX, exatamente há um século atrás, passaram à corrida louca, neocolonial, para monopolizar o capitalismo no mundo, voltaram a cair nos mesmos erros do passado, que levaram à crise econômica mundial de 1929 e às 2 guerras mundiais, onde milhões de seres humanos foram trucidados e barbarizados pelo nazismo e o fascismo.
Quem não vê que as ações da OTAN nos Balcãs são uma clara política imperialista de expansão da União Européia? Quem não percebeu que esta política foi levada a cabo através de rebeliões programadas e comandadas por mercenários a seu serviço? Primeiro, derrubando governos socialistas e comunistas; depois insuflando conflitos étnicos para retalhar o país; em seguida, passando à ocupação militar e à instauração de governos próceres, bem como fazendo retornar antigos aliados, cevados todo este tempo para o serviço sujo contra seus povos _ "Semião quartos"; "Alexander quintos"; etc? Finalmente, quem não vê a farsa de um tribunal feito para condenar e mascarar a vingança mesquinha e o revanchismo barato: genocídios (utilização de urânio empobrecido), assassinatos políticos e a prisão política? Quem não vê que por trás das ações militares da OTAN está, para além da política de expansão imperialista, uma clara vingança das oligarquias do G-8 contra os iugoslavos, soviéticos, poloneses e etc., porque resistiram tanto ao nazi-fascismo como à democracia burguesa capitalista e se uniram para derrotá-los? Quem não vê que o mesmo acontece com os povos do Iraque, Líbia e palestinos?
Mas também não se podia esperar outra coisa da Europa mais que este despertar. Afinal, desde meados do século XX que Marx e Engels vaticinaram esta sentença e todos os teóricos que sucederam a estes primeiros revolucionários científicos nunca deixaram de frisar a condição do assédio à fortaleza opressora como uma realidade histórica advinda da passagem do capitalismo ao imperialismo _ a teoria do elo mais fraco _ e que quanto mais este processo avançasse, de forma permanente, este assédio à fortaleza do capital se tornaria também uma realidade. E o que resulta quando uma cidade ou estado ou ainda país se vê diante de um assédio, ou seja, um bloqueio bem organizado? Se se exaurem com a defesa da cidadela todos os recursos econômicos, então crescerão as contradições, as crises sociais, econômicas e políticas. A vida se torna insuportável _ a economia de guerra torna-se uma necessidade vital. E se não há nem sinal de saída para o cerco, a deserção acontece, o medo e o terror se tornam uma constante na psicologia social e a resistência cai; o moral do exército cai e debanda em atos de vandalismo e terror; a cidadela cai; a nação se rende. Na guerra de posição entre classes sociais somente consegue resistir ao cerco estratégico quem for capaz de revolucionar seus meios de guerra e transformar a resistência ao inimigo em resistência de todo o povo. Só a classe revolucionária teria força moral, imaginação e força material para isso. Mas aos capitalistas, em particular as oligarquias que jamais estiveram na linha de frente do combate, cujos cérebros pesam dois quilos de bacon e só agem como reflexo condicionado para o lucro fácil e a exploração, a morte é inevitável.
Marx e Engels teorizaram sobre a revolução mundial como resultado do desenvolvimento capitalista, devido à sua lei geral da acumulação e do conflito inevitável que ela provocava na esfera econômica, política e ideológica, falaram da insurreição popular como instrumento desta revolução. Mas as oligarquias financeiras impulsionadas pelas rebeliões populares, Comuna de Paris em 1871, o 1o de Maio de 1883 em Chicago, desencadearam a corrida neocolonial, des-concentrando o monopólio financeiro através das exportações de capitais e chamaram o Estado em seu concurso para auxiliá-lo. Estas mudanças atenuaram a lei geral da acumulação e as contradições internas, mas acentuaram as contradições externas, chegando ao quadro de 1929 e das duas guerras mundiais; nos países mais atrasados em termos de relações sociais, como a Rússia, a ameaça proletária passou à realidade concreta e aí na pátria de Lênin, Stalin, Máximo Gorki, a insurreição popular vista por Marx e Engels se tornou uma realidade e o proletariado se tornou poder. Sobre esta nova realidade Mao Tsetung iria teorizar décadas depois sobre "O cerco das cidades pelos campos" em sua "Guerra popular prolongada". Quem leia Lênin de verdade verá que ele extrai esta idéia do artigo "Guerra de Guerrilhas", de Lênin. Desde então, o mundo capitalista que emergiu da II Guerra Mundial, ao tentar fugir ao seu destino natural que o curso do monopólio capitalista impulsiona, sempre acaba diante do impasse do retorno ao fascismo e ao nazismo, diante de cada crise econômica derivada da lei geral da acumulação.
