Editorial: O triste fim do Governo Fernando Henrique
O triste fim do Governo Fernando Henrique
Editorial
Estamos assistindo a um episódio já não tão inédito na sociedade brasileira, o epílogo de uma novela que se repetirá, de agora em diante, até o fim definitivo do Governo Fernando Henrique Cardoso. Na verdade, já assistimos a este final de novela no Governo Sarney, e quem recorda sabe que foi uma situação muito chata e repugnante.
Sarney isolado, todos que o apoiaram se passaram para a oposição, até o partido que o colocou no poder se voltou contra ele; para se manter na política teve que mudar de estado, do Maranhão para o Amapá, e lá comprar todo o eleitorado para ser eleito senador da República. O governo Sarney foi considerado perpetrado de corrupção, entreguismo e populismo; que foi da bravata do Plano Cruzado até a moratória da dívida externa; da histeria dos fiscais do Sarney até a ridícula compra de votos para prorrogar seu mandato de 4 para 5 anos. Sarney saiu, porém mais que isolado, sem credibilidade nenhuma, seu Plano Cruzado um completo fracasso, a inflação que havia decretado extinta, voltou aos píncaros; sua moratória se transformou em rendição do país ao FMI, e os seus fiscais, em grupos de protestos e pressão pelo fim de seu governo. Mas Sarney, diferentemente de Fernando Henrique, não foi capaz de entregar o país com igual desfaçatez, leviandade e proporção. Por isso, mesmo com o isolamento, ainda subsiste politicamente, em papel secundário claro, sem credibilidade claro, mas ainda subsiste. E Fernando Henrique, o que será dele quando seu governo chegar ao fim?
Sem dúvida, o processo político não pode ser tomado como uma seqüência de efeitos pirotécnicos que a todos envolvem por quanto perdure seu desenrolar. Na política, entre um efeito e outro, sopra o vento da realidade econômica e social, alterando a temperatura e as condições gerais em que se desenvolve o processo político. Quem acompanhou estes quase 8 anos de governo de Fernando Henrique Cardoso viu este processo claramente: do efeito pirotécnico do Plano Real que arrebatou a todos nos seus dois primeiros anos de governo, prometendo resolver todos os problemas do Brasil, ao choque da realidade advindo da crise na forma de tufão da Ásia, marcando o fim do seu primeiro e o início do segundo mandato; dos efeitos pirotécnicos das privatizações, como instrumento da maciça entrada do capital financeiro e especulativo, sustentando os dois primeiros anos do seu segundo mandato, diante da crise geral do capital, até a situação atual, onde a realidade atropela o delírio da moeda estável, do crescimento econômico, da não inflação, de entrada do Brasil no Primeiro Mundo e do panegírico das privatizações como remédio para todos os males.
O sopro de realidade se faz da pior forma, na forma da crise energética, mostrando que todo plano do governo hoje não passa de balão apagado. A crise no setor elétrico mais que denunciar a falta de investimentos, denuncia as privatizações criminosas que depõem contra a soberania nacional e a torna refém da crise mundial e luta interimperialista.
Mas não se pode responsabilizar única e exclusivamente o governo das oligarquias pelo atual quadro em que vive o país. Naturalmente eles são os principais responsáveis e demonstram isso a todo momento buscando envolver a todos em seu mar de lama da corrupção e entreguismo. Contudo, deve-se ter claro que tanto a oposição burguesa e pequeno burguesa como a esquerda institucional, que hoje têm a hegemonia sobre a luta da classe operária e dos setores médios, são também responsáveis pelo atual quadro.
A oposição burguesa e os partidos reformistas foram incapazes de conduzir, mesmo no terreno da oposição legal e eleitoreira, uma tática de luta correta contra o governo das oligarquias, tanto durante o primeiro como agora durante o segundo mandato de FHC. Durante o primeiro mandato a oposição e a esquerda reformista não foram capazes sequer de entender a gravidade da crise internacional e suas conseqüências sobre o Brasil do Plano Real.
Este fato é tão contundente, que dias antes e até mesmo durante o abalo geral da crise, quando forçava a desvalorização da moeda, o esvair das reservas cambiais, ameaçando todo plano de estabilização econômica do governo, a oposição e a esquerda reformista bradavam aos quatro cantos que a crise era uma invenção e que o Real era uma coisa boa para o país; abrindo espaço para que FHC se pusesse à frente do processo político, assumindo a condição de salvador da pátria e com uma canetada baixasse um pacote econômico que se transformaria na plataforma e palanque político para sua reeleição; mas que também seria a desgraça do país. Como afirmávamos naqueles dias, as medidas tomadas pelo governo eram irresponsáveis, oportunistas e eleitoreiras contra o povo e o país.
