E depois do Penta, Brasil?
Ninguém duvida mais do valor do futebol brasileiro, da nossa Seleção, o Brasil é pentacampeão mundial de futebol. A seleção fez uma campanha brilhante: sete partidas, sete vitórias. Nenhuma surpresa africana (Senegal) ou asiática (Coréia e Japão: que jogavam em casa, com o juiz, bandeirinhas, gandulas, polícia e torcida a favor) nos roubou a cena, os holofotes, câmeras e flashes da imprensa internacional. Ao final, toda ela se concentrou sobre os pentacampeões. De nada valeu a crítica e a bolsa de apostas internacional apontarem como favoritas outras seleções: Portugal, Argentina, Itália, Espanha e França. Estas nem sequer chegaram à “gran finale”. Nos casos da Inglaterra (também cotada para vencer o campeonato mundial) e Alemanha que ousaram nos enfrentar, foram sumariamente derrotadas, consagrando os nossos “quatro RR”. O gol de Ronaldinho Gaúcho contra a Inglaterra pareceu coisa de Tream Time, da NBA dos EEUU. E assim, chegamos ao “Penta”. Mas imediatamente vem a pergunta: somos Penta, e daí? Em que isto muda o Brasil e a vida dos brasileiros? Eis a questão que surge diante do acontecimento.
Naturalmente, a vitória se ressentirá na psicologia social, ou seja, no imaginário e consciência social dos brasileiros. Quem circulasse pelos grandes centros urbanos, onde se concentram cerca de 80% da população brasileira, durante o momento do jogo, se sentiria num deserto. Na “gran finale”, não havia brasileiro que não estivesse ante o aparelho de TV, de ouvido no radinho de pilha ou na internet, todos estavam ligados, eletrizados em cadeia global à mídia. Neste momento, não havia a fome de 54 milhões de brasileiros, nem a violência das grandes chacinas e massacres contra o povo, como Vigário Geral, Carandiru ou Eldorado dos Carajás; o desemprego era página virada dos classificados, menores abandonados estavam nos Alzirões; as falcatruas do governo FHC, esquecidas, e nem mesmo os acusados de roubo na CPI do Futebol se furtavam de desfilar entre um flash e outro da TV; foram os casos dos cartolas Ricardo Teixeira (presidente da CBF - Confederação Brasileira de Futebol) e Eurico Miranda (do Vasco da Gama, “inocentado” das acusações da CPI do Futebol). Como num grande transe hipnótico coletivo, na hora do jogo, chutamos com nossos craques, contorcemo-nos para mudar a trajetória da bola e fazê-la entrar na última gaveta, como naquele gol de placa do Ronaldinho Gaúcho; xingamos em cada gol perdido ou defendido pelo adversário, louvamos a mãe dos juízes, bandeirinhas, gandulas e até mesmo do Felipão. Nestes momentos, os problemas sociais e reais são justamente os que menos interessavam. Aí reina, toda poderosa, a mídia burguesa, gerando a cortina de fumaça que entorpece a todos. Com a vitória, isto se prolongará, servindo de biombo para novas trapaças de FHC e seu candidato.
Mas, à medida que a mídia transita seus holofotes de um espetáculo para o outro, vem à tona o real, a tragédia do povo. E isto não é válido apenas para o Brasil, mas para todos os envolvidos nos grandes Circos da vida. Vejam o que aconteceu na Coréia, por exemplo, apesar do escândalo de corrupção do filho do presidente, com as privatizações fraudulentas, e das lutas operárias e estudantis sacudirem o país, milhões e milhões de coreanos esqueceram tudo e foram para as ruas e praças, fazendo uma verdadeira catarse coletiva. Um mar vermelho. O mesmo ocorreu com a Turquia, país dilacerado por uma guerra civil, não apenas contra os curdos, a quem massacram e escravizam há séculos, mas sobretudo contra a classe operária e o povo pobre do país, hoje dirigido pelo PKK (Partido Comunista Curdo). Neste sentido, analisando bem as coisas, encontraremos a relação entre o sucesso da seleção dos EUA e sua crise interna. É a velha tática do Pão e Circo, universalizada pelo antigo Império Romano. Claro que quando a crise é tão grave, como atualmente na Argentina e Colômbia, é impossível tal fato não se refletir na atuação dos jogadores, impedindo que uma seleção de “pernas de pau” se transforme em craques. Contudo, é válido demonstrar que nada na Copa do mundo é o que parece, nem mesmo a escolha por sorteio da Ásia, em especial, aliás, “especialíssimo”, a dupla sede para o campeonato: Japão e Coréia. Países também sedes da crise do capital que, como um tufão, varreu toda a Ásia. Além disso, situados na fronteira do capitalismo com o comunismo e em forte emulação com a China e Coréia do Norte. Assim, a tragédia, por baixo do véu da Copa, sempre deixa transparecer algo, tanto lá quanto cá.
