Declaração do V Seminário Internacional de Lutas contra o Neoliberalismo

18 anos do Jornal Inverta, 17 da publicação do Granma Internacional no Brasil, 5 do acordo com a Prensa Latina e 2 da Coordenadora Continental Bolivariana - Capítulo Brasil Luiz Carlos Prestes

Há dezoito anos, um grupo de operários e intelectuais se reunia na Baixada Fluminense para dar início a uma das maiores empreitadas independentes da imprensa revolucionária no Brasil, em meio a maior das crises do movimento comunista nacional e internacional desde a revolução de outubro de 1917. Há dezoito anos atrás, uma história de lutas, superação, vitórias e paixão revolucionária começava.

Nessas quase duas décadas de história de INVERTA, a conjuntura, tanto internacional quanto nacional, mudou drasticamente um sem número de vezes, mas, com maior ou menor dificuldade, este periódico, com um verdadeiro espírito revolucionário, permaneceu firme e resistiu com a inabalável certeza na vitória final, no triunfo da classe operária e do socialismo ante a sociedade da morte, da destruição e da exploração do homem pelo homem: o capitalismo.

Sabemos que, desde sua criação, muitos duvidaram que o projeto de imprensa revolucionária custeada apenas por operários, que doavam não somente parte de sua renda, mas seu trabalho, vingaria. Vários céticos e incrédulos fizeram previsões apocalípticas e condenaram o jornal INVERTA ao “fim prematuro”, da mesma forma que alguns anunciaram o “fim da história” no período logo após a queda do campo socialista do Leste europeu.

Hoje os tempos são outros, apesar de alguma resistência e de convivermos com resquícios do “administrativismo” social, poucos intelectuais sérios, mesmo de direita, ousam falar em “fim da história”. O tempo é de “mudança”. A “mudança” foi aclamada até mesmo no seio do grande império: habemos Obama. Mais uma vez a velha máxima de Lênin se faz presente: “os de baixo não querem mais viver como antes e os de cima não podem mais viver como até então.”

Entretanto, a eleição de Obama não passou de uma tentativa desesperada de “dar os anéis para não perder os dedos”, o buraco do imperialismo norte-americano estava mais em baixo. A revista Fortune criou um “medidor da crise” utilizando dados de sete indicadores diferentes da economia americana – habitação, emprego, estoques, empréstimos comerciais, empréstimos ao consumidor, renda familiar e expectativa das empresas – apontando que a recessão atingiu seu pior nível em 04 de setembro de 2009. Os números são reveladores: em setembro de 2008, quando do estouro da crise – levando em conta uma escala na qual 100 pontos representam um estado de relativa normalidade – o marcador era de 64.14 pontos, já em setembro de 2009, chegou a 14.47 pontos!

O cataclismo da economia mundial revela-se, mais do que nunca, consequência do caráter estrutural da crise e, para além dos bancos e bolsas de valores, ganha contornos dramáticos ao ameaçar a existência do planeta. O capitalismo não pode mais suportar as forças produtivas despertadas em seu seio: ou bem é eliminado, junto com tudo que há de mais retrógrado e mesquinho na humanidade, ou vai acabar por devassar não só o homem, mas todo e qualquer ser vivente na face Terra.

A América Latina começa a libertar-se do jugo imperialista dos EUA, que, em desespero, tentam instalar bases militares pelo continente, através de um de seus últimos vassalos, Uribe, e comprar a influência do Brasil, repassando tecnologia militar e vendendo aviões de combate. Entretanto, a política de golpes, muito utilizada pela CIA nas últimas décadas (Operação Condor e outras), não funciona mais como antes: na Venezuela, os golpistas que tentaram depor Chávez sofreram uma acachapante derrota; em Honduras, Zelaya consegue mobilizar milhares de manifestantes e o governo de usurpadores encontra-se isolado na comunidade internacional. O povo colombiano segue sua luta incansável e heróica e  a revolução cubana continua viva com seu exemplo a encher de esperança o coração dos revolucionários em todo o mundo.

Como se deu na direção de outras fontes de matéria-prima, notadamente, o petróleo, um círculo de fogo se fecha contra Nossa América. Os constantes e retumbantes anúncios de descobertas de petróleo em vários pontos do litoral brasileiro e outros recursos fundamentais, como reservas hídricas, terras cultiváveis e biodiversidade, colocam o Brasil como alvo importante das garras do imperialismo. IV Frota, a instalação de novas bases não podem estar dirigidas só para o governo de Chávez ou às forças beligerantes colombianas. As mais de 20 bases estadunidenses instaladas cercam o continente e apontam particularmente para o Brasil.

No Brasil, um quadro de relativa “recuperação” deixa os economistas burgueses cheios de alegria e esperança, mas suas análises amputadas, baseadas em fórmulas do acaso e em “achismos” sistemáticos, não lhes deixam perceber que, embora haja um ciclo de acumulação de capital interna do Brasil, que é, em parte, autônomo, o capitalismo no nosso país ainda é totalmente dependente. Impossível fazer uma análise da conjuntura brasileira sem entender o processo mundial, sem entender que existe uma oligarquia financeira nos países subdesenvolvidos que não tem o menor espírito “patriota” e que está pronta a abandoná-los ao primeiro sinal de turbulência: a queda pode ser desastrosa.

Além disso, greves de servidores públicos (INSS e correios), bancários e metalúrgicos, dentre outros, demonstram que o discurso da “bonança depois da tempestade” não é tão convincente para a maioria dos trabalhadores e que a luta de classes continua em ascensão em nosso país. A fuga do capital especulativo dos grandes centros para países como o nosso nada representa de vantajoso para a classe operária, muito pelo contrário, costuma ser sinônimo de superexploração, acúmulo de riquezas em um pólo e miséria em outro.

