A alternativa é a Sociedade Comunista

Aos Partidos Comunistas e Organizações Revolucionárias, ativistas em geral presentes ao Fórum Social Mundial.

“A humanidade se propõe sempre apenas aos objetivos que pode alcançar, pois, bem vista as coisas, vemos sempre que estes objetivos só brotam quando já existem ou, pelo menos, estão em gestação as condições materiais para a sua realização.” (Karl Marx, Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política”).


O PCML – Partido Comunista Marxista Leninista (Brasil) – através deste manifesto vimos, abertamente, expor nossas idéias e pontos de vista em torno dos objetivos e tarefas principais dos comunistas revolucionários e organizações de vanguarda no Fórum Social Mundial, diante da situação histórica atual. Neste sentido, conclamamos todos à unidade e luta em torno de um programa de combate ao capitalismo e ao imperialismo com base no seguinte eixo: a) luta pela sociedade comunista e defesa das experiências socialistas, particularmente Cuba; b) luta pela revolução proletária e sua organização internacional; c) campanha de denúncia da crise geral do capitalismo, no neoliberalismo e dos planos de guerra imperialista; d) plano de combate ao capitalismo, ao imperialismo e suas guerras; e) formação de comitês de lutas e brigadas internacionais de combate ao capitalismo e às guerras; e f) lançamento internacional do Cartaz de Oscar Niemeyer Contra o Plano Colômbia.

Naturalmente, o eixo aqui apresentado se choca em parte com as definições anteriores do FSM, que se limita a uma instância de debates e articulações, não propositivas, dominada pelos setores burgueses, pequeno-burgueses e social-democratas. Contudo é tarefa dos comunistas revolucionários e demais setores de vanguarda, a luta para que estes pontos de vista passem a nortear os debates em geral no Fórum e, em particular, articulações regionais, continentais e internacional dos revolucionários. Além disso, entendemos que ao apresentarmos este eixo básico nos diferenciamos de forma clara dos setores e agrupamentos reformistas, que defendem a terceira via ou inserção “soberana ou negociada” na Globalização. Neste sentido, desde já estamos prontos para articulações e entendimentos com os demais camaradas das outras organizações comunistas e revolucionárias em torno do eixo programático de lutas aqui apresentado. Quanto ao mais, nossa presença no FSM consiste apenas na tarefa que todo militante a serviço da grande causa da libertação proletária e da humanidade realiza, pois, como diz Fidel: “lutar por uma utopia, é em parte construí-la!” (Un Grano del Maiz).


O Fórum Social Mundial
e a Situação Internacional

O II Fórum Social Mundial, que se realiza entre os dias 31 de Janeiro e 5 de fevereiro de 2002, em Porto Alegre (RS), acontece diante de uma conjuntura internacional marcada historicamente por três acontecimentos trágicos e decisivos: o atentado ao WTC e ao Pentágono, que pôs a nu a gravidade da crise geral do capital e a entrada oficial dos EUA na crise; a guerra imperialista contra o Afeganistão, que os EUA se prepara para estender a outros países e continentes, e a crise econômica e política na Argentina, que levou à insurreição popular contra os governos neoliberais de De la Rua e Rodriguez Saá, e que continua no governo Duhalde. O quadro é grave porque expressa a opção consciente das oligarquias burguesas pela guerra como solução à crise geral do sistema, elevando a ameaça de hecatombe nuclear e de destruição do Planeta para toda a humanidade. Uma decisão que aparentemente não encontra explicação racional na atual correlação de forças, sobrevinda da queda do campo socialista e da ex-URSS, amplamente favorável à burguesia e sua contra-revolução sobre o proletariado e massas exploradas no mundo, mas revela que na essência rebeliões de massas, como a argentina, equatoriana ou boliviana; guerrilhas, como das FARC-EP e Zapatista; ou processos políticos, como da Venezuela e provavelmente do Brasil, demonstram os pés de barro do sistema e que a situação começa a se inverter.

O ataque ao WTC e ao Pentágono pôs a nu toda comédia da mídia nazi-fascista de plantar prosperidade à economia americana e mundial, quando o quadro vivido empiricamente por todos reflete a crise do capital: queda na produção industrial, desemprego e subemprego monstruosos, baixa geral nas bolsas de valores, paralisia comercial e multiplicação das falências e concordatas, trazendo à tona os escândalos de corrupção e fraudes em todas as partes; uma inflexão geral na curva do desenvolvimento da economia mundial iniciando com a crise na Ásia capitalista puxada pelo Japão em depressão (a segunda economia mundial); a patinação da União Européia, puxada pela estagnação da Alemanha e França (respectivamente terceira e quarta maiores economias do mundo); e finalmente o mergulho dos EUA em recessão profunda, na medida em que não pode mais empurrar para o abismo da crise suas “neocolônias” e “neopotentados”, como fez anteriormente com o México (Miguel de la Madrid), Equador (Jamil Mahuad), Brasil (Fernando Collor), Venezuela (Andrés Perez), Bolívia (Hugo Banzer); Peru (Alberto Fujimori) e agora Argentina (De la Rua e Rodriguez Saá); inclinando-se diante deste fato para sua saída histórica, a guerra imperialista, instaurando uma conjuntura de terror mundial e ameaça permanente à humanidade. Assim soa para todos sua alucinante posição de retomar o programa “Guerra nas Estrelas”.

A Crise do Capital e a Guerra Imperialista

A tendência ao desenvolvimento de novas guerras é mais que uma variável concreta dentro da conjuntura de crise do capitalismo. Quem acompanha o processo histórico nesta virada de século confirmará o aumento dos gastos em defesa por todos os países do G-8: EUA (pedido de U$ 48 bilhões ao Congresso), Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Espanha, mais a Rússia, que já dobrou seu gastos em defesa. Um processo que levou países como Japão e Alemanha, impedidos pela constituição de efetuar gastos com este propósito, a mudarem suas legislações. Mas este fato não se limita apenas a estes países; Paquistão, Índia, Taiwan, Coréia do Sul e até mesmo países miseráveis da África, Ásia e América Latina, como é o caso da Colômbia e “inexplicavelmente” o Chile, aumentaram seu gastos com a defesa elevando a região ao primeiro lugar em gastos, acompanhada pela África. Quem compare o presente quadro com o que foi vivido antes da primeira guerra mundial (tendo em vista os estudos de Lênin, em “O Imperialismo”), verá que já estamos na ante-sala de mais uma grande guerra mundial. Lênin mostrou muito bem a relação entre o aumento dos gastos em defesa das principais potências capitalistas e a corrida armamentista impulsionando a guerra imperialista por uma nova partilha do mundo. Aqui tudo se explica por aquela máxima de Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista de 1848:
“E de que modo a burguesia vence tais crise? De um lado, através da destruição forçada da massa de forças produtivas, de outro, através da conquista de novos mercados e da exploração mais intensa dos antigos. De que modo portanto? Mediante a preparação de crises mais gerais e mais violentas e da diminuição dos meios de evitá-las.”.

