O acordo INVERTA - PRENSA LATINA
O acordo de representação comercial entre a INVERTA - Cooperativa de Trabalhadores em Serviços Editoriais e Noticiosos e a PRENSA LATINA - Agência de Notícias Latino-americana, que se realiza oficialmente em ato solene neste dia 29 de julho de 2004, na ABI – Associação Brasileira de Imprensa, sociedade civil de maior prestígio jornalístico do país, é um acontecimento de envergadura que marcará a história das comunicações no Brasil e quiçá da América Latina. Com este acordo a Prensa Latina passará a ser representada comercialmente pela INVERTA Cooperativa em todo o Brasil, rompendo o monopólio do cartel das grandes agências de notícias como a EFE, Reuters, AP, UP, UPI, FP, direta ou indiretamente amalgamadas nas agências de notícias locais. Não se trata desta forma, de um acontecimento banal e muito menos de uma ação econômica vulgar, como as milhares que se processam diariamente num país capitalista, mas de um acontecimento histórico e cuja real dimensão se observará com o correr dos anos e a mudança no conteúdo e na conduta dos meios de comunicação, em especial, o jornalismo no Brasil.
“Monopolizar cobre é ruim. Monopolizar petróleo, café, barcos, trigo, pior. Monopolizar notícias é crime. Já temos sofrido bastante. Somos informados à força da maneira de viver norte-americana... Queremos notícias do mundo inteiro, sobretudo de nossos países da América, Índia e Latina. Vocês são a primeira janela que deixará entrar o ar. Respiremos!’ (Pablo Neruda).
Estas foram as palavras do imorredouro poeta chileno Pablo Neruda ao saudar o nascimento da Prensa Latina. E sem dúvida foi essa a primeira missão da Prensa Latina quando veio ao mundo há 45 anos. Ela nasceu mesmo no dia 16 de junho de 1959 como uma emanação necessária da revolução cubana, foi gestada ainda na crueza dos combates da guerrilha comandada por Fidel, Raúl, Che, Camilo contra a ditadura de Fulgêncio Batista. Todos são conhecedores dos esforços de Guevara em organizar a difusão das idéias da revolução para as massas, em conseqüência do bloqueio dos meios de comunicação em Cuba e no mundo à verdade dos fatos e da história, como indica bem o episódio do desembarque do Iate Gramna com o grupo de guerrilheiros que é recepcionado por um bombardeio que os reduz de 72 a 11 homens e 7 armas. Para desmentir a imprensa oficial, a serviço da ditadura de Batista, que massificavam a morte dos guerrilheiros, em especial de Fidel Castro, foi necessário constituir as comunicações radiofônicas, a Rádio Rebelde. Com estas transmissões radiofônicas a luta contra o monopólio das informações avançou e ganhou uma base real e fio condutor para desmascarar os farsantes e mostrar a verdade sobre a revolução dentro e fora do país.
Assim, o jornalismo revolucionário, a partir de Cuba, foi avançando e encontrando o espaço e aumentando sua força e organização, como nos dão provas a criação do Clube de Imprensa, que além de aliar as transmissões radiofônicas com a imprensa escrita, avançou na conquista de aliados fora do país, congregando um reduzido número de jornalistas estrangeiros. E neste contexto, os aliados não eram apenas os que declaravam sua adesão à luta revolucionária cubana, mas independente disto, que bastasse difundir ou escrever a verdade sobre a luta revolucionária em Cuba. Na América Latina já se falava em jornalismo independente e próprio desde os anos 30 do século passado, quando toda a informação e formação intelectual eram adquiridas ou controladas pelos centros imperialistas. E justamente, deste processo de luta contra a quebra do monopólio da informação e reivindicação de um jornalismo independente do poder do capital, que um outro argentino passou a fulgurar no semblante da revolução cubana, o jornalista Jorge Ricardo Masetti, que foi o primeiro diretor e organizador da Prensa Latina. Masetti, um ano antes do triunfo da revolução cubana subiu “Serra Maestra” e do convívio real com Fidel, Che, Raúl e demais guerrilheiros escreve um célebre livro, “Os que Lutam e os que Choram”, mostrando a verdade da luta revolucionária em Cuba; desde então ligou-se à revolução cubana e com o triunfo da mesma é convocado por Fidel e Che para levar a cabo uma das tarefas mais urgentes para a revolução, que foi denominada “Operação Verdade”. Esta tarefa consistia em levar adiante a luta contra o monopólio da informação, que derrotada em Cuba se passou com toda força a difamar e a massificar mentiras sobre a revolução, como foi o caso do falacioso “fuzilamento em massa”.
Desta maneira, no dia 22 de janeiro de 1959, reuniu-se em Havana mais de 500 jornalistas e fotógrafos de todo mundo e o resultado desta conferência foi a cristalização da idéia de criação de uma Agência de Noticias Revolucionária. A confirmação deste fato aconteceu com a reunião que se seguiu de um grupo mais seleto de jornalistas revolucionários tendo a frente Masetti, no Canal 12 da Televisão Cubana; nela seria apresentada pela primeira vez a criação de uma agência cabográfica de caráter latino-americano. E, desta forma, o esforço de Che e Fidel, levado adiante por Masetti na Operação Verdade, atinge seu fim e no dia 16 de junho, apenas há 6 meses da Revolução começa a funcionar de fato a agência de notícias latino-americana Prensa Latina. Segundo escreveu Juan Marrero, os primeiros membros do corpo de redatores foram os jornalistas cubanos honestos: “Angel Augier, Francisco Portela, Angel Boán, Baldomero Alvarez Ríos, Gabriel Molina, Armando López Moosman, Alfredo Viñas, Ricardo Agacino, Severo Nieto, José Bodes Gómez, Miguel Viñas, José Luis Pérez e Joaquín Oramas; um grupo de recém-ingressos na escola de profissionais de jornalismo “Manuel Márquez Sterling”, Roberto Agudo, Ricardo Sáenz, José Gabriel Gumá, e ele Juan Marrero”; por fim, destacados profissionais latino-americanos, entre eles Gabriel García Márquez (Colômbia), Rodolfo Walsh, Rogelio García Lupo e Jorge Timossi (Argentina), Carlos María Gutiérrez (Uruguay), Isidro Pineda (Chile), Armando Rodríguez (México), Oscar Edmundo Palma (Guatemala), Eleazar Díaz Rangel (Venezuela) e Aroldo Wall (Brasil)”.