Mas a situação atual parece ter acuado as oligarquias; por um lado porque já não há mais em que se agarrar para sustentar ideologicamente o sistema, já não existe o Campo Socialista do Leste nem a ex-URSS, menos ainda uma conspiração comunista internacional para derrubar o sistema; por outro, a social democracia e os regimes liberais conservadores já não têm como responder às contradições que sobrevieram ao sistema, não pelo assédio dos campos às cidades, ou dos países socialistas da periferia aos centros capitalistas. Não, não há espaço para "Guerras nas Estrelas" e menos ainda para exigir sacrifícios às massas em nome dos "Direitos Humanos" que eles violam, do "Direito dos povos à autodeterminação" que eles violam; e muito menos para embelezar o "mundo virtual", "a nova economia", a "liberdade de mercado", o "neoliberalismo" e o "pós-modernismo". Sobre todo este discurso recaem os crescentes índices de miséria no mundo, as guerras genocidas no Golfo Pérsico e nos Balcãs, o massacre de Sharon aos palestinos, o assassinato de Kabyla, o sangue que embebeda os cárceres da Turquia; o bloqueio desumano a Cuba, a guerra bacteriológica na Colômbia; finalmente na Europa central os conflitos na Irlanda, do povo Basco, na Galícia. Não é difícil perceber que o mundo sem a perspectiva comunista é um mundo impossível de existir. Mesmo um acordo sobre clima, logo para o bem de toda a humanidade, como é o caso do protocolo de Kyoto, é impossível ter consenso.
Assim, o mundo capitalista que sobreveio da queda do campo socialista e da ex-URSS se acercou dele mesmo em sua versão periférica e este cerco produziu um assédio maior que seus inimigos do passado, o próprio capitalismo é o inimigo do capitalismo. É como ocorreu durante a queda do Império Romano, quando ele se fez senhor do mundo já cavava sua cova. O Capitalismo se fez senhor do mundo, mas sua cova já está bem profunda e os coveiros são as próprias forças produtivas que desenvolveu ao se expandir por todas as partes. As massas de jovens de todo mundo que acorrem para o pólo do capital mais que se transformar em primeiro mundo, cada vez mais tornam o primeiro mundo a cara do terceiro, a cara da periferia. E como não seria o espanto de todos que ali viveram até então, a imaginar que a miséria e a fome, a opressão e exploração eram coisa de gente indolente dos países atrasados... Hoje, o desemprego, a miséria, os conflitos, como resultado de toda crise que avança no capitalismo mundial, mais que demonstrar que isto são fenômenos intrínsecos ao sistema, são o resultado social do seu desenvolvimento. Quem vê isto tem medo: a classe média do Rio de Janeiro, São Paulo ou Minas Gerais, ao ver o povo das favelas, bairros populares e cortiços irem às ruas e protestarem. Aqui morre um Carlo Giuliani a cada hora; e outros que nem a honra de morrer como Carlo Giuliani terão: morrer em combate pelo fim do capitalismo. Mas se aqui as expedições punitivas ao povo das favelas, como faz Garotinho neste momento, são forma de popularidade, na Europa dos dias de Fascismo e Nazismo, o tiro do policial que matou Carlo Giuliani se expressa como "um tiro no futuro". Mas assim como não há capitalismo sem crise, não há crise sem saída e nem saída sem futuro. Se a juventude é o futuro do mundo, como já afirmamos em editorial anterior: a juventude do mundo é comunista! Um cai em combate, milhões seguirão lutando! A vitória final será nossa!
Abaixo o G-8 e sua polícia fascista e assassina!
Proletários de todos os Países: Uni-vos!
Rio de Janeiro, 25/07/01
P. I. Bvilla /OC do PCML