A importância da indústria militar e, conseqüentemente, da guerra para a dinâmica do ciclo econômico do capitalismo, é sabida desde o trabalho de Engels, “Os Exércitos Europeus”. Foi a propósito deste trabalho que Marx , em Carta datada de 25 de setembro de 1857, expôs sobre o ângulo que deveria ser tratado a organização militar: “A história do Exército, com mais evidência que nenhuma outra coisa, prova a justeza de nosso ponto de vista sobre a ligação entre forças produtivas e as relações de produção. De modo geral, o exército tem papel importante no desenvolvimento econômico.(...) Neles se encontra resumida, de maneira evidente, toda a história das sociedades burguesas. Quando você tiver tempo, é deste ponto de vista que deverá desenvolver a questão”. Engels não vacilou e mostraria sua harmonia de pensamentos com Marx ao sustentar as teses sobre “O Papel da Violência na História”, no Anti-Dühring (1878). Nelas, demonstra que a indústria militar está inserida na economia obedecendo às “leis de mercado”, e também na política. Do ponto de vista econômico, o desenvolvimento industrial e tecnológico (a indústria militar) é a base da guerra, pois como capital precisa de produção e consumo, na dialética da produção e reprodução. Logo a guerra como realização da violência a serviço da política (Clausewitz) poderia atuar contra ou a favor do desenvolvimento econômico. No caso de atuar a favor, quebraria as relações de produção, que entravam o desenvolvimento, se colocando em harmonia com a economia; no caso contrário, destrói as forças produtivas impedindo o seu desenvolvimento por algum tempo. Mas, neste caso, a vitória técnica na guerra não seria capaz de deter, mecanicamente, a dialética do desenvolvimento histórico e cedo ou tarde suas contradições voltariam a impulsionar toda a sociedade.

Historicamente, este foi o processo vivido pela Europa durante a reação da nobreza feudal – a Santa Aliança – contra a revolução burguesa na França, em 1815. Naquele tempo, a derrubada de Bonaparte e o retorno dos Bourbons ao poder político parecia algo de definitivo, o retorno à ordem “natural das coisas”. No entanto, o que aconteceu? Veio 1848 e as massas operárias em Paris foram às ruas, a bandeira da república vermelha voltou a tremular e a Santa Aliança foi derrotada. A burguesia volta ao poder político, em aliança com os camponeses e o proletariado, para em seguida golpear a ambos, levando ao poder o “sobrinho que se fazia passar pelo tio”, “no Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte” (aqui Marx, mostrou, literalmente, como “A Montanha pariu um rato”) e a farsa foi até a guerra franco-prussiana e ao massacre da Comuna de Paris; mas aí as forças sociais já cumpriam o seu papel histórico, como tragédia. O mesmo processo se assiste com a atual reação burguesa – A “Nova Santa Aliança” – contra a revolução proletária russa e mundial. Após todo o processo de reação neoliberal e crise do socialismo, a dialética do desenvolvimento histórico nos conduziu ao problema da violência reacionária ou revolucionária como solução à crise do capital. Aqui a questão não é “Tobin or not Tobin”; mas de agir no sentido do conteúdo sócio-econômico da época histórica em curso, e como diz Lênin: “O novo capitalismo é uma etapa de transição para algo diferente. Encontrar ‘princípios firmes e fins concretos’ para a ‘conciliação’ do monopólio com a livre concorrência é, naturalmente, uma tentativa voltada ao fracasso”. Assim, o conteúdo histórico social que impulsionou a revolução proletária mundial no século passado volta a impulsionar a ascensão da classe operária e massas exploradas ao poder da sociedade, com ela a missão histórica de elevar todas as relações sociais ao modo comunista de produção e de vida.

A Crise Cíclica, Geral e Estrutural

Com a corrida armamentista, a tendência a novas guerras imperialistas se impõe e o avanço das forças produtivas exigem o consumo produtivo ou destruição violenta para reequilibrar o sistema, ou seja, um novo padrão de acumulação ou um novo modo de produção social. E, neste contexto, para as oligarquias burguesas, a guerra imperialista deixa de ser uma variável e se torna uma lei de política econômica necessária à dinâmica da acumulação, sob incidência da sua Lei Geral e, conseqüentemente, da crise cíclica. Assim, a história real da crise do capital e da guerra, aos poucos, vai desmentindo as análises burguesas (vulgata econômica) e revisionistas e repondo a obra de Marx e Engels no centro da polêmica sobre a compreensão verdadeira da essência das tendências presentes nos fenômenos sociais da atualidade. Afinal, qual a natureza desta crise? É uma crise cíclica do capital, que expressa uma crise estrutural ou é apenas uma crise conjuntural do sistema? Por que os EUA estão no epicentro desta crise? E, sobretudo, por que é quase inexorável se instaurarem novas guerras imperialistas? Ao inquirir o fenômeno desta forma a resposta resvala da vulgata econômica que até ontem cantava loas à “nova economia” e ao “ciclo virtuoso da economia americana e mundial para uma definição mais concreta e científica da crise, mostrando precisamente como ela se encaixa no quadro teórico marxista.

A Crise do Capital na Ásia

A crise do capital, que se apresentou em 24 de outubro de 1997, no sudeste asiático, com o crack da Bolsa de Valores de Hong Kong (mesmo dia em que se completava 70 anos do crack da Bolsa de Nova Iorque de 1929 e 10 anos do de 1987), embora rapidamente tenha se espalhado para todas as economias capitalistas do continente e se refletido na economia mundial, como um todo, não teve seu início neste episódio. Todos que estudaram a fundo o processo, inclusive os consultores do FMI, como Jeffrey Sachs; Paul Krugman; Dornbusch, e até mesmo o mega especulador George Soros, chegaram à conclusão que não se tratava de uma simples crise financeira do sistema (bolha especulativa), tratando-se portanto de uma crise cíclica do capital no continente, cujo epicentro era o Japão, em recessão desde o início dos anos 90, do século passado, refletindo o crack da Bolsa de Valores de Nova Iorque de 1987. Este tombo varreu um 1/3 do seu PIB, do dia para noite, investidos na especulação imobiliária nos EUA. (Bautista Vidal) O vazio causado pela desintegração desta massa de capitais sobrevalorizou o Iene (moeda) e a saída dos bancos foi apostar tudo nos “Tigres”. O deslocamento desta massa de capitais para Coréia do Sul, Malásia, Cingapura, Taiwan, Filipinas, Tailândia, e etc., expandiram a capacidade produtiva destes países para além do consumo da região e mundial, gerando uma crise de sobreacumulação. Finalmente, para completar a tragédia, a China entra no mercado e deduz parcelas significativas deste nos EUA e Europa, precipitando a crise geral e o ciclo econômico na região. A paralisia do comércio desencadeou a corrida desenfreada por empréstimos bancários, em dólar, e a especulação com a moeda estrangeira foge ao controle. Então o HKMA sobe as taxas de juros em 300%, o mercado recebe o sinal de colapso e a Bolsa de Hong Kong, recentemente reintegrada à China após 150 de colonização, reflete espetacularmente a crise.

