Covid-19 e o continente africano
A pandemia da Covid-19 tem marcado a fragilidade do sul global no cenário geopolítico, tanto na dificuldade de acesso aos laboratórios produtores de vacina, como através de governos neoliberais que negam a gravidade do vírus, como o Brasil. O continente africano tem surpreendido positivamente com níveis de contágio e com o número de mortes “baixos”, que apesar da sua precariedade no sistema de saúde e a desigualdade social, os números têm oscilado, demonstrando até uma queda nos últimos dias do mês de março.
O vírus SARS-Cov-2, causador da Covid-19, segundo os dados oficiais da imprensa internacional, o continente africano já está somando mais de 110 mil mortes e ultrapassando os 4 milhões de infectados, sendo atualmente a África do Sul o epicentro da doença, concentrando mais de 50 mil mortes. A maioria dos países tiveram que adotar medidas como fechamento de fronteiras, estabelecimentos como escolas, comércios, serviços públicos, entre outras, para conter o contágio.
Na primeira quinzena de março, várias nações como Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Gana, Costa do Marfim, Nigéria, Gâmbia e República Democrática do Congo receberam as primeiras doses da vacina pela iniciativa COVAX, uma parceria entre a CEPI, Gavi, UNICEF e OMS, enquanto outras nações estão negociando o medicamento para o início da vacinação. Em 25 da março, a ministra de Saúde angolana, Sílvia Lutucuta agradeceu ao gigante asiático pela doação de 200 mil doses do seu laboratório de biotecnologia Sinopharm, sendo o primeiro país lusófono a receber a vacina no continente.
Segundo alguns estudos, o continente africano e a maioria dos países dependentes, se continuarem neste mesmo ritmo de vacinação só concluirá em 2023 ou talvez nem atinjam a vacinação completa da população a tempo da mutação dos vírus. Enquanto isso, países como Canadá e Nova Zelândia compraram doses suficientes para imunizar cinco vezes sua população.
Para muitos cientistas, pesquisadores e estudiosos, as políticas geoestratégicas dos países capitalistas estão sendo denominadas como um “Apartheid das vacinas”, no qual seu objetivo está em segregar o acesso e aprofundar ainda mais a dependência tecnológica dos países pobres aos grandes laboratórios farmacêuticos. Além disso, criando situações desesperadoras numa tentativa de matar sua soberania nacional, através de acordos que colocam em risco seus recursos naturais e bens públicos.
O portal Cubadebate publicou um artigo que deixava claro as intenções de dominação dos países mais ricos na subordinação das nações mais vulneráveis, como por exemplo, o que aconteceu com a Argentina, quando a Pfizer exigia ativos soberanos em troca de fornecimento das doses de vacinas. E foi procurando combater essa perspectiva imperialista que, em outubro de 2020, a África do Sul junto com a Índia e apoiados por mais de 80 países organizaram um movimento para suspensão das patentes, com o objetivo de diminuir a desigualdade na distribuição das vacinas entre as nações e assim imunizar a população mundial e principalmente os países mais pobres o mais rápido possível.
Com a desculpa da propriedade intelectual, os Estados Unidos, a União Europeia e outros países como Japão e Canadá negaram a suspensão das patentes. E hoje, o mundo e principalmente as regiões mais pobres só não entram num completo colapso de submissão e vulnerabilidade pela capacidade científica que países como Rússia, China e Cuba desenvolveram ao longo de seu histórico socialista, no qual foram construídas outras concepções de saúde, vacina e, essencialmente, outra concepção do modo de vida humana.
Beatriz Morais