A pandemia de Covid-19

O coronavírus é um microrganismo identificado na década de 1960 que provocava infecção respiratória leve. No entanto, como todo vírus, o corona passou por mutações ao longo do tempo, sendo identificados, a partir de 2002, o SARS-CoV (que causou a Síndrome Respiratória Aguda Grave), o MERS-CoV (que causou uma epidemia de Síndrome Respiratória no Oriente Médio em 2012) e, agora, o SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, todos estes provocando doenças cada vez mais graves.

O coronavírus é um microrganismo identificado na década de 1960 que provocava infecção respiratória leve. No entanto, como todo vírus, o corona passou por mutações ao longo do tempo, sendo identificados, a partir de 2002, o SARS-CoV (que causou a Síndrome Respiratória Aguda Grave), o MERS-CoV (que causou uma epidemia de Síndrome Respiratória no Oriente Médio em 2012) e, agora, o SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, todos estes provocando doenças cada vez mais graves.

A Covid-19 rapidamente se espalhou pelo mundo e evidenciou um vírus de alta transmissão. Como se trata de vírus identificado recentemente, ainda necessita de muitos estudos acerca de sua origem, patogenicidade e tratamento. O que podemos verificar no momento é a disseminação da enfermidade e os dados em cada país.

A doença foi detectada pela primeira vez na China, na província de Wuhan, em dezembro de 2019, e rapidamente se disseminou por toda Europa, alcançando o continente americano em 2 a 3 meses. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), foram notificados até o dia 20/04/2020, no mundo inteiro, 2.468.733 casos e 169.794 óbitos confirmados por exames. Como no momento não há testes disponíveis para todos, pois países como o Brasil ainda estão adquirindo-os, e, também, o ritmo da produção, em nível internacional, ainda não consegue atender toda a demanda na velocidade necessária, as pessoas com manifestação da doença ao nível de leve a moderada, que correspondem a aproximadamente 80% dos casos, provavelmente não estão sendo testadas. No Brasil, a recomendação para evitar a superlotação das unidades de saúde e o risco de contágio nas mesmas, caso não esteja com a doença, é ficar em casa, caso tenha sintomas de leve a moderado.

Conforme dados divulgados pelo Ministério da Saúde, até a tarde do dia 20 de abril de 2020, foram registrados no país 40.581 casos confirmados e 2.575 óbitos, representando uma taxa de letalidade de 7%. A região Sudeste registra a mais alta incidência, com 21.836 casos confirmados (53,8%); seguido do Nordeste, com 10.088 (24,9%); Norte, com 4.109 (10,1%); Sul, com 2.921 (7,2%); e Centro-Oeste, com 1.627 casos (4,0%). A maior taxa de letalidade também é do Sudeste, com 1.533 óbitos (8,3%); Nordeste, 626 (6,2%); Norte, 249 (6,1%); Sul, 113 (3,9%); Centro-Oeste, 54 (3,3%). Observamos que a região do país com maiores recursos econômicos e maior renda per capita é quem tem os piores indicadores (incidência e taxa de letalidade altas). O estado de São Paulo registra 14.580 casos confirmados e 1.037 mortes; seguido pelo Rio de Janeiro, com 4.899 casos e 422 óbitos; e pelo Ceará, com 3.482 casos e 198 mortes. Ainda segundo a pasta, quanto ao coeficiente de incidência a cada 1.000.000 de habitantes, de acordo com o Boletim Epidemiológico nº 13, do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública/COVID-19, divulgado em 20/04, por Unidade da Federação, os maiores coeficientes foram registrados por Amazonas (521), Amapá (512), Roraima (403), Ceará (381) e São Paulo (318); e pelas capitais, os maiores coeficientes de incidência foram registrados por Fortaleza (1.007), São Luís (899), Recife (850), São Paulo (789) e Manaus (762). O Brasil registrou até a manhã do dia 21/04 um coeficiente de incidência de 193,12/1.000.000, segundo atualização de dados da OMS.

No Rio de Janeiro, a distribuição dos casos também acompanha a mesma lógica do país, com maior número de infectados concentrado na capital, 3.243, o que representa 66% do total do estado (neste percentual excluímos os casos notificados pelo município do Rio que eram, sabidamente, de residentes de outros municípios), em áreas com maior percentual de pessoas com melhor situação socioeconômica. Se analisarmos a ocorrência dos casos por bairros no município do Rio, observamos que, na primeira semana de abril, 56% concentravam-se na Barra da Tijuca, Leblon, Copacabana, Ipanema, Botafogo, Tijuca, Lagoa, Flamengo, São Conrado, Jardim Botânico, Laranjeiras, Gávea, Humaitá, Leme, Itanhangá, Cosme Velho, Catete, Joá e Urca. Os demais casos distribuem-se entre 87 outros bairros da Zona Oeste, Zona Norte e Zona da Leopoldina, áreas mais pobres da cidade, assim como as favelas, onde em 16/04 foi notificado um aumento no número de infectados: Rocinha (36), Manguinhos (8), Vigário Geral (7), Acari (5), Cidade de Deus (5), Maré (5), Mangueira (4), Vidigal (3), Caju (2), Jacaré (2), Complexo do Alemão (1).

A doença chegou ao Brasil através de pessoas que viajaram para o exterior e, ao retornarem já doentes ou no período de incubação da doença, acabaram por infectar outras. As pessoas que hoje têm mais condições de viajar são uma parte da classe média, com maiores rendas/salários, e os detentores do capital que, ao adoecerem, puderam ter acesso a toda assistência médica. A taxa de letalidade é alta, devido à gravidade da doença e ao fato de acometer com maior gravidade pessoas idosas e/ou com alguma outra doença, como diabetes, cardiopatias, pneumopatias, imunodeprimidos, etc.

No entanto, agora a doença se espalha mais pelos estados e cidades e já atinge as pessoas mais pobres. Isto vem ocorrendo tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. À medida que aumentam os casos, provavelmente pelas condições de vida, são pessoas mais vulneráveis e com menor acesso aos serviços de saúde, e com os poucos investimentos na área, já que o presidente golpista em exercício, junto com a maioria do Congresso Nacional, resolveram congelar por 20 anos os investimentos no SUS, poderemos ter uma situação catastrófica. Os governadores de SP e RJ estão se comprometendo a investir recursos em hospitais de campanha, equipamentos e recursos humanos. Sinceramente, torcemos para que isto ocorra. Mas, porque chegamos a este ponto? Poderíamos estar em situação melhor.

A pandemia no país, particularmente em SP e RJ, entrou do na fase de aceleração e o que vemos é um aumento significativo de casos a cada semana. A população deve se proteger, evitando circular ao máximo! Esperamos que as declarações insanas, mentirosas e contrárias a qualquer comprovação científica proferidas pelo presidente da República não sejam nem possam ser levadas em consideração. O desespero do capital financeiro é grande! Vejam o que estão fazendo nos EUA, onde até o dia 20/04 foram notificados 793.919 casos confirmados e 42.474 mortes e se tornou o país com maior número de infectados (enquanto na China foram notificados 84.237 casos e 4.642 óbitos, desde o início da doença), e mesmo assim continuam reticentes quanto a estabelecer o isolamento social. Para os EUA não tem sido suficiente este número de casos e mortes, pois, o capital para eles é mais importante que a vida das pessoas.

Ana Alice P. Bevilaqua

Médica, ex-gerente de Tuberculose da Sub-Secretaria de Vigilância do Estado do Rio de Janeiro e vice-presidenta do CEPPES