O Espanto e o Terror da Guerra
Passada uma semana do início da guerra imperialista dos EUA e Inglaterra contra o Iraque, batizada de "liberdade do Iraque", oficialmente, e "Choque de Espanto e Terror", extra-oficialmente, todas as notícias vindas do front de batalha e ou da reação popular frente ao conflito indicam que se chegou a um momento decisivo neste acontecimento. Não se trata aqui evidentemente do desfecho de toda a tragédia, ou seja, o fim da guerra; que tem servido a inúmeras especulações, tanto acerca do seu prolongamento; como acerca de novo período de pax americana. Na verdade, estamos falando da percepção do mundo dos negócios que patrocinam esta guerra, e das massas (sua grande maioria silenciosa) que servem de base a pesquisas de opinião favoráveis à guerra nos países imperialistas beligerantes ou em conivência com estes, do tempo de duração, e até que ponto este fato influencia no resultado geral ou no desdobramento do conflito. Muitos são os que já estabelecem uma relação entre a batalha que se dará em Bagdá com a batalha que mudou o curso da II Guerra Mundial: Stalingrado (Rússia). Naturalmente, é uma comparação muito oportuna, contudo é necessário levar em conta que a geopolítica sobre a qual se desenrolaram estes confrontos são muito díspares: espaço, solo, atmosfera e população, o que não invalida a consideração como arquétipo para o momento atual.
Para qualquer cidadão comum que acompanha os fatos, é fato também que a correlação de forças entre os dois lados do confronto, EUA e Inglaterra de um lado e Iraque do outro, é indiscutivelmente favorável aos primeiros: as bombas "inteligentes" (Tomahawk, Cruise, Patriot) e a napalm; satélites-espiões, os aviões invisíveis, caças F-16, B52 e não tripulados; os porta-aviões, submarinos, fragatas; os tanques de blindagem indestrutível e canhões que disparam com mira a laser; além de soldados bem remunerados e treinados sob as mais modernas técnicas de combate etc e etc; estão do lado dos EUA e Inglaterra. Enquanto o Iraque dispõe apenas de mísseis, tanques e baterias antiaéreas ultrapassadas, seu exército sequer dispõe de uniformes completos e botas lustradas, como os americanos e ingleses. Portanto, desta relação de forças, onde a superioridade tecnológica é tão comum aos filmes dos Rambos, Chuck Norris, e outros, não há como duvidar da vitória dos EUA e Inglaterra sobre o Iraque. Além disso, considerando o argumento do "mundo livre" sobre a "ditadura sanguinária de Saddam que oprime o povo iraquiano", o processo se inclina ainda mais para uma situação similar àquela ocorrida na Áustria, durante o início da campanha de Hitler na Segunda Guerra Mundial: quando os exércitos nazistas entram na Áustria, o povo estava nas ruas clamando louvor e proferindo odes ao novo Reich. E era nisso que acreditavam os "mercados" e grande parte das massas. O próprio Pentágono demonstra este fato, ao lançar da operação batizada como "The Captures", imaginando que matando Saddam, o povo os saudaria como libertadores.
Mas, a vida é a vida, quer dizer movimento, não imita a arte e nem tão pouco se repete de forma tão vulgar; mesmo com os EUA infiltrando um pequeno exército de 3 mil mercenários iraquianos, treinados na Hungria, para assassinar e espionar as lideranças iraquianas, sua operação "The Capture" não passou de um fiasco: o povo iraquiano não recebeu os americanos e ingleses com flores ou odes, mas com balas e emboscadas. Foi assim que "caindo a ficha" da "estratégia inédita" anunciada por Bush e Rumsfeld, restou o já "velho" recurso do "choque de espanto e terror" ou uma réplica da "tempestade no Deserto": o bombardeio. Mais de 1500 mísseis e bombas foram despejadas sobre o Iraque, sobre alvos dirigidos e indiscriminados, matando centenas de civis e mutilando milhares; destruindo escolas, hospitais, residências e postos de abastecimento entre os "alvos militares". Naturalmente, esta parte da "queimada" da fita é excluída nos filmes de vídeo-game que o Pentágono apresenta à imprensa; afinal para eles são "efeitos colaterais". Entretanto, o mais surpreendente nesta guerra é a invasão por terra da "7ª Cavalaria" (aqui um clara alusão ao espírito do general Custer - aquele assassino de índios que foi vergonhosamente derrotado e morto na batalha de Lintel Bigorna, pelos Sioux) copiando acintosamente a formação da Blitzkrieg (Guerra Relâmpago) nazista. Eis o que se pode concluir da estratégia inédita! do Pentágono, através das imagens produzidas pela mais moderna tecnologia de comunicação, o "vídeo fone", e que na verdade não se vê nada além de sombras em movimento no deserto.