No Brasil, após o Pentacampeonato, sobrevirá a consciência nacional à tragédia da crise em que estamos mergulhados. Se não for por vontade da mídia burguesa, será apesar dela, através do processo eleitoral. É impossível esconder os milhões e milhões de miseráveis e párias sociais que o regime econômico e político cria, aprofundando as contradições sociais e a luta de classes. O próprio método das oligarquias burguesas para superar o drama nacional, as eleições burguesas, será o veículo denunciador desta realidade. Para se ter uma idéia do que as eleições devem resolver, basta olhar os números do PIB (Produto Interno Bruto) que é projetado para crescer 2% este ano, quando vem de um ano anterior onde esteve no limiar entre 0% e 1%. Para um país que necessita crescer a economia pelo menos 4% ao ano para manter o atual nível de empregos, é o mesmo que administrar uma fábrica de desemprego. A ameaça não só para aqueles que estão na ativa, mas, inclusive, para aqueles que ainda estão se preparando para entrar na vida, os dois milhões de jovens que anualmente ingressam nas forças produtivas do país (PEA - População Economicamente Ativa). Um drama que se expressa na tragédia do tráfico de drogas e na violência urbana crescente. Mas quem imagina que nossa tragédia se resume apenas nisso está redondamente enganado. Aqui a velhice é um martírio, a juventude uma aventura e a meia idade uma maratona, que só termina com a exaustão ou desistência do corredor. Quem tenta trapacear e pegar atalhos é desclassificado e tem que operar na clandestinidade, como é o caso da economia informal. Assim, ao contrário do jogo de futebol, não dá para driblar o sistema. Nele, tudo tem que funcionar para servir aos donos do capital, aos patrões. É que nem torcedor nas mãos dos cambistas, na porta do Estádio, querendo um ingresso.
Assim, para mudar radicalmente todo este quadro, só uma revolução, mas aí é preciso ser mais craque que os nossos craques atuais. Pois, como poderíamos nos livrar da marcação dos banqueiros internacionais (mega especuladores) que controlam nossa dívida externa e o capital financeiro no país, se eles hoje mais que credores são o centro dinâmico do capitalismo? Como sair da cama de gato do narcotráfico e do contrabando, se eles hoje são parte significativa do PIB nacional e fonte de renda para milhares de pessoas (dizem cerca de 40% da força de trabalho)? Como nos desviar das barreiras “subtecnológicos” e “subculturais” que instruem nossa produção industrial, artística e educacional? Como se defender das epidemias e da guerra bacteriológica que os megalaboratórios imperialistas nos impõem, nos tornando cativos do seu jogo sujo, faltoso? O Brasil do Penta é o Brasil perto de perder a soberania sobre sua parte da Amazônia e do Prata. É um país obrigado a cumprir um papel de gendarme das oligarquias internacionais no continente, que vê seu povo sob um regime de exploração, opressão e terror, patrocinado pela Nike, Coca-Cola, e todos aqueles que faturaram e ainda vão faturar com a Copa, nossos craques e o Penta. Tentar esconder esta realidade apresentando o faturamento da Ambevi ou da indústria têxtil e de confecção de camisetas e bandeiras verde-amarelas é puro chauvinismo, coisa de porco global mesmo. Portanto, não há como ocultar a realidade para o nosso povo, nem fugir de sua solução real, que está além das eleições burguesas que se avizinham.