O Japão no epicentro da Crise

A crise do capital na Ásia expõe a existência de um ciclo econômico regional puxado pelo Japão. É até relativamente simples compreender “porque” o Japão chegou à crise. Ela se explica pelo fato do seu desenvolvimento econômico, com base no keynesianismo, ter chegado ao seu limite de crescimento desde o início dos anos 80, formando uma bolha especulativa que prolonga artificialmente este ciclo de expansão até refletir o Crack da bolsa de Nova Iorque. O dinamismo da economia do Japão se explica pelo processo histórico de reorganização da sua economia no pós-guerra, a revolução Meiji (ocidentalização) se alia à revolução científico-técnica – cibernética, robótica e química fina – que unidos aos novos métodos flexíveis de trabalho (CAD, CAM, CIM, Just in time) e de qualidade (Kanban), desenvolveram um ritmo de renovação tecnológica da economia de 3 em 3 anos, enquanto a Europa renovava de 4 em 4 anos, os EUA, de 5 em 5 anos e a ex-URSS, de 6 em 6 anos. Assim passa auferir superlucro em cima da taxa de lucro médio, e ao mesmo tempo torna-se competitivo no mercado devido aos baixíssimos preços de suas mercadorias, sustentando a expansão da economia até ameaçar a hegemonia dos EUA no início dos anos 80. O tombo financeiro da 2ª maior economia mundial era inevitável, seja em conseqüência da luta pela hegemonia, seja em conseqüência da própria crise geral do capital que já se manifestava nos EUA, desde os anos 70. Com isto o papel do Japão para a economia mundial, nos anos 90, se tornou comparável, em magnitude, ao papel dos EUA durante os anos 20 (do século passado).

A Crise Geral na União Européia

O mergulho da Ásia capitalista na crise geral puxou para vala comum a União Européia e fez do Euro um filho bastardo, sujeito às oscilações do dólar e à sorte da contra-revolução no Leste Europeu, especialmente, na Rússia (um terreno insólito). Aqui a questão é mais grave do que parece, visto que após dois mil anos do Império Romano, novamente o velho continente passa a ser governado por um regime monetário único, abrindo espaço para a transferência de riqueza entre os próprios países do Euro, segundo as variações da composição do capital e do limite da expansão econômica da região, que beira ao abismo da depressão, refletindo a agonia da África, a crise na Ásia, a falência da América Latina e, sobretudo, a recessão americana (repositório de máquinas ferramentas da principal economia do bloco, a Alemanha). A ironia da história é que após todo o processo de guerras genocidas desencadeadas pela Alemanha nazista, ela foi a grande beneficiária da Guerra-Fria até a queda da RDA (Muro de Berlim) e a sua reunificação. Assim conquistou a Europa sem dar um único tiro, mas pela diplomacia do papel (moeda). No entanto, esta conquista não passa de uma vitória de Pirro, pois a UE não tem como se expandir mais, a não ser para o Leste Europeu e o Oriente Médio, ou buscar nichos na América Latina ou na Ásia. O que quer dizer nova partilha do mundo. Isto joga luz sobre o motor das guerras e rebeliões dos últimos 10 anos, em especial, na região dos Balcãs (Bósnia, Kôsovo, Albânia, etc.) e no Oriente Médio e/ou Ásia Menor (Iraque, Afeganistão, Líbano e Palestina).

A Europa reergueu sua economia sob as novas bases do keynesianismo, desde os anos 70 esgotou seu ciclo virtuoso da economia e não pode se lançar a uma grande ofensiva imperialista. Desde então, seu dinamismo se alimentou do surgimento dos “Tigres” e Japão e do desmonte do campo socialista. Na África e Oriente Médio foi perdendo a força à medida que cresciam os movimentos de libertação nacional em Moçambique, Angola, Namíbia, Tanzânia, que cercavam o regime Apartheid da África do Sul. Por outro lado, do Congo Belga até Argélia e Líbia e no outro extremo em direção do Quênia, Etiópia até Eritréia e Egito. Assim amargas taxas miseráveis de acumulação que somadas aos direitos sociais dos trabalhadores (herdados da política oficial durante a Guerra-Fria) desencadeiam uma inflação brutal que derrubou o marco alemão e o governo social democrata de Brant. A partir daí o desemprego e as desigualdades entre os próprios países da Europa dos Seis e entre estes e outras regiões, como Irlanda, Grécia, estouram, caem as ditaduras (Salazar, Franco e etc.) e iniciam-se guerrilhas e rebeliões: do 1º de Maio de 1968, em Paris, até o início do IRA (Irlanda), ETA (Espanha), Brigadas Vermelhas (Itália), o velho continente estremece, dando lugar, na década de 80, ao avanço da luta separatista (Galícia, Vasco etc.).

Com o avanço da doutrina neoliberal na Inglaterra (Margareth Tatcher) e na Alemanha (Helmut Khol) , no curso da alternância de governos entre liberais e sociais-democratas e socialistas, a privatização, a desregulamentação e flexibilização do trabalho elevam o desemprego a taxas absurdas, cerca 13,5 %, e passam à dedução dos direitos sociais dos trabalhadores, fazendo ressurgir, por toda a parte, os sem-teto, os sem-emprego, a mendicância; em síntese: “Os Miseráveis”. Com ela, a violência, principalmente entre os jovens sem perspectiva no mercado de trabalho. Tanto na Europa, como na América Latina, África e Ásia e EUA, o mercado informal (trabalho escravo, prostituição e o tráfico) se colocou como alternativa. Quem anda por Liverpool ou vai a Estocolmo, Bruxelas e Paris, não digo Marselha e etc.; não verá diferença com a situação de Porto Alegre, Florianópolis ou Curitiba (Brasil). Mas, neste contexto, as massas já estão retomando as ruas, lutando pela redução da jornada de trabalho; pelos subsídios agrícolas; contra o capitalismo e a globalização; luta contra o neoliberalismo. E justamente a Alemanha, principal alavanca da unificação européia e do Euro, dá o tom dramático deste processo da crise do capital na região, pois, como economia exportadora de bens de capital (máquinas ferramentas), tem, como o Japão, seu dinamismo ligado aos EUA, seu principal importador. E com a Ásia, o Leste Europeu em miséria e os EUA em recessão, patina à beira da estagnação. É assim que se chega, tanto da análise da crise do Japão, como da Europa, ao epicentro da crise geral do capital no mundo, os EUA.