Diante deste fato, a relação entre a batalha de Bagdá e a batalha de Stalingrado, ou seja, uma batalha dentro da cidade, onde o exército e a população passam a uma só resistência contra o inimigo invasor e agressor, tem motivado a imaginação e a especulação sobre a duração e o resultado desta guerra. Muitos já comparam Saddam a Stalin; o que é uma arbitrariedade sem limites, já que excluindo o bigode não têm mais nada em comum, nem em termos de pensamento sobre o mundo, a sociedade e os homens, muito menos as motivações para o combate. Além disso, as diferenças geográficas são enormes; um deserto de neve não é um deserto de areia; tempestades de neve não são o mesmo que tempestades de areia. A linha de suprimento ou logística do invasor parece não ter sofrido danos até o momento capazes de interromper a alimentação do combate e ainda é fato que a força invasora não necessita dos recursos locais para se manterem em marcha. É claro que o deserto, como as selvas, casos do Vietnã e da Coréia do Norte, são elementos físico-geográficos que interferem na manipulação tecnológica, criando situações imprevistas inclusive nas comunicações. E na medida em que interfere na tecnologia anulando estes recursos, traz o combate mais para um plano convencional e corporal, onde a tecnologia que funciona é a que deriva dos recursos naturais e da cultura local, elevando a capacidade de combate do exército iraquiano frente aos estrangeiros. Por mais treino e preparo que estes últimos possam ter efetuado, aqui funciona aquele dito popular: "treino é treino, jogo é jogo". Mas, mesmo considerando estes fatores, a grande pergunta é: eles seriam capazes de interromper a logística das forças imperialistas de ocupação? Assim, não basta saber que a batalha se dará nas cidades, é necessário saber a base material (estrutura econômica, recursos logísticos) e bases ideológicas que sustentarão a batalha.
Já do outro lado, mesmo que George W. Bush, se comportando como um demiurgo, tenha os mesmos objetivos de Hitler: nova partilha do mundo e implantação de uma nova ordem mundial, e ainda tenha iniciado sua campanha exatamente como fez Hitler ocupando regiões estratégicas no suprimento de matéria-prima para sua guerra, o petróleo e carvão (Afeganistão e Iraque equivalem a Alsácia e Lorena); há uma grande discrepância nas condições históricas em que se dão os conflitos e no papel que cada uma destas "conquistas" americanas desempenham em sua estratégia geral. Pois, ao contrário da Alemanha, quem reclama uma nova partilha do mundo não é um país derrotado na I guerra mundial e humilhado perante o mundo, mas um país que até o momento não conhece a derrota em uma guerra mundial e nem nas guerras localizadas, mesmo diante das derrotas na Coréia do Norte e no Vietnã; pelo contrário, ele proclama uma grande vitória na guerra-fria com a URSS e o campo socialista. Eis aqui um aspecto muito importante para se considerar o custo-benefício da guerra atual e talvez uma de suas grandes motivações: exigir a parte do bolo que a Europa, com a Unificação e constituição do Euro, gulosamente e espertamente avançou e se assenhoreou - países ex-socialistas e suas ex-áreas de influência. Eis aqui outra explicação quem sabe para o que se chama unilateralismo dos EUA diante dos outros países e da própria ONU. Uma explicação para a divisão e hostilidades entre Europa, em especial França, Alemanha e Rússia e os EUA. Eis porque também a coalizão entre EUA e Inglaterra tende a se deteriorar, já que a Inglaterra começa a perceber que o resultado da partilha do Iraque não lhe contemplará muito, mesmo tendo puxado o saco e bajulado os americanos todo este tempo.
Portanto, de todo o processo se pode concluir que se Bagdá não é Stalingrado e Saddam Hussein não é Stalin, o resultado desta guerra não mudará o curso da campanha dos EUA no mundo; isto não significa dizer que esta guerra já seja definida nesta primeira grande batalha; afinal na estratégia de resistência da URSS, comandada por Stalin, a batalha de Stalingrado foi prefaciada pela batalha de Moscou. Contudo, se não se pode comparar estes acontecimentos, não se pode dizer o mesmo do tempo de duração de guerra de resistência nas condições de guerra de todo povo em termos urbanos. Desta batalha, cada palmo conquistado pelos EUA cobrará um alto preço em vidas humanas, desgaste político e custos econômicos para o lado invasor; enquanto que para o lado que resiste, nada mais se tem a perder; é o que se convencionou chamar desde os tempos de Sun Tzu de situação desesperadora. Nestes termos, considerando todos os fatores técnicos que ajudarão os EUA e Inglaterra, o sítio sobre a cidade etc., não resta dúvida que a guerra será mais prolongada do que esperavam os americanos e britânicos, quiçá a própria União Européia. E neste contexto de incerteza e desgaste, as imagens chocantes continuarão a vazar para o público e tendem a levantar ainda mais as massas em repúdio à guerra; e na medida em que o número de soldados americanos e ingleses mortos em combates e emboscadas aumentem, mais e mais as bases ideológicas dos EUA para a guerra se enfraquecerão.
Portanto, se com base na tecnologia militar é fácil prever a vitória dos EUA e Inglaterra sobre o Iraque, o difícil é saber quando e o quanto vai custar esta vitória, e mais, saber como vão explorar o petróleo do Iraque estando sua população hostil aos invasores e levando a cabo uma guerra de guerrilhas? Aqui tudo isto indica: recolonização e trabalho forçado; e nestes termos Neoliberalismo deveria se chamar mesmo Neonazismo!
Abaixo a Guerra Imperialista!
Abaixo o neoliberalismo genocida!
Pela Paz Mundial e a luta dos povos por sua autodeterminação!
Viva a luta Internacional dos Trabalhadores!
Rio de Janeiro, 28 de Março de 2003
P. I. Bvilla Pelo OC do PCML