Pátria de chuteiras e de olho nos juízes

 

Este é um momento muito delicado na conjuntura política nacional. Para um país cuja cultura dominante se apóia largamente nos momentos lúdicos e apaixonados, como o futebol, para realizar jogadas sujas contra o povo, há muito o que ficar de olho nos árbitros da sociedade; eles são como aqueles homônimos no futebol, estão sempre garfando alguém. E se tratando do governo FHC (PSDB, PMDB e Cia), todo o cuidado é pouco. Se bem que o golpe pode vir também da falsa oposição das velhas oligarquias burguesas (PFL e PPB). E por que estamos nos preocupando com este fato? Não seria por demais especulação se falar de golpe no país a esta altura do campeonato?

É claro que nossa preocupação não é com um “golpe de Estado” reacionário, oomo o que ocorreu na Venezuela contra Hugo Chávez. Até porque, no Brasil, não existe similaridade alguma entre o atual governo e aquele, e muito menos nas candidaturas ditas de oposição ao mesmo. Aqui o fenômeno Chávez e bolivariano é muito distante da cultura política e histórica nacional. Seria, pois, muito paradoxal esta transposição de realidades históricas. No caso do Brasil, o que se trata mesmo é da pura situação política eleitoral que, considerando as pesquisas eleitorais e o mercado de ações, é extremamente favorável à oposição pequeno-burguesa e operária. E isto por si só já é suficiente para que por trás do clima de “Copa do Mundo”, exortação da “Pátria de Chuteiras” pelo monopólio da Globo – que tem exclusividade nas transmissões e reproduções das imagens das partidas -, o governo das oligarquias trame a desestruturação da oposição e chegue a um consenso em torno de um candidato. Afinal, mesmo numa Copa do Mundo, pode-se substituir um jogador “machucado”.

Este ponto é decisivo não por uma mera prática social que viceja o imaginário popular, mas devido à crise econômica e política mundial que se agravam. Ninguém pode negar que a paralisia da economia mundial, em particular a dos EUA, apesar das guerras de reativação econômicas, parece patinar numa base de gelo de difícil equilíbrio. Após uma queda espetacular nas ações das empresas “Ponto Com”, da Nasdaq, se seguiu a queda das empresas tradicionais no Dow e no SP500. Este último acumula uma queda em torno de 15% a.a. Uma situação drástica para investidores americanos e do mundo. Mas se as coisas só ficassem aí, ainda dava para imaginar saídas, afinal toda economia capitalista tem seus ciclos, e tendo em vista o retorno ao liberalismo (“neoliberalismo”), mesmo num mercado de mega monopólios ou oligopólios, a lei geral da acumulação se faz sentir. Mas se ela incide sobre o sistema burguês de produção recobrindo-o de desespero, sangue, terror e miséria, não menos distinta é a saída da crise. Pelo contrário, com ela todos estes aspectos chegam ao paroxismo, já que sua forma mais desenvolvida é a “Guerra Imperialista”, “guerra injusta, de rapina e suja”.

Quem examine bem a situação mundial verá que existe um certo esgotamento do conflito no Oriente Médio, dentro dos meios convencionais. Ali, a tendência é avançar para a Ásia menor mesmo, como se observa com o agravamento da disputa entre a Índia e o Paquistão pela região de Caxemira. Neste caso, tudo indica que seu desdobramento é: ou um acordão, como já prefaciaram EUA e Rússia, com o novo acordo de redução de armamento nuclear obsoleto; ou como provavelmente aparenta acontecer, com um conflito nuclear de média e baixa intensidade. Naturalmente que o acordo entre os EUA e a Rússia, e agora entre a Rússia e a China, visam limitar este conflito ao terreno puramente convencional, pois, por trás da tecnologia nuclear destes países, quem está mesmo são os países fornecedores de tecnologia e armas. Portanto, não se deve esperar mais acontecimentos sui generis desta região estratégica do planeta. É claro que a ação do exército imperial, e Cia, continuará ativa nesta área, principalmente nas Filipinas e Nepal, devido ao avanço das guerrilhas que ali atuam, mas de agora em diante, tudo indica que o conflito se deslocará para a América Latina, em especial, para a Região Amazônica.