O espectro do comunismo voltou a rondar não só a Europa, mas o mundo como um todo. Cuba, Coréia do Norte, Vietnã e China resistiram contra todas as expectativas dos profetas da “ordem capitalista perpétua” e do “valor universal da democracia burguesa”. Governos de esquerda emergem de antros reacionários de outrora. A hegemonia dos EUA é ameaçada como nunca antes fora durante a Guerra Fria.

No Brasil esse espectro começa a se materializar e uma de suas partes vivas é, com certeza, o nosso periódico. Poucas são as organizações e movimentos populares que nunca pensaram em “chamar o INVERTA” para que este mostrasse “o outro lado da notícia”. Nosso jornal é sinônimo de compromisso com a luta. 18 anos não se atingem por acaso.

Todos que vivem essa batalha diária, que é a publicação de um jornal do porte e da responsabilidade de INVERTA, sabem do valor que ela tem. Sabem que por trás do papel, da tinta e das palavras, está o sacrifício, o suor e o sangue de vários homens e mulheres que entregam suas noites, seus dias e sua vida por um novo amanhã. Estes homens e mulheres são mais do que simples diagramadores, jornalistas, redatores, fotógrafos, distribuidores e vendedores, são bravos guerreiros, verdadeiros criadores e multiplicadores da esperança.

Estes imprescindíveis nos mostram a cada dia que o mundo não é só o que nos está posto, que não estamos necessariamente condenados à miséria e à morte pela fome debaixo das pontes, nas cadeias, nas favelas ou por qualquer outro motivo banal, “... porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente”!

O sacrifício dos trabalhadores e trabalhadoras de INVERTA não é em vão, é do tipo de sacrifício que liberta. O projeto do “homem novo” passa por estes que podem viver, ou morrer, por aquilo que acreditam, sem ter que vender suas almas para sobreviver. Mas estes “novos homens” não vivem apenas para libertar suas próprias almas, seu sacrifício ajuda a conjurar diariamente esse espectro revolucionário que, para maldição dos pequenos e grandes capitalistas, teima em voltar a cada novo ciclo de falências da sociedade burguesa.

A valente chama revolucionária de INVERTA teve como resultado, logo em seus primeiros anos de vida, o reconhecimento dos camaradas do Granma Internacional, órgão oficial do governo cubano, que, percebendo o momento de refluxo e a necessidade de reafirmar a voz da revolução cubana pelo Mundo, confiaram-nos a privilegiada tarefa de publicar a versão oficial em português de seu periódico no Brasil. Hoje comemoramos os 17 anos desta publicação e reafirmamos nosso compromisso com Cuba socialista e com a construção da revolução no Brasil, na América Latina e no Mundo.

Saudamos também outro parceiro de igual importância: a Prensa Latina. Hoje celebramos 5 anos do acordo de cooperação entre INVERTA e a principal agência revolucionária de notícias do continente latino-americano. A colaboração e a camaradagem dos companheiros da Prensa tem sido fundamental nessa caminhada tão difícil, mas recompensadora, que é a publicação de um periódico comprometido apenas com a verdade.

Por último, mas não menos importante, a Coordenadora Continental Bolivariana – Capítulo Brasil Luiz Carlos Prestes completa 2 anos. Seu nascimento acompanha a crescente marcha rumo à libertação de Nuestra América através da organização e do poder populares. A CCB cumpre também o papel de resgatar a história heróica dos nossos revolucionários e libertadores, apontando no sentido de que precisamos encontrar o nosso próprio caminho para o socialismo, sem esquecer do caráter internacional e solidário que a luta deve ter para que possa triunfar definitivamente.

É neste espírito de solidariedade e internacionalismo proletário que Chávez, Evo Morales e outros líderes latino-americanos ajudaram Zelaya, presidente democraticamente eleito e deposto por golpistas de direita, a voltar a seu país de origem. Além destes, o governo brasileiro, ainda pulverizado por contradições, também demonstrou solidariedade ao abrigar o presidente hondurenho em sua representação diplomática.

Importante ressaltar que graças à imprensa revolucionária e independente é que foi possível denunciar a terrível manobra política dos usurpadores do poder popular, liderados por Micheletti, em Honduras.  O golpe é mais um exemplo de que, ainda hoje, o “valor universal da democracia” é fraseologia vazia no sistema capitalista.

Conclamamos  todos a uma forte manifestação de repúdio ao golpe em Honduras e pela imediata restituição do presidente Zelaya. Nada poderá deter a marcha dos povos pela sua libertação  e construção da sociedade socialista.

Os ventos da “mudança” começam a soprar favoravelmente e, ainda que tortuosos sejam seus caminhos e sacrifícios incomensuráveis exijam a luta, cabe a nós resistir à tempestade e avançar para acompanhá-los. As leis da dialética jogam a favor de quem melhor puder compreendê-las e utilizá-las:

“tudo que existe deve perecer e dar lugar ao novo”.

 

Viva os 18 anos do jornal Inverta!


Viva os 17 anos da publicação do Granma Internacional no Brasil!


Viva os 5 anos do acordo de cooperação entre o Inverta e a Prensa Latina!


Viva os 2 anos da CCB – Capítulo Brasil Luiz Carlos Prestes!


Abaixo o golpe em Honduras!


Ousar lutar, ousar vencer. Venceremos!