E não deu outra coisa, o Brasil, como está claro para todos, vive uma verdadeira tormenta, pressionado tanto por uma crise interna, que assume proporções de falência da economia nacional, como pela crise externa, que ameaça emparedar o país entre a guerra pela soberania sob seus recursos estratégicos (Amazônia, recursos hídricos, biodiversidade, etc.) ou a servidão ao imperialismo norte-americano, que se aprofundará mediante a crise.
A oposição e a esquerda reformista, como no primeiro mandato de FHC, continuam sem uma tática coerente e atuando covardemente. Elas não são capazes de levar às últimas conseqüências as denúncias e as ações contra a corrupção, o entreguismo e a traição do atual governo contra o povo. Elas mesmas não sabem o que, nem como, fariam se assumissem o poder neste momento: se retirariam o país da crise ou sucumbiriam à servidão ao imperialismo; como defenderiam a soberania ou como entregariam o país. Isto porque elas sabem bem que para retirar o país da crise é necessário romper com o imperialismo e no atual estágio do capitalismo é impossível se manter no sistema sem um alinhamento imperialista. E onde se pode chegar rompendo com o imperialismo? A opção aqui é quase automática: ao socialismo ou à barbárie.
Vê-se, desta forma, que tanto o governo como a oposição burguesa e da esquerda reformista não têm um caminho e uma solução para o povo, e que a crise atual é sem saída. Logo, o que veremos é um governo corrupto, traidor, cínico e genocida se agarrando a tudo e a todos, despudoradamente para se manter no comando do botim geral contra o povo e o país, e os setores de oposição cada vez mais crescendo e se reconfigurando como novos pólos de poder, costurando as bases para a vitória político-eleitoral no curso da sucessão.
A Fernando Henrique, ao contrário de Sarney, lhe será reservado um destino tão medíocre como o que vive nossa antiga czar da economia, Zélia Cardoso de Melo, ou o Sr. ilustríssimo anônimo Gustavo Franco. Depois de toda a sujeira que praticaram contra o país, por menos de dez tostões, quanto mais anônimos melhor, pois cada vez que seu nome seja lembrado sempre estará vinculado a uma falcatrua, a um estelionato à nação, a uma opressão ao povo – chacinas, PROER, crise de energia, venda ilegal de dólares, desemprego, fome, miséria e repressão.
Um exemplo atualíssimo deste papel é o do Sr. Francisco Lopes, ele será prisioneiro eterno do caso FonteCidan e Marka. Mas para o consolo de Fernando Henrique e Cia., não somente ele e seu grupo mais fiel estão destinados a este papel, na verdade com ele passa à História todo um grupo que na política internacional neste entreato da História encontrou espaço para divertir o público e prender sua atenção com espetáculos pirotécnicos e planos mirabolantes de Clinton a Stanley Ficher.
À classe operária, diante de todo esse processo, resta entender precisamente o jogo das oligarquias e a falta de firmeza da oposição burguesa e esquerda reformista. Os primeiros jogam com a fome e o desespero das massas para corromper as idéias revolucionárias e a luta por dignidade; os segundos jogam o jogo da oposição no sistema e sem sair dele, logo todos os caminhos que apontam para luta da classe operária somente a conduzem à derrota, ao desânimo e à capitulação frente ao seu inimigo de classe, e enquanto a classe operária no país e os comunistas revolucionários marxistas-leninistas não forem capazes de, através da ação e organização, alterarem este quadro, o curso da luta entre a burguesia e proletariado ficará sob a hegemonia da primeira e seus espetáculos de corrupção e degenerescência: ontem Collor de Melo e sua trupe, Paulo César Farias, Zélia Cardoso, Bernardo Cabral, anões do Orçamento, etc.; hoje Fernando Henrique Cardoso e Cia., entre eles Antônio Carlos Magalhães, Arruda, Eduardo Jorge, Francisco Lopes, Gustavo Franco, etc.
Diante deste pão e circo, só a luta revolucionária da classe operária poderá mudar este quadro, mesmo que o mundo desmorone e uma guerra por soberania como a que se desenvolve contra o Plano Colômbia assalte a cena histórica e empurre o país para o conflito. Sem a luta revolucionária da classe operária não há revolução, e sem o partido revolucionário e sua teoria nem sequer luta revolucionária poderá existir. A tarefa imediata dos comunistas e da classe operária é mais que denunciar as oligarquias e exigir sua punição, refundar e construir em todo país o seu partido e sua luta revolucionária. Só assim poderá converter a crise econômica e política em crise revolucionária de fato, e esta em revolução vitoriosa.
Abaixo as oligarquias burguesas!
P.I. Bvilla
Pelo Órgão Central do PCML