O Golpe do FMI no Brasil
Uma grande encenação foi montada para ludibriar a todos. O Governo FHC que sempre foi comprometido e apoiado pela banca internacional, mais precisamente pelas oligarquias financeiras dos EUA, diante da conjuntura extremamente desfavorável eleitoralmente ao seu candidato, pelo menos o que explicitamente assume esta condição, o Sr. José Serra, trama no apagar das luzes do seu governo mais um golpe contra o Brasil e seu povo: o golpe de um acordo de emergência com o FMI (Fundo Monetário Internacional). O que pretende FHC e sua equipe econômica com isso? Por acaso pretendem resolver a crise do sistema no país com um empréstimo de mais 20 bilhões do FMI? É claro que não. Para um país que tem uma dívida externa que beira a casa dos 250 bilhões de dólares e uma dívida interna na ordem dos 750 bilhões de reais, ou seja, mais de 60% do PIB, a resposta correta não é esta, mas: manietar o próximo governo, garantir que os banqueiros norte-americanos não tenham prejuízos na sua especulação, no caso da eleição do candidato da “oposição”, Luiz Inácio Lula da Silva.
Naturalmente, este golpe para FHC e a sua trupe, Malan, Armínio e Cia, equivale por um lado, a um passaporte quente, como é práxis de todos os ex-presidentes e funcionários de governos que trabalharam para os banqueiros, com conta na Suíça e tudo mais; por outro, mudar a situação crítica nas pesquisas de seu candidato, pois, ao se apresentar como “Salvador da Pátria”, e única equipe econômica com credibilidade internacional para solucionar a crise financeira no país, garante uma grande propaganda do governo e seu candidato. E quem vai dar este atestado, mais uma vez, é o FMI, afinal sua vice-presidente, Anne Krueger, veio supervisionar isso pessoalmente. Aliás, desde o início da campanha eleitoral a presença dos funcionários do Governo dos EUA e das instituições financeiras são cada vez mais intensa. Há todo um clima de suspeição sobre as eleições. Aqui no Brasil, diferente da Colômbia, onde guerra e eleições se combinaram para vitória eleitoral das oligarquias, garantindo a política oficial, de opressão e exploração do povo, mancomunada ao imperialismo, tudo pode ir por “água abaixo”. As oligarquias não confiam em Luiz Inácio Lula da Silva. Portanto, a trama foi e é intensa.
Para se comprovar esta versão dos acontecimentos, basta lembrar que quem começou tudo isto foi o “Garoto do Sóros”, o Sr. Armínio Fraga, à frente do Banco Central. Ele, mancomunado com o Malan, iniciaram um jogo perigoso de troca dos títulos da dívida pública de longo para curto prazo, e dando declarações à imprensa, que gerou uma tensão entre os investidores sobre uma possível vitória da oposição e o não pagamento da dívida interna e externa, exigindo uma posição clara de continuidade da política econômica do governo. Imediatamente, instaurou-se o clima do “salve-se quem puder” e a correria para se desfazer dos títulos da dívida pública e pela busca de outros ativos mais garantidos, no caso, o dólar ou a migração dos investimentos para outro mercado, no caso, os EUA e Europa, ou mesmo, a Ásia. Esta pressão pelo dólar, logo se sentiu no câmbio chegando a depreciar o “valor do real” em 38%, somente este ano; da mesma forma que a troca de ADRs também se ressentia no Risco Brasil, que hoje beira a casa dos 2.300 pontos; ou seja, o risco de investimentos no Brasil é maior que na Nigéria, onde a Shell deu um Golpe de Estado. E é desta combinação de fatores que o país chegou a presente situação em que as reservas praticamente se evaporam. E na medida que o atual acordo com o Fundo proíbe o governo de mexer em cerca de 30 bilhões de dólares, dos 40 bilhões que dizem ter de reservas, e as empresas que, tem contas a pagar em dólares este mês, necessitam sete ou seis bilhões de dólares, o país ficou basicamente sem liquidez. Assim o governo para manter o fluxo de dólares é obrigado a pagar juros cada vez mais altos para os agiotas.
