Hip-hop: cultura, vida e resistência

Um grito por liberdade, uma esperança de permanecer vivo, ou até mesmo uma busca por autoconhecimento. Assim, muitos jovens definem o Hip-hop. Um movimento artístico, que em sua essência, garante o direito de fala e, principalmente, apresenta novos prismas e perspectivas às pessoas antes marginalizadas pela sociedade capitalista.

Um grito por liberdade, uma esperança de permanecer vivo, ou até mesmo uma busca por autoconhecimento. Assim, muitos jovens definem o Hip-hop. Um movimento artístico, que em sua essência, garante o direito de fala e, principalmente, apresenta novos prismas e perspectivas às pessoas antes marginalizadas pela sociedade capitalista.

Esse movimento surgiu nos subúrbios de Nova Iorque, em meio a diversos conflitos sociais, como: guerra de gangues, drogas e racismo. Nesse contexto, jovens que ansiavam pelo direito à vida decidem se expressar, como forma de deixarem suas marcas em um Mundo no qual se insistia em afirmar que os mesmos não pertenciam àquele lugar.

Desta forma, o Hip-hop nasce constituído por suas quatro vertentes: a dança, a poesia, a música e a pintura. Nessa linha, o movimento sempre retratou a vida de seus indivíduos, por isso temas delicados nunca foram tabus no meio. A violência policial e o crime estão presentes em cada célula do segmento. Logo, se expressar é a forma de resistir.

Com a popularização do movimento, governos elitistas passam a temer esse crescimento e iniciam um trabalho fortemente apoiado pela mídia para criminalizar os adeptos dessa arte. Em todos os momentos, apareciam ataques que os associavam a criminosos. No entanto, a busca dos jovens pela mudança de vida era mais forte.

A expansão do gênero artístico era inevitável, as mudanças sociais alcançadas estimulavam mais jovens a se engajar e aderir à causa. O movimento então ganha o Mundo. O que antes era um projeto de sobrevivência local, agora atravessa oceanos e se instala em muitos países.

Dentro dessa cultura aparece o Rap, com uma mescla jamais vista. A beleza da poesia, somada a revolta do oprimido. O ritmo musical que une duas vertentes do Hip-hop, a música com os poemas e histórias vividas nas ruas. A partir desse momento, se torna visível e inquestionável a mudança social provocada pelo movimento.

Como Karl Marx nos ensinou, a luta de classes é a principal engrenagem de transformações no Mundo. A forma encontrada por jovens negros nas periferias ianques de mostrar o valor de suas vidas, de fato, revolucionou todo o mercado musical. O Rap ultrapassou os números de gêneros renomados como o Rock e o Pop, algo inimaginável antes do movimento Hip-hop, segundo o levantamento da empresa Nielsen Music.

No Brasil, o movimento Hip-hop se assemelha pela proximidade de experiências vividas nas camadas mais baixas da sociedade. Quando analisamos o ambiente no qual os jovens de periferia estão expostos, com a certeza da morte e largados à própria sorte, percebe-se a importância de mostrar sua voz. Pra acentuar todas as questões existentes, os contornos raciais se destacam no país, devido ao fato do Estado brasileiro ser o último país da América Latina a abolir a escravidão.

O movimento, no território brasileiro, teve início no final dos anos 90, em São Paulo. Em seu princípio, as lutas para a sua aceitação foram similares às vividas em terras estadunidenses. Os rótulos utilizados para se referir aos praticantes da arte sempre tinham o viés de associá-los ao tráfico e ao crime.

Todavia, o Hip-hop construía contornos bem distintos, enquanto as críticas surgiam em relação as suas letras, pois, soavam de forma agressiva, os pioneiros no gênero focaram em ampliar as perspectivas dos jovens. Com suas letras ácidas e regadas com críticas sociais, o movimento tocou em feridas que a sociedade se especializou em esconder.

Periferias. vielas, cortiços. Você deve tá pensando o que você tem a ver com isso. Desde o início, por ouro e prata. Olha quem morre, então, veja você quem mata. Recebe o mérito, a farda que pratica o mal. Me ver pobre e preso e morto já é cultural.” – Racionais, 2002.

Um fator preponderante para a expansão do estilo musical foi o amadurecimento das letras. Desde o começo, os debates sobre a vida e os abusos por parte do Estado marcavam presença. Os debates políticos também foram norteadores nessa empreitada, enquanto os governos se empenhavam em destinar guerra aos mais pobres, o Hip-hop se fez presente e se ocupou com a árdua missão de tirar as vendas dos oprimidos.

A luta do movimento Hip-hop se configurou como um projeto de vida para muitos jovens. Pois, a utilização da arte para a compreensão desse meio social em que se está inserido é essencial. O educador Paulo Freire, em suas obras, abordou a importância da experiência do indivíduo no processo educacional, de maneira que ele enxergue em si um agente político capaz de mudar sua realidade.

Portanto, ao analisar o movimento, sob a ótica de Freire, percebe-se a força do meio cultural na formação das pessoas. Vale ressaltar, que não havia nenhum embasamento teórico no fundamento do Hip-hop. Ainda assim, foi e continua sendo um ato de resistência de proporções grandiosas.

No cenário atual, a realidade não se configura da mesma forma, diante da força do movimento, a grande mídia se curvou e abriu espaços antes renegados ao gênero. Hoje, com a ascensão das plataformas digitais, os artistas são mais valorizados, no entanto, essa mudança foi estruturada com muita luta popular.

O Hip-hop mexeu com estruturas sociais grandiosas, desde as camadas mais simples até as mais profundas. Sem dúvidas, para qualquer adepto da causa, as maiores conquistas foram as vidas salvas pelo movimento. Em tempo, se faz necessário exaltar: “Vidas negras importam!” e “João Alberto presente!”.

Gláucio Gomes de Siqueira Barros.