EUA, epicentro da Crise Geral do Capital

O esgotamento da política econômica “keynesiana” nos EUA encerrou o mais longo ciclo de expansão do capital, de 1945 até 1970, que se generalizou para outros países do mundo e ficou conhecido como o “Estado do Bem Estar Social”. Como é sabido, esta política econômica se instituiu oficialmente após a II Guerra Mundial, através das várias conferências, instâncias e fóruns multilaterais, onde se constituíram, reformaram ou refundaram as instituições internacionais. Assim surgiu a OTAN, ONU, FMI, BIRD, BIS e etc. A base de todas essas decisões mundiais foram os países vencedores da II Guerra. Das negociações em Yalta, que refez o mapa do mundo em dois blocos, capitalismo e socialismo; até o Fórum de Bretton Woods, que criou o novo sistema financeiro mundial e o FMI para financiar a reconstrução da Europa, com base nas idéias do Lord Keynes, mas instituindo o dólar como a moeda padrão das trocas internacionais - tudo abriu espaço para este período de grande prosperidade do capital e de intensas lutas contra o crescente hegemonismo dos EUA sobre o mundo.

A particularidade da Crise
do Capital nos EUA

Mas o Estado do Bem Estar que se ergueu nos EUA ia diferir muito daquele que se ergueria na Europa e no Japão. Enquanto estes últimos apoiariam a reconstrução de suas economias em novas bases industriais e matrizes energéticas (a energia nuclear é proibida para fins militares) e de reequilíbrio ambiental, devastado pelas guerras; nos EUA todo o processo de estruturação do Estado do Bem Estar Social se apóia na sua indústria preexistente, cujo carro-chefe era o setor automotivo. Assim, seu padrão energético impõe uma lógica de acumulação e relação com o meio ambiente totalmente distinto da Europa, e o processo de acumulação nos EUA, Japão e Alemanha vão se diferenciar em termos de dinamismo, definindo seu comportamento imperialista, mais ou menos beligerante. Este processo nos EUA se acentua ainda mais com o processo de Guerra-Fria e a corrida aeroespacial diante do avanço do socialismo no mundo, após os acordos de Yalta e a construção do Muro de Berlim. Neste particular vale a pena compreender que o processo de crise geral do capitalismo que leva às I e II guerras mundiais, pela natureza da própria saída beligerante do imperialismo, levava à intervenção do Estado no ciclo da economia através da indústria militar. Nunca a história colocou de forma tão efetiva a verdade das teses marxistas. E foi justamente neste ambiente que Keynes desenvolve sua “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, em que prega a idéia dos investimentos públicos para formação da demanda efetiva e equilíbrio do dinamismo do ciclo econômico. Logo, se diferenciando do liberalismo clássico e da vulgata econômica marginalista (monetarista) que dominava as idéias econômicas oficiais até o dèbâcle geral de então.

Deste modo, a economia dos EUA evoluiu para o Estado do Bem Estar Social, da base beligerante que constituiu durante as guerras mundiais ao estilo de Theodor Roosevelt de investimentos públicos em infra-estrutura e estatização de setores estratégicos da economia, acentuando a tendência ao militarismo estatal. Durante o período marcartista e de guerra-fria, este processo avança ainda mais, chegando ao auge com a corrida aeroespacial e luta contra os direitos civis dos negros nos anos 50 e 60; daí em diante é clara sua passagem à reação no plano internacional: China, Coréia; Cuba; Vietnã; Laos; Camboja; Rodésia; ciclo de golpes militares na América Latina, África e Ásia e etc. E o complexo industrial militar passa a jogar papel decisivo na economia americana, e com ela as indústrias estratégicas: energia, aeroespacial e etc.

A Falência da Política
Econômica Keynesiana

A crise de sobreacumulação que se abate sobre os EUA, a partir dos anos 70, foi precipitada pela crise energética mundial decorrente da formação da OPEP e a fixação, sob novas bases, dos preços dos barris do petróleo. Este processo eleva os custos industriais e, numa situação de pleno desenvolvimento das forças produtivas, o peso da base tecnológica de matriz energética combustível (Petróleo, Diesel, gasolina) provoca uma queda significativa na taxa de lucros. Sendo assim, quanto mais caro o barril do petróleo mais se elevam os custos industriais, crescendo a composição orgânica do capital e decrescendo relativamente a taxa de lucros, portanto, a crise de sobreacumulação. E se paralelamente a isto sobe o nível de emprego em geral, na lógica da demanda efetiva dos investimentos estatais, maiores os custos industriais (aumento do peso dos salários) e maior ainda o decréscimo da taxa de lucros médio. É o que nos mostra o estudo de C. Goux sobre os lucros na indústria dos EUA em que a evolução da taxa de lucro em 1946 ficou em torno de 11,6%; em 1950, 12,9%; em 1960, 8,3%; em 1970, 6,3%, e em 1976, 6,6%. Tendo em vista isto, o longo ciclo de expansão do capitalismo nos EUA foi se traduzindo num crescente déficit comercial (importações superiores às exportações) e das contas públicas, beirando à casa dos 10 bilhões de dólares na antevéspera da ruptura unilateral do tesouro americano com o Tratado de Bretton Woods, acabando com a paridade dólar-ouro. Aqui a falência da política econômica Keynesiana é declarada e a crise que se apresenta passa a exigir seu dízimo a todos os países capitalistas no mundo. O FED eleva sua taxa primária de juros (Prime Rate) e o tesouro americano emite títulos para atrair os petrodólares para financiar seu déficit.

Foi assim que uma onda inflacionária avançou sobre o mundo e o aumento da taxa de juros primária, nos EUA, se faz acompanhar na Inglaterra, Alemanha e Japão, e as dívidas externas dos países do chamado “Terceiro Mundo” vão aos píncaros e se tornam impagáveis. A crise cíclica do capital que se inicia nos EUA passa a se refletir em todo o mundo capitalista, como crise geral do sistema. Então eclode a crise da inflação mundial (monetárias), a crise das dívidas externas (realização), e a crise energética, choque dos preços do petróleo (formação da OPEP), jogando para o alto a política keynesiana, ao passo do retorno à democracia burguesa. Desde então, par e passo a circulação da crise por todo o mercado capitalista mundial, continente por continente, país para país, como crise geral, as oligarquias burguesas vêm tentando alavancar o sistema a um novo patamar no processo de acumulação, através da política econômica neoliberal. Para isto, formulou planos mirabolantes e receitas quentíssimas, confabulou aos cambaus: Davos, Consenso de Washington, Rodada Uruguai do GATT, IMA, OMC, G-7, G-8, G-20, etc. E, apesar de tudo isso, a década dos 80 encerrou com o crack da Bolsa de Valores de Nova Iorque (24 de outubro de 1987) e com a opinião de todos os economistas do mundo de que não passou de uma “década perdida”. A década dos 90, que sua mídia nazi-fascista pintava o início de ciclo virtuoso de prosperidade, decorrente da queda do campo socialista do leste e da ex-URSS, o que se viu foi o retorno mais acentuado às guerras imperialistas, contra o Iraque, contra a Iugoslávia e novo crack na Bolsa de Valores de Hong Kong (24 de outubro de 1997), demonstrando o retorno, em definitivo, das crises cíclicas do capital, como crise geral e estrutural do sistema, projetando sobre o novo século a sina de terror e barbárie.

