Um tribunal de farsas contra a Iugoslávia
Todos que assistiram ao espetáculo promovido pela mídia nazi-fascista contra o ex-presidente da República da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, não podem deixar de se pronunciar contra a farsa de um tribunal de guerra extra-territorial formado não para julgar, mas condenar o líder iugoslavo por aquilo que consideram "crimes de guerra". Todos assistiram às palavras firmes de Milosevic ao considerar o presente tribunal uma farsa e ilegítimo para julgá-lo, visto não se tratar de um tribunal constituído pela Assembléia das Nações Unidas (ONU). Sem dúvida, independente do mérito de culpa ou inocência, o precedente que se criará, do ponto de vista histórico, é uma monstruosidade e um verdadeiro crime, esse sim contra o direito dos povos à sua autodeterminação, ou seja, ao direito primário que fundamenta os demais direitos ora alegados pelo tribunal farsante que pretende julgar Milosevic.
A questão aqui é simples de se compreender. Para isto basta perguntar: é justo julgar um bárbaro por violar princípios da religião cristã? É claro que tal aberração todos compreendem facilmente, a injustiça, pois foi com base nesta concepção hermenêutica do mundo que fez da colonização da América o antro de um genocídio bárbaro contra a humanidade que somente agora todos vêm a público abominar e pedir perdão. Mas este perdão não isenta a responsabilidade das oligarquias da Europa, seu clero e seus exércitos do holocausto de cerca de 10 milhões de almas (africanos e nativos) consumidos pelos parabelos, sabres, punhais, chibatas e tutti quantun dizimadores de vidas que foram empregados na exploração e opressão colonial, somente no Brasil. Se é fácil compreender esta lógica absurda, também é fácil compreender o absurdo da lógica de um tribunal em exigir o respeito aos direitos humanos a um país e um povo a quem ele nega o direito à autodeterminação; pois poderia um país oprimido em sua vontade respeitar a vontade individual de seu povo? Ou poderia um povo privado da liberdade para decidir seus destinos, garantir a liberdade individual para cada um dos seus?
Ora, o Tribunal extraterritorial criado pelo Conselho de Segurança da OTAN, como tal, é um tribunal de guerra e não um fórum imparcial, expressivo da vontade do conjunto das Nações Unidas, como tenta demonstrar a mídia nazi-fascista das oligarquias. Historicamente é um instrumento jurídico e político que foi utilizado pelos impérios coloniais, como Roma, Inglaterra e agora é utilizado pelos EUA. O próprio Conselho de Segurança da ONU é questionado na própria Assembléia das Nações Unidas por ser um instrumento a serviço dos interesses imperiais dos EUA, a exemplo do Conselho dos Direitos Humanos, em que perdeu o assento e hegemonia por sua clara manipulação. Logo, não poderia expressar os interesses da Assembléia. Portanto, como diz Milosevic, é um Tribunal ilegal e ilegítimo, uma farsa para mascarar os crimes da OTAN na guerra contra a Iugoslávia, este sim, um verdadeiro crime contra a humanidade. Pois quem não viu pela TV o bombardeio ao trem de passageiros civis ou ao comboio dos próprios refugiados da guerra ou ainda sobre a TV da Iugoslávia e à Embaixada da China? Digam se foi operação cirúrgica ou erros técnicos, se foi proposital ou efeitos colaterais, ou simplesmente proposital e determinado pelo caráter da guerra "sem riscos para os agressores"? Finalmente, pergunta-se: para que a utilização na munição de urânio enriquecido? Seria isto um instrumento cirúrgico ou instrumento de extermínio massivo de populações inteiras, seria um ato falho ou a repetição de um monstruoso crime de guerra utilizado no Iraque?
Slobodan Milosevic está diante de um tribunal, mas este tribunal não respeita o direito dos povos a sua autodeterminação, já que é um tribunal derivado da Guerra, um tribunal de Guerra, dos vitoriosos (na atual modalidade de guerra reacionária que veio à tona com a queda do campo socialista do Leste e da ex-URSS), na guerra total: econômica, social, política, militar e ideológica. Quem não viu que esta guerra foi uma guerra suja e cuja escatologia teve por base o "Pensamento Único" (forma de expressão na Europa do credo neoliberal)? Ora, era impossível julgar Milosevic pela velha ideologia da guerra-fria, do "comedor de criancinhas" ou do "ditador tirano", pois o líder iugoslavo havia chegado ao governo através de eleições nos moldes da burguesia: "voto universal", "direto e secreto". Contudo, o programa político que levou à sua vitória eleitoral era antípoda a todo o trabalho e objetivo dos imperialistas europeus e norte-americanos na região, desde os remotos tempos de Tito e sua histórica divergência com Stalin. O programa de Milosevic defendia a integridade territorial da Iugoslávia, as conquistas do socialismo no terreno econômico (estatais) e no campo social. O que significava um programa contra o credo neoliberal da invasão de mercado e do capital financeiro _ privatização, desregulamentação e flexibilização da força de trabalho. E é muito mais por este programa que pelo que chamam "crimes de guerras", que Milosevic está sendo julgado.
