Resultados das eleições municipais de 2024 em São Paulo

As eleições na cidade de São Paulo confirmaram algumas tendências que tem se repetido na região. Para os cargos de prefeito, a ida de Ricardo Nunes e Guilherme Boulos ao segundo turno, mantém dois perfis do voto para esse cargo na cidade. Vencedor no primeiro turno, Nunes representa o eleitorado mais a direita, que opta de forma recorrente por um voto mais conservador e moderado, mantendo o representante em exercício a medida que este já mostrou seu compromisso com as políticas neoliberais.

As eleições na cidade de São Paulo confirmaram algumas tendências que tem se repetido na região. Para os cargos de prefeito, a ida de Ricardo Nunes e Guilherme Boulos ao segundo turno, mantém dois perfis do voto para esse cargo na cidade. Vencedor no primeiro turno, Nunes representa o eleitorado mais a direita, que opta de forma recorrente por um voto mais conservador e moderado, mantendo o representante em exercício a medida que este já mostrou seu compromisso com as políticas neoliberais. O prefeito tem feito um desmonte deliberado de diversas políticas, com destaque, na educação municipal, conseguindo destruir parte considerável das conquistas desse setor da educação básica que há muitos anos era referência em termos de qualidade.

Os votos em Boulos, por sua vez, manifestam uma tendência do voto mais a esquerda que tem sido recorrente na cidade, que por exemplo, conferiram a Lula a vitória no município, atribuído principalmente ao voto nos bairros periféricos. O candidato teve seu melhor desempenho relativo na região mais central da cidade que normalmente tem um voto mais progressista, mas o maior número de votos vieram dos extremos, como o “fundão” da Zona Leste, com exceção dos bairros mais periféricos com maior influência de Nunes, como no bairro da Pedreira na Zona Sul, base eleitoral do atual prefeito.

O voto em Pablo Marçal em bairros mais pobres, mostra um voto de setores da classe trabalhadora que está cansada da situação e vota no candidato mais caricato, que faz promessas de ajudas financeiras absurdas, supostamente “antissistema”, ou até mesmo que é atraída pelo discurso, que só a falta de consciência de classe pode justificar, de que “ele já é rico, por isso não vai roubar o povo”. Mas o que deve chamar mais a nossa atenção é que Marçal era o candidato da extrema direita na capital paulista, mesmo com o aparente racha com o bolsonarismo, e desperta preocupação o crescimento expressivo de uma figura desconhecida politicamente, que cresceu durante as pesquisas de 14% das intenções de votos para 21% - como destacado pela matéria da edição anterior do Jornal Inverta - terminando as eleições com 29% dos votos válidos e já expressando que disputará o governo do estado ou a presidência nas próximas eleições – caso não seja considerado inelegível se julgado por ter falsificado um atestado médico para tentar atribuir a Boulos o uso de entorpecentes.

No artigo “Perspectivas para a Luta contra o Neoliberalismo no Brasil sob a Conjuntura de Crise Orgânica do Capital” Aluisio Bevilaqua analisa base de classe do fenômeno político de crescimento dessas representações do neofascismo. Os setores da classe trabalhadora que integram o exército industrial de reserva da produção formal, a medida que passam a produzir na informalidade - que já constituem mais de 50% da força de trabalho total no país segundo a Organização Internacional do Trabalho - são direcionados a cumprir um papel vital ao capital em crise de manter a acumulação através da produção que combina intensiva força de trabalho associada com as altas tecnologias informacionais e a dependência do sistema bancário. Justamente por sua instabilidade econômica e por uma consciência de classe abalada pela corrupção ideológica ligada, por exemplo, às ideias de empreendedorismo, esse setor se torna mais suscetível aos discursos salvacionistas e retrógrados do fascismo. Em artigo recente o autor também destaca para essa consciência reacionária “as limitações herdadas de nossa formação social como Colônia de Acumulação Primitiva de Capital, caracterizada pelo extrativismo, o trabalho servil  e escravocrata que sedimenta o animal spirit das oligarquias e parte da cultura popular, que nos ciclos de crise de acumulação transborda para toda a sociedade”. Esses aspectos interpretados pela pesquisa comprometida com os interesses do povo devem orientar nossas análises quando vemos um crescimento do neofascismo, para além de culpabilizar certas escolhas de campanha e aspectos políticos no geral.

Esse fenômeno pode ser verificado pelo perfil dos candidatos a vereador mais votados na capital, como Lucas Pavanato (PL), o ‘influencer’ de 26 anos, que recebeu 161.386 milhões de votos. Porém, é importante destacar que o PT manteve o número de vereadores eleitos em relação às eleições anteriores (8) e tem a maior bancada na Câmara, principalmente de vereadores e vereadoras que se reelegeram ou que receberam apoio direto de mandatos. Em alguma medida, o cenário que se apresentou no restante do país de perda de espaço do PT, não se manifestou da mesma forma na cidade, diferente do que se viu em outros municípios de importância como São Bernardo do Campo, em que o candidato do PT terminou em terceiro lugar. A fala da presidenta do partido logo após as eleições ressaltou o impacto do golpe, em especial, com o impeachment da Dilma e a prisão de Lula e explicou que o partido ainda está em processo de recuperação, já com desempenho melhor que em 2020. Esses impactos do golpe, analisados pelo Jornal Inverta antes mesmo que ele se consumasse, explica também o espaço político que vem sendo ocupado pelo fascismo, assim como, outros fenômenos como o derretimento do PSBD que não elegeu um candidato na cidade.

Resultados dos candidatos apoiados pelo Congresso Nacional de Lutas contra o Neoliberalismo no estado:

Vereadores

José Américo (São Paulo) – não eleito, mas na suplência da Câmara

Ana Nice (São Bernardo do Campo) – Eleita

Prefeito

Guilherme Boulos – disputa o segundo turno, sendo o candidato indicado do CNCN

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