Esta é a base de todo o teatro que veio à mídia, com as palavras traiçoeiras de Paul Oneall, Secretário do Tesouro dos EUA, ao afirmar que: “era preciso verificar se o dinheiro do FMI não seria desviado para Suíça”. O tom novelesco é tão evidente que, mesmo após as insinuações de Oneall, foi direto para o FMI. Quer dizer: berrou, esperneou, fez cara feia, reclamou com os diplomatas americanos, ameaçou fazer desfeita, mas no final tudo acabou no Fundo. É importante registrar isso porque o novo empréstimo exigirá juros mais altos para que o capital financeiro valorize seus ativos e possam trocá-los por mais patrimônio nacional. É nesta lógica que o FMI e os americanos pretendem solucionar o seu problema interno: a armação contábil das grandes corporações monopolistas americanas. Lá a crise é grave, de fato. A economia dos EUA não se recuperou “coisíssima nenhuma” da recessão e, pelo contrário, demonstrará com todas as letras e fatos o que significava a mensagem cifrada de Alan Greespan, o presidente do FED (Banco Central Americano) da “exuberância irracional das ações”: fraude contábil. Lá os escândalos se sucedem, um após outro: Enron, Wordcom, AOL-Turner, Xerox. E para tumultuar mais o cenário, o crescimento econômico dos EUA também já está sendo considerado uma fraude, pois resulta, em grande parte, desta contabilidade. O novo índice do PIB de 1,1% para o 2º trimestre, quando todos previam o dobro, deu uma clara demonstração deste fato.
Com o dólar em queda livre, uma nova onda de flutuações cambiais se segue em todo o mundo. Ninguém quer deixar de exportar seus produtos e sem uma desvalorização cambial, os preços dos produtos de exportação ficam impróprios e quem vai ganhar o mercado é o próprio EUA. Assim tanto o Euro, como o Iene, reagiram à valorização do dólar depreciando-se também. No Brasil, como no resto da América Latina, esta situação agravou ainda mais o quadro sofrível da Região atingindo, principalmente, os países do Mercosul: Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai. Assim estamos de volta ao Brasil, mas não mais para falar da crise “malandra” fomentada pelo o “garoto do Sóros”, mais para comprovar o quanto o país durante estes anos de FHC se tornou vulnerável a qualquer situação que contrarie os interesses dos banqueiros e agiotas internacionais. Quer dizer, o Brasil não pode sequer votar num candidato de oposição, imagine agora com que artimanhas estes Srs. oligarcas tratam os que pretendem uma revolução? Portanto, eis o cerne da crise atual, mas aqui nem de perto se tratou da crise real e de fundo estrutural do próprio sistema capitalista no mundo e aqui no Brasil. Estas na verdade estão longe de uma solução tratadas desta forma, claro que ambas se refletem nos acontecimentos, como é o caso do ciclo econômico nos EUA e a dependência histórica do capital financeiro do Brasil. Mas, não dá para tratar com maior profundidade este tema neste editorial, pois o que vale a pena denunciar agora é o “Golpe do FMI”, do Governo FHC e CIA e mostrar como ele pode desencadear uma crise realmente séria.
Assim, a crise atual coloca o risco econômico como questão eleitoral e, neste caso, a velha tese de Marx, das relações de determinação e sobre-determinação entre política e economia, mostra a lógica perversa deste Golpe do FMI para o Brasil e seu povo. Por um lado, porque, o acordo com o FMI, além de não resolver a crise real e imediata que se faz sobre os trabalhadores, se volta apenas para alimentar o monstro do capital financeiro especulativo, e ainda amarrará o próximo governo a compromissos leoninos para o país, tais como, manter a taxa de juros alta, impedindo o crescimento da economia, aumentando o desemprego, comprometendo o orçamento público e os recursos. Além disso, cria a desconfiança e toda sorte de dificuldades para o próximo governo. Por outro, porque com este movimento aprofunda ainda mais a crise real que reside na esfera da acumulação, ou seja, a deficiência de infra-estrutura, a defasagem tecnológica, o preconceito econômico e a dependência nacional do capital estrangeiro para suprir tudo isso, bem como da própria presença dos monopólios imperialistas no país, com incentivos fiscais e toda a sorte de vantagens; num contexto em que a crise de acumulação vai evaporando a economia nacional e substituindo-a por um punhado de mega-monopólios, não tendo outra definição que a incidência da “Lei Geral da Acumulação”, formulada por Marx. E neste contexto, nada pior que uma oposição que entra no Governo, já com cara de situação. De um dia para o outro, todos os males do governo passado recaem sobre o novo, como se ele nada mais fosse que a continuidade do outro: aqui, literalmente, “paga o justo, pelo pecador!”. Neste caso, melhor que lutar por um governo assim é lutar por uma verdadeira Revolução social.
Abaixo o golpe do FMI no Brasil!
Abaixo os mercadores do Brasil!
Abaixo o governo neoliberal de FHC e Cia!
Viva a Revolução Comunista!
Rio de Janeiro, 1º de agosto de 2002. P. I. Bvilla Pelo OC do PCML (Br)