Mas é bom que se diga em alto e bom som firmemente: não é Milosevic que está sendo julgado, mas sua causa, e esta não é mais que a causa da maioria da população da Iugoslávia, que a imprensa burguesa quer porque quer que seja apenas o que chamam de sérvios, ou seja, redução das contradições sociais e históricas de um país à sua gênese tribal e primária, como se por aí não estivesse toda a ira dos que foram proprietários de meios de produção ou "herdeiros" daqueles, muitos refugiados na Europa, que agora retornam para exigir suas propriedades do passado que foram expropriadas pela revolução socialista naquele país. Quem não compreenda como surgem nos ex-países socialistas os pequenos grupos de mercenários como o tal ELK (Exército de Libertação de Kôsovo) que retomam a velha guerra civil contra-revolucionária, e no caso dos Balcãs, uma guerra mesclada pelo sentimento de vingança nazista e fascista devido à derrota vergonhosa na II Guerra Mundial para o glorioso Exército Vermelho e a Resistência heróica dos Partisans proletários e progressistas, não compreende o risco que corre toda a humanidade ao cair na velha tática burguesa de institucionalização do nazi-fascismo, como é o credo do "pensamento único neoliberal". Cair nesta tática e apoiar este falso tribunal mais que condenar Milosevic é condenar o direito dos povos à sua autodeterminação.
Assim, o atual espetáculo promovido pela mídia nazi-fascista e a Justiça burguesa internacional, que extasia as oligarquias arqui-reacionárias e lava a alma dos monstros e carniceiros nazistas ávidos por vingança, ao mesmo tempo que amputa a humanidade de uma consciência histórica sobre os monstros que teve de vencer no passado, precipita-a num obscuro abismo de negar a si mesma o caráter humano e diverso: econômico, social, político e cultural, em síntese, como sociedades ou formações sócio-econômicas, historicamente determinadas. Se é assim, lembrai-vos do julgamento de Dimitrov pelo tribunal farsante do nazi-fascismo. Lá estava entre seus juízes e carrascos figuras como Goebbels, Goering e etc; e quem poderia imaginar naquele tempo que seus juízes e carrascos se tornariam os réus mais odiados pela humanidade? Dimitrov, firme diante de seus carrascos, jogou por terra todos os argumentos e presunções nazistas. O mundo se abriu em primavera e a voz intrépida do comunista revolucionário e herói de toda humanidade ecoou no coração dos homens, mulheres e revolucionários de todo o mundo. Assim o acusado se tornou acusador e a barbárie nazista foi exposta, crime por crime. E diante disto, como vaticinou "La Pasionara": "Eles não passarão!" e não passaram.
Eis a contradição dos atuais acusadores de Milosevic: os acusadores imperialistas da OTAN podem ser acusados! Os crimes da OTAN e toda a farsa política do tribunal extraterritorial são visíveis, por um lado, porque é um tribunal do "Pensamento Único"; do neoliberalismo e que não reflete o pensamento da Assembléia da ONU; por outro lado porque é um tribunal que condena os que defendem o direito dos povos à autodeterminação e esconde os crimes de guerras e violações dos direitos humanos dos que torturam, chacinam e genocidam milhares e milhões como os Senhores Macnamaras; Henri Kissinger; os Ronald Reagan; Bush; Ariel Sharon; Mobuto Seko; Sukarno; Savimbi; Pinochet; Hugo Banzer; Fujimori; e tutti quantun moçoilos disfarçados de democratas, sociais democratas, inclusive a cúpula da OTAN, como o Sr. Javier Solana. Mas não somente estes assassinos, com eles estão toda a rede de lacaios e imediatos e sobretudo, os senhores do capital que financiam e lucram com tudo isto. Portanto, justamente por este julgamento, Slobodan Milosevic escreverá uma página na história da humanidade, seguindo o exemplo de Dimitrov e Fidel Castro.
"Os fatos e grandes personagens na História não se repetem: é tragédia ou farsa", diz Marx, mas no caso em questão, o que está em jogo não é a repetição de fatos nem grandes personagens na História, mas sobretudo a constituição de um fato e de um grande personagem histórico; pois se julgarmos um homem pelos inimigos que enfrenta, então Milosevic subirá às alturas dos Heróis: hoje de seu povo, mas amanhã, quiçá da humanidade; não por ser um santo, mas justamente por enfrentar com toda fúria de um titã os Santos da OTAN. Foi assim com a maioria dos barbaramente apedrejados do passado. O Brasil é pródigo em exemplos: Sepé Tiaraju; Zumbi dos Palmares; Antônio Conselheiro; Tiradentes; Luiz Carlos Prestes... Enquanto da humanidade brotarem homens deste porte, mesmo em momentos tão obscuros como estes de contra-revolução mundial, não se deve desistir de ser humano, essencialmente humano, comunista revolucionário, como nos ensinou Marx, Engels, Lênin, Stalin e, sobretudo, na América Latina, Ernesto Che Guevara. O mundo a cada dia caminha para constituir um novo Nuremberg; só que desta vez para julgar uma classe social, um regime social; um sistema e modo de produção: o capitalismo e suas políticas de exploração, controle e opressão sobre as massas e povos.
Abaixo a farsa do tribunal extraterritorial da OTAN!
Abaixo os carrascos e juízes neoliberais de Slobodan Milosevic e do povo Iugoslavo!
Abaixo o "Pensamento Único" e prisão para os criminosos da OTAN!
Viva o direito dos povos à autodeterminação!
Viva o Internacionalismo Proletário!
P.I. Bvilla - P/ OC do PCML