Oduvaldo Batista: A tragédia brasileira
A tragédia brasileira
Por: Oduvaldo Batista
Membro do Conselho Editorial de INVERTA
Minha saudação calorosa ao deputado federal do PT, Avenzuar Arruda, pela oportuna e significativa iniciativa da realização desta homenagem à memória dos presos e desaparecidos da ditadura militar. Cumprimentos às entidades que apóiam, este ato.
Minhas senhoras e meus senhores:
“A morte é melhor do que a vida sem honra, sem dignidade e sem glória.” (Leonel Brizola)
O presidente João Goulart recusou a proposta de Leonel Brizola e outros nacionalistas para resistir de armas na mão ao golpe de 64. Jango argumentou que uma resistência armada não adiantava, porque os golpistas estavam preparados há muito tempo e contavam com o apoio militar dos Estados Unidos. Haveria muito sangue e, no final, a direita tomaria o poder. Os líderes que insistiam na resistência pensavam de forma diferente. Haveria derramamento de sangue, mas a vitória seria do governo constitucional.
Ainda hoje, há opiniões divergentes. Para os que defendem a resistência armada, mesmo que os golpistas vencessem, a história seria outra.
O sangue derramado na luta armada, em defesa da soberania nacional, seria um sacrifício muito menor do que a tragédia que o povo brasileiro está sofrendo. Milhões de brasileiros estão morrendo de fome, de falta de assistência médica e na violência. O Brasil é um quintal de escravos. O Governo militar imposto pelos Estados Unidos entregou a economia. Mas, o atual, FHC, que é uma conseqüência do retrocesso de 64, é muito mais entreguista. Segundo o estudo, “Para um Novo Pacto Social”, do Instituto de Estudos Políticos e Sociais, já em 1985, a situação era cruel:
“... Em nenhum país do mundo, nem na própria Índia, são mais aberrantes os contrastes sociais...”, Companheiros, apenas um pequeno trecho do levantamento: “... A miséria e a pobreza afetam, particularmente, as crianças de até 14 anos. Isto, ademais do escândalo moral que representa, indica a medida em que já estão inseridas, no presente, as condições de agravamento futuro da situação social do país. Mais de 27% das crianças estão em estado de miséria, enquanto 53,1% estão em estado de estrita pobreza. E a maioria das pessoas em estado de miséria (54%) é crianças...”. Hoje a situação é muito pior. Basta lembrar o desemprego, o achatamento salarial e as privatizações. Em 1985, o salário mínimo era baixo, mas hoje, muito mais aviltante. De que adiantou a entrega da Nação aos golpistas, sem derramamento de sangue???
O livro “Brasil nunca mais”, editado pela Arquidiocese de São Paulo, com prefácio de Dom Paulo Evaristo Arns, mostra a brutalidade do sistema implantado no Golpe de 64, sem resistência do governo Jango, por responsabilidade do próprio presidente. Escreve D. Evaristo: “... Não há ninguém na terra que consiga descrever a dor de quem viu um ente querido desaparecer atrás das grades da cadeia sem mesmo adivinhar o que lhe aconteceu...”. Dor muito maior do que a de quem perdeu um ente querido lutando de armas na mão defendendo a liberdade. A tragédia de milhões de crianças que estão morrendo de fome, sendo assassinadas pelos grupos de extermínio, e das famílias miseráveis, é tão dolorosa quanto à das vítimas imediatas do golpe de 64, sem resistência. O sangue derramado na luta armada, pelo menos, seria honroso, digno, sem humilhação. Enquanto que os milhares de brasileiros torturados e mortos pela ditadura implantada pelo imperialismo norte-americano e seus comparsas do G-7 caíram humilhados, degradados.
Ao lembrar o crime hediondo em nossa Pátria, cito o filósofo norte-americano Barrows Dunham, no livro “O homem contra o mito”:
“No século XVI, os índios araucanos, uma tribo sul-americana hoje vagamente lembrada, lutaram com a maior bravura contra os invasores espanhóis. Um de seus capitães, sendo aprisionado pelos espanhóis, teve ambas as mãos cortadas para que não mais fosse útil na luta. Quando ele voltou para junto dos seus, explicou ao seu povo que os espanhóis tinham feito aquilo por medo, pois o medo (como disse ele) produz a crueldade, a companheira da covardia”.
Esta verdade explica os crimes de tortura praticados contra o nosso povo por ordem do poderoso império, os Estados Unidos. É o medo que faz o imperialismo impor o bloqueio econômico contra Cuba, um genocídio contra o heróico povo cubano, que sob a liderança de Fidel Castro, está resistindo e vencendo os maiores bandidos da História. E nós brasileiros, assim como os outros latino-americanos, estamos sendo torturados porque eles, os bandidos imperialistas, têm medo.
Cedo ou tarde, o povo brasileiro se libertará, como se libertaram os cubanos, chineses, vietnamitas e norte-coreanos. É um processo histórico.
O Brasil está sendo desmontado. Este governo está entregando tudo, através das privatizações. Importamos até peixe e água, num país que tem as maiores bacias hidrográficas, muito pescado de água doce e salgada. Somente a bacia amazônica tem peixe para alimentar o mundo.
Mas isto não quer dizer que fomos destruídos, derrotados. Perdemos uma batalha, mas a guerra continua e a venceremos.
Para encerrar, lembro que a China, o país mais populoso do mundo, foi escravo das potências durante séculos. Hoje, é uma nação livre, poderosa, a segunda potência mundial.
Confio, com toda convicção formada no estudo da história e do socialismo, na nossa libertação. E esta confiança se fortalece, hoje, agora, nesta reunião. Este ato prova que o povo brasileiro se libertará, lutando, porque nós todos, que estamos aqui neste histórico 30 de março de 2001, na OAB, também entendemos que “a morte é melhor do que a vida sem honra, sem dignidade e sem glória”.