E por que apontamos para esta situação? Porque já não se faz indiferente que a crise do capital se abraçou ao continente, como naquela máxima de Marx, no Dezoito Brumário, dos “Mortos se agarrarem aos Vivos”, arrastando-os aos caminhos e episódios históricos, num teatro fantástico entre a tragédia e a farsa. Ora, alastrando-se a crise da Argentina aos outros países da América Latina, como é o caso do Uruguai, que volta e meia tenta repetir o conflito da Ásia, transformando a tríplice fronteira em nossa “Caxemira”; e considerando a importância estratégica da região para os EUA para uma futura ocupação da Amazônia, que é o fundo da questão, então torna-se óbvio que todo o esforço dos ianques contra a guerrilha das FARC-EP na Colômbia, a tentativa de golpe na Venezuela, a campanha malograda contra Cuba, e toda a especulação financeira com a sucessão presidencial no Brasil, apontam para uma intensificação do conflito na região.

E isto se coloca com força ainda maior após o acordão entre EUA, Rússia, UE e China. Pois isto põe fim a uma fase na corrida tecnológica de ofensiva nuclear para dar curso a corrida pela defensiva nuclear: o “Escudo Antimíssil”. Assim, na esteira deste acordão, a corrida imperialista se tornou pelas reservas estratégicas. E neste caso, o domínio e controle na América do Sul, volto a insistir, “da Bacia do Prata e Amazônia”, são condições sine qua non para esta corrida para os EUA e demais potências imperialistas. Claro que o problema da ALCA também se coloca, tendo em vista que ela fornece condições para a centralização dos monopólios e do comércio na região, tornando o mercado latino um mercado cativo dos monopólios ianques. Naturalmente que isto significa o fim do Mercosul e o agravamento da situação econômica e política dos países sul-americanos. Contudo, os desdobramentos das crises na Argentina, Colômbia, Peru, Uruguai e Brasil só têm um sentido mais geral vistas sob o ângulo do interesse imperialista, em acordo com as oligarquias locais. Pois é isto que está em jogo neste momento.

Nesta conjuntura, se a pelota não for bem jogada, se não formos capazes de montar um seleção apta para resistir ao ataque inimigo, que joga sujo e na força bruta; se não tivermos a habilidade para jogá-los “no vento”, certamente nos escaparão por entre os dedos todas as chances de, se não vencer, pelo menos neutralizar o inimigo. Nosso dever revolucionário é lutar pela unidade da classe operária em torno de uma Plataforma Comunista para o Brasil e atuarmos como força independente neste processo eleitoral; não deixarmos sequer um minuto de alertar as massas para a possibilidade de um conflito mímico na tríplice fronteira, cujo objetivo será dar espaço para que as forças da reação nos países envolvidos no conflito avancem no controle dos governos. Aqui na América Latina, nada tão diretamente ligado é capaz de quebrar o elo entre crise do capital e ditadura militar. Mas equivocam-se rotundamente quem pensar que a solução a este quadro maniqueísta está na defesa da democracia burguesa; aqui tudo indica que só uma ditadura abertamente de classe poderá pôr fim à farsa e inaugurar um período histórico novo; e isto somente acontecerá se for uma Ditadura do Proletariado e aliados, contra as oligarquias e o imperialismo.

Deste modo, se o processo eleitoral não é o caminho para se chegar a Ditadura do Proletariado, pelo menos, que se jogue o jogo de olhos bem abertos; afinal, a Coréia do Sul e o Japão não é aqui; lá a crise, estagnação e corrupção do capital chegaram ao limite das famílias presidenciais, e os trabalhadores e estudantes avançam em sua luta pela derrubada do sistema corrupto e na defesa de seus direitos; aqui a novidade da Copa não pode mais obscurecer as tramas e maracutaias do governo FHC e do imperialismo. A intervenção do Ministério da Previdência Social na Previ (Fundo de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil), mudando sua direção precisa ser explicada, afinal estamos falando de cerca de 40 bilhões de reais que são manipulados em investimentos e outros “negócios”. Por que será que isto se dá de um momento para outro, entre a estréia do Brasil na Copa e o delírio da vitória chorada? Atenção todos: aqui não é a Coréia do Sul ou Japão, mas que todos precisam ficar de olhos bem abertos precisam, o governo quer vir no contra-ataque e na distração do povo. Que pelo menos a torcida grite e avise à trama inimiga! Olho aberto, pois Pátria de Chuteiras quer dizer filhos desmamados.

Abaixo o golpismo de FHC e Cia.
Abaixo o consenso das oligarquias com o imperialismo contra o povo!
Viva a Revolução Proletária!

Rio de Janeiro, 5 de junho de 2002 P.I. Bvilla Pelo OC do PCML