A Política Econômica
Neoliberal e a Globalização

E o que é a política econômica neoliberal, senão o contraponto à política keynesiana? Se uma invoca a luta da burguesia contra as crises cíclicas do capital para atenuar as contradições da lei geral da acumulação; a outra se exime inteiramente da responsabilidade sobre a sociedade, reduzindo as funções do Estado ao mínimo: gerenciar os negócios da burguesia e eximi-la das responsabilidades sociais com o povo e etc. Enquanto uma planeja a economia e busca enquadrar a iniciativa privada num projeto nacional de desenvolvimento; a outra abole toda e qualquer forma de intervenção do Estado na economia, fazendo valer a “lei do mercado”. A diferença essencial se reduz a isso: uma intervém a outra libera o mercado para os monopólios.

O neoliberalismo ao passar à categoria de política econômica oficial em todo o mundo, através das privatizações fraudulentas, da desregulamentação trabalhista golpista e da flexibilização do trabalho racista (novos métodos e técnicas do trabalho e tecnologia) e dos investimentos especulativos (liberação do fluxo de capitais), tendo em vista a revolução científico-técnica (informática, robótica e química fina) que se faz, à velocidade de GIGABYTES na fibra ótica, na produção, nas comunicações e nas trocas mercantis; levou ao paroxismo todas as contradições entre as forças produtivas e as relações de produção na sociedade burguesa atual expressando com todo vigor a Lei Geral da Acumulação Capitalista. E, com isto fez com que as forças do desenvolvimento econômico recolocassem o problema histórico da crise cíclica do capital como crise geral e estrutural do sistema, que exige um novo padrão de acumulação ou a ruptura com o modo de produção caduco. A experiência humana, neste curto período de unipolaridade mundial e hegemonismo dos EUA, derivado da crise do socialismo, dá sinais por todas as partes que as massas começam a perceber que o capitalismo nada lhes têm mais a oferecer e que a única saída é mudança de atitude, a rebelião. A própria saída beligerante que as oligarquias dos EUA assumiram, ao eleger por golpe o filho que tenta se passar pelo pai, mostra bem que novamente “a montanha pariu um rato”.

Quem tenha o mínimo de consciência e/ou boa vontade intelectual pode comprovar que a economia dos EUA se tornou o grande elefante branco do sistema capitalista, e devido ao seu peso na economia mundial não afundará sem arrastar consigo todos os países dependentes e ligados, pelo processo de globalização neoliberal, para o abismo nuclear. Pois, para mudar o padrão industrial e energético da sua economia é necessária uma brutal concentração de capitais, similar ao processo de acumulação primitiva, no sentido da monopolização das fontes de matérias-primas, especialmente energia tradicional e alternativa, mercados de consumo, acumulação monetária e poder beligerante. E como fazer isto sem acentuar as contradições com os países para quem transfere os custos da sua anomalia? Os EUA desconfiam da UE, que reclama uma força militar independente da OTAN e se aproxima das ex-repúblicas socialistas (poder nuclear); sentem o mesmo em relação ao Japão, que exige a retirada da base militar de Oknawa, e da aproximação com a China (poder nuclear); olham atravessado para o Brasil, a “malandragem” do Mercosul, e a aproximação com a Venezuela (Chaves), Cuba (Fidel) e Argentina (“das massas”); chegam a paranóia de espionar dia e noite a China, como demonstra o episódio do avião espião, e se preparam, em sigilo, para o conflito final contra a Rússia, que a qualquer momento pode voltar ao comunismo. Odeiam a França porque recusa o imperialismo cultural, vêem no palestino, afegão, marroquino etc.: um terrorista. Seu mundo “confiável” se reduz a Israel e à Inglaterra; o resto é frívolo, hostil e merece ficar fora de seu círculo de fogo (o escudo antimíssel).

A Estratégia dos EUA e
da UE para a Crise Geral

Claro está que esta é uma versão anedótica do porquê os EUA não assinam o Protocolo de Kyoto; não aceitam as resoluções sobre racismo da ONU e, após o atentado do WTC e Pentágono, violam flagrantemente os direitos humanos e a Convenção de Genebra (que dispõe sobre o tratamento aos prisioneiros de guerra). Na verdade, eles não aceitam o Protocolo de Kyoto devido ao seu padrão industrial; as resoluções sobre racismo da ONU, devido a sua aliança estratégica com Israel para manterem a OPEP sob controle; e não aceitam a convenção de Genebra e os Direitos Humanos, porque isto lhes obrigaria a justificar seus atos de guerra dentro do direito internacional. E assim, não aceitam também a constituição de um tribunal internacional e nem a legitimidade do Tribunal de Haia. Mas se alguém pensa que eles ficam por aí, esta redondamente enganado. Os EUA não podem prescindir também da superestrutura que se desenvolveu durante o Estado do Bem Estar Social, portanto é compelido a manter todas as instituições formalizadas em Bretton Woods, vertebradas pelo capital financeiro, e o dólar, como moeda-padrão das trocas internacionais. Assim o FMI, BIRD, OIT, ONU, OTAN... são instituições que mantêm a hegemonia estadunidense e já não regulam, mas emperram o desenvolvimento mundial, agravando a rebelião das forças produtivas contra as relações sociais de produção, e sobretudo, a contradição entre o capital e trabalho. E assim, a formação do G-8, OMC e do conspícuo Conselho de Segurança da ONU; bem como outros artifícios não fazem mais que reter a ruptura que se torna visível a cada dia.