Portanto, a Prensa Latina nasce como uma emanação da própria Revolução Cubana, mas o seu caráter latino americano e postulação continental, mais que experiência própria, como disse Che se tornou um espelho para todos os povos da América e entendida como local onde a revolução latino-americana teria começado, neste sentido, seu bloqueio pelo imperialismo era inevitável e conseqüência dialeticamente da luta de classes, da mesma forma que o combate a este bloqueio, que no terreno da comunicação, ou mais precisamente ideológico, seria ainda mais cruento que no terreno econômico, como ressaltou com grande perspicácia o poeta chileno Pablo Neruda. Masetti também em vários momentos enunciou postulados fundamentais e de princípios para a fundação da Prensa Latina, entre estes, como citou Marrero:
“As duas qualidades essenciais do jornalista que trabalha numa agência informativa são exatidão e rapidez”.
“O jornalista não deve deixar-se levar pelo o que lhe disseram, mas constatar pessoalmente a exatidão dos dados presentes em suas crônicas e artigos”.
“Não criamos uma criatura perfeita, porém é nossa e temos que cuidá-la’. Trabalhar na PRENSA LATINA não significa somente ganhar dignamente o pão, mas ocupar um posto honrado de combate em defesa de nossa revolução latino americana”.
“Queremos saber quem sofre, para tratar de aliviá-lo; e quem ri, para gozar com sua alegria; quem é subjugado para ajudá-lo a se libertar, e quem subjuga para combatê-lo com todas as nossas forças”.
Deste modo o acordo comercial entre INVERTA e PRENSA LATINA expressa mais que um ato econômico, um ato de solidariedade e compromisso com a revolução latino-americana. Na verdade, após 45 anos de PRENSA LATINA, ele representa uma retomada daquela iniciativa fundamental para revolução cubana que se traduziu na “Operação Verdade”. Por que hoje, como é notório o imperialismo diante de sua crise sem solução, já não tem mais esperanças de destruir a revolução e a Fidel com seu bloqueio ou invasões mercenárias e neste sentido trabalha com toda força para através da sua rede de intrigas, falsidades e manipulação da informação criar as condições ideológicas para justificar uma invasão direta a Cuba. Já não é mais segredo para ninguém que as esperanças das oligarquias financeiras norte-americanas de saírem da crise através do governo brutal de George Bush filho se esvaíram. Que sua iniciativa de superar a crise através da guerra contra Afeganistão, Iraque, ao contrário de garantir a segurança mundial e de sua economia, o que fez foi fechar a porta do Oriente Médio para os americanos e encarecer o petróleo, e, sobretudo, dividir o mundo. Também é sabido por todos que a política neoliberal do imperialismo levou o mundo capitalista ao colapso; que na América Latina, um a um, os países foram explodindo: Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e todos os governos que se formaram, aí estão na corda bamba e tendo que engrossar a voz contra o imperialismo, e aquele que burla os anseios populares está condenado a cair do dia para noite; que a situação está toda por um triz e quer evitar que os povos de países onde a luta está mais avançada como na Venezuela, através de Chávez e a revolução bolivariana; da Colômbia, através das FARCs e ELN avancem para a mesma situação de Cuba; logo, quer eliminar o exemplo, a experiência de Cuba.
Nestes termos, os acontecimentos recentes, a crise diplomática forjada no México e Peru, em relação a Cuba, são apenas a sinalização que o imperialismo trabalha na direção de manipular verdades e preparar terreno para sua monstruosidade; una-se a este incidente o escandaloso e forjado processo que levou a prisão dos 5 cubanos, em Miami, e que Bush tenta manipular para forjar “verdades” que incriminem Cuba e Fidel. As mentiras contra Cuba estão prestes a atingir o nível de mentiras usadas pelo Bush, Collin Power, e Cia para incriminar Saddan Hussein, ou seja, “As armas de destruição em massa”. Urge, portanto, uma nova Operação Verdade. O acordo PRENSA LATINA – INVERTA é um passo decisivo para a partir do estrangeiro criar uma situação de defesa da revolução latino-americana, isto é, da revolução cubana, impossível de ser derrotada pelo imperialismo. Vivemos dias que relembram a escalada nazista e que levou à Guerra Civil Espanhola; os revolucionários do mundo devem estar prontos para este combate internacionalista, como nos tempos das Brigadas Internacionais, defender Cuba é defender a revolução que floresce em toda a América Latina!
Abaixo o imperialismo norte-americano!
Abaixo Bush e Cia!
Viva a Revolução Cubana!
Salve o Acordo entre PRENSA LATINA – INVERTA!
Rio de Janeiro, 29 de julho de 2004 P.I.Bvilla Pelo OC do PCML