Carta do Leitor: Violência que nos desespera
Carta do Leitor
Violência que nos desespera
Por: Marina P. Silva
São Paulo
Há muitos anos atrás, quando ficávamos sabendo que alguém havia sido assassinado de forma brutal, ficávamos entristecidos, indignados por tamanha maldade.
Tempos se passaram, e, nós, como que sentados em alguma praça, vemos nossos vizinhos, amigos, parentes, seres amados de nossas vidas, razão de nossas existências, serem eliminados, exterminados. Me faz lembrar muito o inseto, sem direitos, sem defesas. Trabalhadores, adolescentes, crianças e nós lá sentados no banco, hora chorando por um, hora chorando por outro e outro...Parece que estamos hipnotizados pelo medo, desequilibrados pela omissão, doentes pelo estress e pânico, depressivos por nossa impotência diante de tanta impunidade pelo extermínio de nossa gente!
Quanto ainda hei de chorar por crianças que lhes foram tirado suas vidas dentro de uma escola, dentro de casa ou até mesmo na calçada?! Que saída temos nós, pobres, para nossos filhos, que além de serem mal alfabetizados, colocamos suas vidas em risco! (obrigação desse estado despreparado e corrompido de zelar pela integridade dos nossos).
Será que os governantes vivem no mundo de Alice no País das Maravilhas? Será?!
Será que eles não sabem que até as escolas estão nas mãos dos malfeitores, que nossas escolas parecem prisões de tantas grades. Isso já não significa proteção nenhuma. Até quando nós vamos ficar sentados no banco vendo o futuro morrer, vendo o filme macabro de sepultar nossas crianças, nosso futuro?!
Trabalhamos tanto pelo nosso País, mas o que estamos recebendo em troca? É indígno que fazem conosco! A população até que às vezes tenta fazer algo, passeatas, dias da paz, rock pela paz. Não vejo resultado. Respeito-os, mas há de se admitir que as medidas que devem ser tomadas terão que ser mais sólidas, concretas.
Então, como fica a população? Hoje nada faz por medo dos malfeitores. A polícia é despreparada e corrompida. Diretores e professores alegam que nada podem fazer, pois têm família também! E vocês aí do País de Alice porque não colocam seus filhos nas instituições que vocês governam.
Ah! No País de Alice, seus filhos nem sabem o que poderia ser uma escola dessas; estudam em escolas particulares, vão em carros blindados, têm seguranças, não é verdade? E muitas outras vezes, estudam mesmo fora do país.
Quantas vidas inocentes ainda hei de chorar?! Quantas mães continuam entregando seus filhos à sorte ou a Deus, para que os guardem. Porque nós não temos a opção de fazer escolha como os possuídos da nossa sociedade.
Não dá mais. Vamos sair desse banco e partir para ações concretas, definidas, vamos unir, mães, famílias e trabalhadores, nos mobilizar para valer. Vamos à luta. Chega de chorar de tanto medo. Vamos sair de nossas casas que viraram prisões de tantas grades, alarmes, cachorros. Tudo isso é inútil, porque estamos em uma guerra.
Estamos em guerra, pois morrem-se mais aqui no Brasil do que muitos países que de fato estão em guerra. Só que a nossa guerra é injusta, pois nos pega despreparados, o nosso medo está nos calando. Achamos que com isso teremos acréscimos em nossas vidas.
A hora é agora, o tempo é já. Se temos que morrer assassinados, morrer porque passamos fome, porque temos salários mínimos que não pagam nem um par de tênis dos filhos desses governantes. Este país está nos tirando o bem mais precioso, que é a dignidade.
Esse massacre me lembra muito os anos de Hitler, de extermínios.
O que é isso meu povo?! Está tudo errado. Vamos entrar na luta para valer, porque eu não estou mentindo, nem exagerando. Vamos sair deste hipnotismo e lutar, entrar nessa guerra, partir para ação, mostrar que somos uma nação, mostrar que somos muito mais do que um, mais que um milhão. Somos uma nação, uma raça, um povo, e se não levarmos esse problema de segurança a sério não sobrará muitos de nós. Os dados e as estatísticas nos mostram, e se for para morrer, ver nossos filhos morrerem, então que seja lutando. Podemos mais do que imaginamos, somos mais dignos do que imaginam!
Este texto foi escrito por uma mãe, dona de casa, que sofre o mesmo drama de todas as mães desta nação, mas que resolveu descruzar os braços e lutar, pois até para morrer há de se ter dignidade.
Maria P. Silva