Aqui, a única relação com “O Império” não é, de forma alguma, como afirmam os revisionistas Negri e Hardt: “uma nova fase no desenvolvimento do capitalismo, para além do imperialismo”; mas uma analogia mesmo com o “Império Romano” e sua queda. Pois, em contradição a toda superestrutura em que repousa o hegemonismo dos EUA, atuam as forças produtivas, tanto na forma de trabalho morto (tecnologia), como na forma do trabalho vivo (operário) e a lei que regula este fenômeno se resume, em:

“Quanto maiores a riqueza social, o capital em funcionamento, o volume e energia de seu crescimento, portanto também a grandeza absoluta do proletariado e a força produtiva do seu trabalho, tanto maior o exército industrial de reserva. A força de trabalho disponível e desenvolvida pelas mesmas causas que a força expansiva do capital. A grandeza proporcional do exército industrial de reserva cresce, portanto, com as potências da riqueza. Mas quanto maior este exército de reserva em relação ao exército ativo de trabalhadores, tanto mais maciça a superpopulação consolidada, cuja miséria está em razão inversa do suplício do seu trabalho. Quanto maior, finalmente, a camada lazarenta da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva, tanto maior o pauperismo oficial. Essa é a lei absoluta geral, da acumulação capitalista.(...)
(...) Finalmente, a lei que mantém a superpopulação relativa ao exército industrial de reserva sempre em equilíbrio com o volume e a energia da acumulação prende o trabalhador mais firmemente ao capital do que as correntes de Hefaístos agrilhoavam Prometeu ao rochedo. Ela ocasiona uma acumulação de miséria correspondente à acumulação de capital. A acumulação da riqueza num pólo é, portanto, ao mesmo tempo, a acumulação de miséria, tormento de trabalho, escravidão, ignorância, brutalização e degradação moral no pólo oposto, isto é, do lado da classe que produz seu próprio produto como capital”. (Marx, K. in O Capital, Livro I, Volume II, páginas 209 e 210)

E assim, na medida em que se aprofunda a lei geral da acumulação, o ciclo econômico e a sobreacumulação, cresce a rebelião das forças produtivas contra as relações de produção e a guerra civil oculta torna-se aberta e visível para a sociedade, seja em termos de guerras reacionárias (destruição violenta das forças produtivas); seja em termos de guerra revolucionárias, rebeliões e explosão das massas trabalhadoras que rompem as relações sociais de produção atrasadas. E diante da situação histórica, a luta de classes exige uma atitude a todos. No caso das oligarquias burguesas dos Estados Unidos, sua posição já é muito clara frente a este desafio histórico: a guerra imperialista. Logo, já atua no sentido de reunir todas as condições para este seu propósito através de um plano estratégico bem determinado: Guerra nas Estrelas ou escudo antimíssel:

a) Em primeiro lugar reunindo as condições econômicas para financiar e sustentar o projeto (pedido de 48 bilhões de dólares ao Congresso americano, guerras de pilhagens, Alca);

b) Em segundo, reunir as condições tecnológicas para a viabilidade técnica do projeto (a construção da estação espacial multinacional, aquisição de tecnologia russa;

c) Em terceiro lugar, a reunião das condições geoestratégicas (Base de Alcântara, Amazônia, Alimentação, combustível, biodiversidade, água potável).

Com este projeto, os EUA pretendem se tornar invulneráveis, logo, podendo submeter todos ao seu poder militar; impor sua hegemonia mundial. Eis o que consideram o Fim da História e o que tentaram conquistar todos os grandes impérios.

A estratégia da Europa

Já a estratégia das oligarquias européias com a Europa unificada e a instituição do Euro, pelo seu caráter aparentemente defensivo, apresenta-se, como um escudo anticrise contra as hordas de barbárie que ameaçam invadir de vez o seu mundo de “desenvolvimento sustentável” (na miséria e opressão dos outros) e ecologicamente correto (tráfico de madeira e biodiversidade dos “Meninos do Brazil”). Seu plano é resistir à crise, isolando-se do mundo de miséria, terror, barbárie e opressão que os cerca. Mas como são democraticamente corretos, deixarão sempre uma porta aberta para o trabalho escravo (clandestino); a prostituição e matrizes de órgãos humanos saudáveis. Sua tese é matar os EUA com seu próprio veneno, lhe conferindo missões heróicas contra a“Potência” Afegã, do Iraque, Sudão, Coréia do Norte e Irã; que “ameaçam o mundo livre e civilizado”. Quem sabe um deles não acabe por destruir os Ianques? Eles ficam prontos para reinar. O projeto de Império já esta pronto, falta a prática, logo a história se encarregará de criar a situação. Com uma ajudinha aqui, Zapatistas; outra ali, Palestina; outra mais acolá, Rússia; tudo pode acontecer. Portanto, não se pode desprezar o que representa, em termos de estratégia a UE e seu Euro, que luta por uma força militar independente da OTAN. As velhas oligarquias burguesas do continente, ao invés da arrogância dos japoneses, que tentaram tomar de assalto a economia americana na década de 80, preferem o recurso da velha diplomacia. (Vejam a destreza de Tony Blair na Guerra contra o Afeganistão; é o não é uma escola?).

A Classe Operária e Massas
Exploradas diante da Crise

A classe operária, como parte das forças produtivas rebeladas contra as relações de produção, no quadro de crise geral determinado pela lei da acumulação de capital, também busca através de seus intempestivos levantes, protestos e lutas, encontrar um caminho estratégico. Com isto, reafirma seu caráter revolucionário de classe desenvolvido no curso desta época de passagem do capitalismo ao socialismo e de profundas modificações no sistema imperialista. Os trabalhadores, através da Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, superaram a grande divisão em suas fileiras, criada pela aristocracia operária (a traição da II Internacional), e constituem uma força material em expansão. Através da fundação da URSS, durante a II Guerra Mundial, ampliam esta experiência socialista para o Leste Europeu elevando a luta revolucionária ao plano superior: socialismo versus capitalismo. Este fato impulsiona a luta de libertação nacional dos povos da África, Ásia e América Latina, muda a face política mundial e influencia, decisivamente, para que o proletariado nos países centrais do imperialismo, mesmo sob a direção da aristocracia operária (sindicalismo amarelo), arrancasse conquistas trabalhistas e sociais importantes.
Mas, com a desestruturação das forças principais do comunismo, o desaparecimento do campo socialista e da URSS, a classe operária passa à defensiva e a contra-revolução burguesa avança em sua política neoliberal no mundo. Esta conjuntura dificultou suas conquistas, puramente nacionais, na medida em que o processo de globalização da economia e redução do estado ao mínimo, acentuou o caráter internacionalista de suas lutas. A partir daí abriu-se um fosso histórico entre a formulação estratégica e as formas de organização dos revolucionários, e entres estas e a realidade objetiva, que tem apresentado imagens que sugerem a existência de um confronto muito mais direto entre operários e massas exploradas e capital, como o caso das manifestações de Gênova. Mas, o inimigo já não se apresenta da mesma forma com que se apresentava tanto na época de Marx e Engels, como na época de Lênin e Stalin. O processo de globalização que objetivamente avança ao ritmo das políticas neoliberais coloca claramente o problema das relações de produção dentro de um quadro de novos métodos flexíveis de trabalho. Nele, o centro de planejamento estratégico pode se deslocar a qualquer instante e se manter operando de um local virtual na rede. Assim bastam unidades compactas e equipes bem preparadas, executivos – o Jet Set Telemático – para através de sistemas como CAD, CAM, CIM etc. gerenciar a produção de uma unidade fabril em qualquer parte do mundo (com as condições de infra-estrutura adequadas, claro).

