Resgatando a história das mercearias, escrevendo a história do bairro
Resgatando a história das mercearias, escrevendo a história do bairro
PCML Fortaleza
Regional III - Base da Bela Vista
O bairro da Bela Vista, está tendo a sua vida escrita e contada de forma prejudicial para as gerações que continuam a usufruir das suas ruas e da sua história.
A sua história começa a ser escrita a partir de 1937, com a construção da Capela de Nossa Senhora de Salete, pelos padres holandeses, onde consta no livro de ata que o local “era uma faixa de terra esquecida e abandonada da capital.”.
A partir da década de 50 o bairro começa a se desenvolver através das mercearias que vão surgindo nas suas esquinas, iniciando toda a atividade comercial, onde se tornaram o ponto de referência da compra de gêneros de primeira necessidade, o ponto de encontro da boa conversa, das reuniões entre famílias e o centro de abastecimento para a comunidade de baixa renda que comprava a granel. Tudo isso acontece devido ao êxodo rural, que ocorria quase sempre em busca dos benefícios não-monetários, ou seja, geralmente tinha enorme importância a educação e a saúde dos filhos. Isso leva a crer que a migração rural-urbana não era só motivada por um possível bom emprego, ou por diferença de qualidade de vida, bem como na maior mobilidade vertical dos filhos do migrante pelo acesso a programas públicos de educação e saúde.
As antigas mercearias de 40 ou 50 anos atrás já não existem mais. Hoje são apenas lembradas como época em que os preços mais baratos e que “o feijão além de farto era comida de pobre”. Um dos fatores da decadência das mercearias foi o aparecimento do Mercado Público em 1964 a nos anos 70 e 80 o aparecimento dos mercadinhos.
Com a chegada do supermercado em 1997, não só as mercearias aprofundam sua crise, como também o Mercado Público e os mercadinhos. Os supermercados contribuíram para que houvessse uma diminuição no número de fregueses do comércio varejista do bairro, provocando uma queda no volume de vendas ainda mais acentuada desses comércios, até mesmo as pessoas de baixo poder aquisitivo começam a freqüentá-lo devido ao grande número de produtos, aos preços mais baratos e devido à limpeza do ambiente. As promoções oferecidas pelas grandes redes são muitas. Nos supermercados, além da comodidade, higiene e organização ainda há opção de financiar o pagamento das compras no cartão ou no cheque, substituindo “a caderneta das mercearias que controlavam o pagamento no final do mês”.
Dentro desse contexto, no qual a tecnologia e a busca por uma qualidade de vida se tornaram essenciais para a disputa cada vez mais acirrada do mercado consumidor, os antigos donos das mercearias, que desenvolviam essa atividade como forma de ganhar o pão de cada dia, perderam a sua cultura de pequenos comerciantes e se tornaram proletários, aumentando o contingente daqueles que se tornaram escravos do capital.
A história, a luta de um povo e a busca pela sobrevivência não podem ser esquecidas e apagadas pelas gerações posteriores, e sim, devem ser lembradas por todos aqueles que acreditam e que sonham por uma vida onde todos possam ter orgulho dos lugares onde nasceram.