Deste modo, a realidade que transbordará no processo eleitoral fará deste processo um processo mais amplo e decisivo do que foi historicamente. Não porque ele possa mudar esta realidade, através de um método de continuidade e afirmação do sistema, como são as eleições burguesas, mas porque nela se constituirá a porta por onde refluirá o descontentamento e luta de classes, pois se tratando de história, “o que se joga pela janela, entra-nos pela porta”. Assim, nas eleições a luta entre as oligarquias e destas com a pequena e média burguesia e vice-versa virá à tona. E se isso for o suficiente para que a classe operária e as massas em geral barrem o continuísmo de FHC, através do seu clone, cabeça de ovo, então estaremos a caminho não do hexacampeonato, mais da verdadeira libertação de nosso povo, talvez na última fronteira da ilusão e ideário manipulados pelas classes dominantes e sua mídia. E neste novo limiar, as ilusões de esvair como bolhas de sabão ao contado da realidade, como freqüentemente nos tem demonstrado a conjuntura nacional e internacional: João Goulart, no Brasil em 1964 e Hugo Chávez, atualmente, na Venezuela. Um governo sem o poder de fato revelará o verdadeiro poder paralelo e que comanda o país e longe de ser o tráfico, é capaz de usando as instituições legais, deixar um Secretário de Estado, como ocorreu recentemente no Rio de Janeiro, sem poder administrar sequer as instituições sobre seu comando legal. Ao final, virá o despertar das massas pelas demandas não atendidas. E, neste momento, não há como fugir da bola dividida e toda a questão, mais uma vez, se resumirá em: ou “bola ou búlica”!
Portanto, depois do Penta, nossa tarefa é converter as eleições no centro da denúncia do jogo viciado do sistema, é importante denunciar que de uma seleção vendida, como é o governo do time de FHC, não se deve esperar outra coisa que a derrota. “Só não se mexe em um time que está ganhando”. Mas no caso do governo brasileiro; que foi derrotado pelo capital financeiro na economia; foi derrotado pela violência no campo e na cidade; derrotado pela ALCA no Mercosul; derrotado pelas epidemias de dengue, tuberculose e etc.; e está prestes a ser goleado no próprio território nacional (Amazônia e Prata), mais que mexer, é preciso trocar de governo, sair da saia justa e passar da defesa ao ataque. Enquanto não se INVERTER este jogo, o Brasil sempre estará atrás do prejuízo pois, historicamente, enquanto as potências mundiais lançavam foguetes espaciais, nós, aqui, elegíamos a vassoura como símbolo, e hoje enquanto Cuba constitucionaliza o socialismo, como conquista humana permanente e intocável, nós, aqui, estamos pulando nas ruas de orgulho do Pentacampeonato de Futebol. É verdade, o Pentacam-peonato de futebol é nosso, e ficamos orgulhosos disso, mas quem fez mesmo o maior gol de placa que ficará nos anais da história foi Fidel Castro e os cubanos: lá, mais que pentacampeões, eles foram humanos, essencialmente humanos, e escreveram em sua Constituição que a exploração do homem pelo homem é crime e que mexer nas conquistas e no socialismo é mexer num time que está ganhando. Na Ilha, não há menor abandonado, não há famintos ou mendigos pelas ruas, não há doente sem leito ou atendimento médico, não há crianças sem escolas e seus atletas são atletas do povo e não da Nike, Adidas, etc. e etc... A seleção brasileira é Penta e você brasileiro o que é? Vai deixar teu patrão te esfolar agora?
Abaixo o Chauvinismo!
Abaixo o Governo FHC e seu continuísmo!
Abaixo o capitalismo e sua política econômica neoliberal!
Viva o Brasil e seus atletas talentosos (os esquecidos da seleção) e a revolução!
Como disse a inesquecível amiga e escritora Jurema Finamour: Vais Bem Fidel!
Rio de Janeiro, 02 de Julho de 2002
Pelo OC do PCML P. I. Bvilla