Seguindo este fluxo os operários e demais trabalhadores em todas as partes do mundo também retomam seu processo de organização. “O mundo é uma casca de noz”, gritam alguns, “então é duro de quebrar!”, retrucam outros. Se é assim, os trabalhadores necessitam mais que bons dentes para quebrarem a noz, logo do fluxo da fibra ótica e a rede cibernética para uma organização revolucionária dos trabalhadores. E justamente neste momento os intelectuais burgueses e pequeno burgueses começam a se perguntar se compreendem bem este fenômeno histórico criado. Surgem as versões sobre o sistema tomando de contrabando os conceitos marxistas: falam da sociedade pós-industrial, mas esquecem de dizer que a fábrica nasceu dentro da casa do trabalhador artesão e se agora, sob as novas circunstâncias tecnológicas, regressa à casa do operário, o faz, simplesmente, para conectá-la ao processo de produção; falam da sociedade on-line como se fosse um fetiche, mas esquecem de dizer que por trás da rede de fibra ótica e dos micros estão milhares de relações de produção históricas; falam do fim da classe operária e esquecem da propriedade privada sobre os meios de produção, que monopolizam vertical e globalmente, enquanto que no polo oposto, do proletariado, se concentram global e horizontalmente a miséria, a escravização e todas as torturas de trabalho. E que nestas circunstâncias a lei geral da acumulação capitalista precipita toda a sociedade para crise cíclica do capital e de sobrecumulação; com ela, a rebelião das forças produtivas contra as relações de produção, abrindo-se assim um período de revoluções e comoções sociais, em que os trabalhadores tentam forjar um caminho para romperem com o ciclo de exploração e opressão.

É esta a tendência que se expressa nos movimentos e processos políticos que emergiram e lutam para romper ou reformar o capitalismo e suas formas de opressão e exploração (classe, gênero, raça, etnia e ideologia), nesta virada do século XX ao XXI. São os casos da revolução nicaragüense, da revolução na República Democrática do Congo; do regime pós-apartheid na África do Sul; da revolução bolivariana na Venezuela. Também são exemplos as experiências guerrilheiras do EZLN, no México, das FARC-EP e ELN, na Colômbia e do PCMLN, no Nepal. A tendência se apresenta ainda no ressurgimento das lutas operárias pela redução da jornada de trabalho na Europa e Estados Unidos; e entre os pequenos agricultores por subsídios na Europa. Mas é sobretudo na juventude que ela desponta na medida em que tem ocupado um papel protagonista nas manifestações anticapitalistas e antiglobalização – Seattle, Davos, Gotemburgo, Gênova, Buenos Aires e São Paulo. Aqui repousa a principal base da formação dos novos fóruns e articulações de ativistas em geral, como o Encontro Americano Contra o Neoliberalismo (puxado pelos Zapatistas), o Fórum Social Mundial (ONGs, governos locais e movimentos sociais), Fórum de São Paulo (partidos e organizações de esquerda institucionais), Encontro Internacional de Solidariedade e pela Paz na Colômbia e América Latina (FARC-EP); movimentos que se erguem no vazio de direção revolucionária em contraponto aos fóruns e articulações da Internacional Capitalista: OMC, Davos, BIRD, FMI, AMI e etc. e acabam por desempenharem um papel além do que deveriam.

Mas, é necessário estabelecer uma clara diferenciação entre o significado destes fóruns dentro da atual conjuntura marcada pela crise geral do capital, mas que não pode ser considerada sem levar em conta a crise do socialismo. Pois é na contradição desta crise do socialismo que estes Fóruns surgem e passam a desempenhar um papel dirigente na luta atual dos trabalhadores. À exceção do Fórum puxado pelas FARC-EP, de caráter claramente tático devido a definição marxista da organização que convocou o evento, nenhum outro fórum tem uma posição definida pelo marxismo estrategicamente. Todos se caracterizam pelo ecletismo político e ideológico refletindo um quadro de lutas contra o neoliberalismo (a política econômica do imperialismo) e os seus efeitos: o desemprego, as privatizações, desregulamentação e flexibilização do trabalho. As ações mais avançadas são atos contra os fóruns ou instituições oficiais – FMI, BIRD, DAVOS, OMC, OTAN – (protestos em Seattle, Davos, Toronto, Gotemburgo, Gênova, Buenos Aires). Nestas teoricamente conjuntas, as formações políticas tradicionais e eleitorais se diferenciam dos partidos e organizações comunistas-revolucionárias, que se diferenciam das ONGs, que por sua vez se diferenciam dos grupos anarquistas. Aí está toda a riqueza destes fóruns, sua diversidade lhe permite o sucesso. Entretanto, se são tão diversos na composição é porque são impotentes para uma ação unitária e objetiva contra a classe burguesa ficando suas deliberações e acertos em torno sempre de pontos muito gerais e discursos vazios, e assim o proletariado e as massas ficam sem uma organização revolucionária de fato. Nestes movimentos seu caráter de classe revolucionária passa a história.

E assim, embora estes fóruns se apóiem na luta dos trabalhadores, massas exploradas e a juventude de cada país, na verdade são estruturas muito distantes deles, tanto quanto qualquer organização de vanguarda. E, neste contexto de crise ideológica dos comunistas e perda de referência, devido à queda do socialismo na URSS, com mais evidência, o problema principal para a classe operária mundial se coloca em torno da refundação da sua Associação Internacional sobre os princípios marxistas-leninistas sem qualquer outro matiz. Portanto, o desafio histórico da classe operária neste momento é lutar para se reorganizar nacional e internacionalmente. E na medida em que urge a luta, impulsionada pela crise geral do sistema, mais lhe falta a organização para desenvolver esta luta até as últimas conseqüências, e assim a solução é buscar atuar em todos os Fóruns e espaços onde possa encontrar os comunistas-revolucionários e demais setores de vanguarda para uni-los em torno de um programa de lutas, ideologicamente definidos, nacional e internacionalmente. É esta a tarefa principal dos Partidos e Organizações Comunistas e revolucionárias presentes a este Fórum Social Mundial.

Neste sentido nossa proposta é lutar por um programa de combate ao capitalismo e ao imperialismo, com base no seguinte eixo:

a) A luta pela sociedade comunista e defesa das experiências socialistas, particularmente Cuba;
b) A luta pela revolução proletária e sua organização internacional;
c) A campanha de denúncia da crise geral do capitalismo, no neoliberalismo e dos planos de guerra imperialista;
d) O plano de combate ao capitalismo, ao imperialismo e suas guerras;
e) A formação de comitês de lutas e brigadas internacionais de combate ao capitalismo e às guerras;
f) Lançamento internacional do Cartaz de Oscar Niemeyer Contra o Plano Colômbia.

