Lula X Bolsonaro - Uma escolha entre a civilização e a barbárie

Encerradas as apurações e confirmada a vitória de Luís Inácio Lula da Silva nas eleições para presidente da republica, uma certeza assombra a consciência de uma parcela da sociedade brasileira. Pelo menos daqueles que a ainda a têm.

Encerradas as apurações e confirmada a vitória de Luís Inácio Lula da Silva nas eleições para presidente da republica, uma certeza assombra a consciência de uma parcela da sociedade brasileira. Pelo menos daqueles que a ainda a têm.

Não se sabe se por negligência ou falta de capacidade de leitura da realidade, mas o certo é que Jair Bolsonaro foi subestimado. Historiadores, sociólogos, cientistas políticos e todos os estudiosos da política ainda estão tentando encontrar em que momento a ultradireita ganhou corpo e se consolidou no Brasil.

A pequena margem de votos que deu a vitória a Lula nesta eleição, demonstra sem nenhuma dúvida que o Brasil está diante de uma encruzilhada. Mais que uma eleição o pleito do último dia 30 de outubro representou uma escolha entre o fascismo e um caminho democrático mais ao centro.

Obviamente que essa ascensão que agora ameaça seriamente o Brasil não começou nas eleições de 2018. Basta lembrarmos as jornadas de junho de 2013 e dos processos que vieram em seguida, como a operação Lava Jato e o golpe contra a presidente Dilma Rousseff, que tiveram como principal objetivo a destruição das forças progressistas que governavam o país.

Esse histórico de ações que abriram caminho para que a ultradireita se estabelecesse e avançasse com suas pautas conservadoras contou com o financiamento do capital internacional e o apoio irrestrito de setores como mídia, líderes religiosos e parte do judiciário.

Um olhar atendo ao mapa dos resultados das eleições revela o cenário desastroso em que nos encontramos. Lula venceu em treze estados, enquanto Bolsonaro venceu também em treze estados mais o Distrito Federal.

A seu favor Bolsonaro utilizou-se fartamente da máquina pública, cometendo crimes eleitorais como nunca antes se viu em nenhuma eleição no Brasil. Com isso, venceu nas regiões sul, sudeste, exceto Minas Gerais, todo o centro-oeste e em três Estados da região norte.

Marcados pela colonização europeia, os três estados da região sul serviu de berço esplendido para o bolsonarismo. Nesses Estados Jair Bolsonaro venceu com folga, tendo percentuais acima de 60% dos votos em relação a Lula.

Também na região sudeste, com exceção de Minas Gerais, a votação recebida por Jair Bolsonaro por pouco não lhe dava um segundo mandato. Nos Estados de São Paulo e Espirito Santo, Bolsonaro teve 55,26% e 58,04% dos votos respectivamente. No Rio de Janeiro, Estado considerado o berço político de Jair Bolsonaro e de seus filhos deu a candidato uma votação expressiva de 56,52% dos votos.

Porém, foi na região centro-oeste e em alguns Estados da região norte que Bolsonaro contou com os maiores percentuais de votos. Impulsionado pelo agro negócio, os Estado de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, deram a Bolsonaro uma ampla vantagem em relação a Lula. Em Rondônia, por exemplo, o candidato a reeleição obteve uma votação superior a 70% dos votos válidos.

Já na região norte Jair Bolsonaro obteve percentuais de votos acima de 70%, consolidando assim sua liderança em regiões controladas pelo agronegócio, pelo garimpo ilegal e pelo desmatamento da floresta amazônica.

Se nessas regiões o bolsonarismo navegou em mares tranquilos, na região nordeste ele foi amplamente derrotado. Em todos os Estados da região, Luís Inácio Lula da Silva obteve votações que superaram percentuais acima de 60%, destacando-se os Estados do Piauí (76,82%), Bahia (72,08%) e Maranhão (70,70%) que garantiram a Lula uma margem de votos que possibilitaram a vitória sobre o seu oponente.

Único Estado da região sudeste onde Bolsonaro não conseguiu vencer Lula, Minas Gerais teve um papel importante no resultado. Segundo maior colégio eleitoral do país, esse Estado reflete todas as outras regiões do país, possuindo dentro de suas “fronteiras” características físicas e sociais que se assemelham as outras regiões do país.

Considerado um Estado tradicionalmente conservador, desta vez, mesmo tendo reeleito no primeiro turno um candidato alinhado ao bolsonarismo, Minas Gerais, ainda que com uma margem pequena de votos, contribui de maneira decisiva para a derrota do projeto autocrático e fascista de Jair Bolsonaro.

Ao analisarmos o mapa da votação, percebemos que as regiões que deram a vitória a Lula são aquelas considerados pobres e ignorantes e que são alvos frequentes do preconceito das regiões ricas do país e, que maciçamente optaram pelo bolsonarismo.

No atual estágio de crise do capitalismo e de ascensão da ultradireita, Lula enfrentará enormes desafios para reconstruir o país. Para governar precisará se equilibrar entre saciar as diversas formas de fome que assolam o Brasil e a ganância do capital internacional na sua sanha de acumulação e exclusão.

A vitória de Lula nessas eleições colocou o país diante de um espelho e deu a ele a oportunidade de escolha de qual caminho seguir e do tipo de sociedade que queremos ser daqui para frente. Ainda que muitos tenham escolhido a barbárie, um número maior de pessoas escolheu não abrir mão do processo civilizatório e decidiu retomar as políticas de justiça social.

Manoel de Oliveira

Jornalista e mestre em Ciência da Informação