Os Comunistas Revolucionários
na América Latina

Como se pode deduzir da análise aqui apresentada, devido à estratégia das oligarquias dos EUA, o papel dos comunistas e revolucionários da América Latina assume um relevo especial nesta conjuntura de crise geral. É fato que a estratégia da Guerra nas Estrelas, como base para tornar sua hegemonia mundial inquestionável e indestrutível, necessita ser implementada custe o que custar, e que a América Latina, em especial a região Amazônica e a bacia do Prata, são regiões geopolicamente importantes e decisivas para a realização deste projeto. Mas não é somente neste aspecto geopolítico que a América Latina é importante, há também o problema de mercado, a ALCA e o problema das matérias-primas tradicionais e alternativas que são estratégicas ao seu plano. Deste modo, seja pelo mercado, a ALCA; seja pelas fontes de matérias-primas, água potável, biodiversidade, petróleo, urânio etc. ; seja pela posição geoestratégica, Base de Alcântara; a região da Amazônia e do Prata, vão se constituindo em região geopolitica estratégica para a Estratégia geral dos EUA.

Considerando o problema mais em pormenor, se pode observar que sua iniciativa para a América Latina, até o ataque ao WTC e o Pentágono, se desenvolvia até aqui em duas frentes: ALCA e Plano Colômbia. A relação entre um e outro é muito visível: enquanto um visa instituir novo padrão de relações de produção e trocas mercantis na região, liberando-a totalmente à exploração dos monopólios americanos; o outro visa “limpar” toda a área das contradições e empecilhos à sua exploração: guerrilhas, governos populistas e nacionalistas e economia informal (principalmente o tráfico de drogas). Assim os EUA, com o plano de Mercado Comum (ALCA) e seu plano de guerra regional (Plano Colômbia), visavam atingir um objetivo imediato de ampliar seu mercado de consumo e exploração do trabalho e matérias-primas na região. Mas, agora após o WTC e o Pentágono, se vislumbrou um processo mais de fundo e estratégico geral para o sistema imperialista mundial, ou seja, usar a estratégia global: a Guerra nas Estrelas.

Este projeto associa o plano da ALCA e o Plano Colômbia ao seu Plano Estratégico de Hegemonia mundial, colocando numa dimensão geoestratégica a região do Amazônia e do Prata. Um projeto de Guerras nas Estrelas sem uma base de lançamento de Foguetes a baixo custo inviabiliza o projeto; do mesmo modo desenvolver um “Escudo Antimísseis” sem reservas logísticas é mais inviável ainda. Portanto, a ocupação militar do Prata e anexação da Amazônia vão se configurando cada vez mais como uma questão decisiva internacional e que cedo ou tarde irá se processar. A própria tática dos EUA de reunir os meios para sua estratégia tendo em vista uma sucessão de pequenas guerras de ocupação militar e pilhagem, coloca a possibilidade de uma ação militar aberta sobre estas regiões. A evidência deste fato é tão grande quanto a tensão criada pelo FBI, CIA, DEA, manobras militares e a espionagem nos países da tríplice fronteira. Já não pode ser segredo para ninguém que a Rússia resolveu retirar de Cuba sua base de monitoramento das telecomunicações dos EUA e América Latina; com isto, evita que Cuba possa controlar as ações Terroristas ou Militares dos EUA, na região. Cuba denunciou recentemente isto e “não entende a razão” para este relaxamento da vigilância russa. Por outro lado, o Chile aumentou consideravelmente seus gastos militares e juntamente com a Colômbia desequilibram as forças na região.


Deste modo, começa a se delinear na conjuntura uma situação mais perigosa do que se imagina sobre a América Latina. A situação da Argentina de insurreição popular que continua sem uma definição clara e o jogo de forças entre o Brasil (MERCOSUL) e os EUA (ALCA) por trás desta crise pode precipitar todo o processo. Ainda mais se o processo político brasileiro se encaminhar para a vitória da oposição ao Governo neoliberal das oligarquias. Se isto acontece, então poderá se formar uma tríade entre Brasil, Venezuela e Cuba, podendo arrastar a Argentina para um processo mais amplo de forças de mercado na região contra os monopólios americanos. A crise geral do Capital nos EUA, certamente levará sua economia à bancarrota de vez. Deste modo, pode-se entender até que ponto a reação imperialista e seus diversos tentáculos estão agindo sobre os países da região, em particular o Brasil, e mais especificamente os Estados relativos a estas áreas estratégicas: Prata e Amazônia. Não sem propósito a apologia do principal monopólio de comunicação do país, Rede Globo, à candidatura de Roseana Sarney, do Maranhão (base de Alcântara) e o gesto inesperado de FHC em fazer acordos com a Ucrânia e Rússia, para utilização da Base. O jogo é pesado. Até mesmo a campanha insidiosa contra o governo petista de Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul, e o assassinato de dois prefeitos, por razões “obscuras”, não estão desvinculados deste processo.

Assim a tarefa particular dos comunistas e revolucionários da América Latina é derrotar o Plano de Guerra dos Estados Unidos, em todas as suas dimensões:

a) No plano econômico da ALCA, através de um plano de lutas sindicais unitárias no continente contra o neoliberalismo e os governos pró-EUA;
b) No plano político; impulsionar os governos progressistas à unidade continental e à ruptura com o imperialismo e sua política neoliberal; e
c) No plano ideológico, desenvolver uma campanha de agitação e propaganda em torno da falência do neoliberalismo, da Crise do Capital, da Estratégia dos Estados Unidos e seus Planos de Guerras assassinas;
d) No plano da Guerra, derrotar o Plano Colômbia, transformando a luta das Guerrilhas na Colômbia numa grande batalha como foi a Guerra Civil espanhola contra o Fascismo, logo organizando comitês de luta para constituição de brigadas internacionais.
e)Constituindo um fórum estratégico dos comunistas revolucionários.

E nossa palavra de ordem: Proletários de todos os países: Uni-vos!
Abaixo o Capitalismo e o Imperialismo!
Abaixo a Crise do Capitalismo e seus Planos de Guerra Assassina e de pilhagem!
Viva a Revolução Proletária e Comunista Mundial!
Viva a Ditadura do Proletariado!
Viva o Marx, Engels, Lênin e Stalin!

O Impasse histórico

“Quando os debaixo não querem viver como antes, mas não sabem como querem viver e os de cima não podem mais viver como até então, mas não tem para onde mudar” vive-se o impasse histórico, período indefinido no processo da luta de classes e revolucionária mundial, de avanços e recuos, de trituração das formas tradicionais de organizações e nas relações sociais e especial nas relações políticas de luta pelo poder da sociedade burguesa.”

Partido Comunista Marxista-Leninista (Brasil) Rio de Janeiro, 31 de Janeiro de 2002