Quem faz o Movimento? Valter Veríssimo Gomes

Entrevista com o camarada Valter Veríssimo Gomes, militante do PCML, conhecido em seu local de trabalho por Valter Leitura. Junto a esses companheiros de trabalho, sua companheirada - como ele gosta de frisar -, tiveram a iniciativa de estar na vanguarda e liderar junto à categoria a resistência contra o Projeto Neoliberal impedindo a privatização da CEDAE e defendendo a saúde da população do Rio de Janeiro.

Quem faz o Movimento?

Valter Veríssimo Gomes



O Inverta entrevista o camarada Valter Veríssimo Gomes, conhecido em seu local de trabalho por Valter Leitura, que juntamente com estes companheiros de trabalho, sua companheirada - como ele gosta de frisar -, tiveram a iniciativa de estar na vanguarda e liderar com a categoria a resistência contra o Projeto Neoliberal impedindo a privatização da CEDAE e defendendo a saúde da população do Rio de Janeiro. Militante do PCML, compreende a importância do conhecimento da teoria revolucionária para a condução e direção correta, e luta pelo fortalecimento do Partido Comunista Marxista-Leninista.




I - Fale um pouco da sua origem e de sua vida.

V - Sou de Minas Gerais; fui para o Espírito Santo e vivi aí até os 9 anos. Vivíamos do que plantávamos. Viemos para o Rio, em 1966 morar em Itaguaí; com a enchente, ficamos com uma casa de sapê e uma horta. Meu pai trabalhava para os fazendeiros, em Mazomba, no cultivo de banana; eu trabalhava de engraxate e vendedor de amendoim para ajudar, foi assim a minha infância.



I - Como você iniciou sua participação política no movimento?

V - Quando criança tínhamos que ir à Igreja, se não fôssemos apanhávamos (minha mãe dizia que tinha que votar na Arena, pois Deus é quem estava indicando). Depois servi na Marinha, naquela época era MDB e Arena e eu era totalmente alienado, não tinha nenhuma formação política; e um companheiro que lembro o apelido até hoje, “Nena”, gritou que tínhamos que votar no MDB, porque no governo não dava mais; gravei aquilo, mas não foi suficiente para deslanchar na luta.

Em 76 trabalhei na CSN, depois fui para Cubatão. Na Copisa, as condições de trabalho eram terríveis, saí de lá, pois achava que em pouco tempo morreria, via muita gente morrendo por causa das condições insalubres do local.

Voltei para o Rio, trabalhei no terminal marítimo na Baía da Ilha Grande, ligada à refinaria de Duque de Caxias. Trabalhei na Ishibrás, em Campo Grande, na construção naval, onde tive os primeiros contatos com a esquerda; o ABC paulista começou a irradiar aquela coisa toda. Eu era chamado pela companheirada a ir às Assembléias. Um dia falaram “porque jogar baralho na hora do almoço, podemos bater papo que serve para a tua vida...”; “o ser humano é um animal político-social, se você deixa de ser político e social vai ser só animal”, aquilo me deixou perplexo, naquele dia fui para casa pensando se eu era apenas um animal. E comecei a procurar formas de não ser apenas animal.

A partir do contato com estudantes da Universidade Rural, morava por lá, comecei a me engajar, passei pelo PC do B, lutava pela sua legalização, parecia que com a legalidade, a coisa ia mudar.

Nessa época, trabalhava na indústria cimenteira onde fazia um trabalho de oposição sindical, porque na época da fundação da CUT, o trabalho que se fazia era criar oposição sindical para derrubar a pelegada. Em pouco tempo fui para uma organização dentro do PT, porque entendia que para o proletário as coisas que vinham fáceis não eram verdadeiras, uma forma de defesa para não entrar no conto do vigário.

Nessa época, trabalhei de 82 a 86, na fábrica de cimento Irajá, fizemos na fábrica uma oposição sindical forte; na época do Sarney, chegamos a fazer passeatas, encontramos umas pessoas do PC do B, que diziam que nós estávamos malucos, porque a maioria apoiava Sarney e teríamos que apoiar também. Em 86 paralisamos as atividades e ocupamos a fábrica que ficou sob minha responsabilidade. Aí é que eu fui verificar verdadeiramente quando mudam os donos dos meios de produção. Nós fizemos uma greve de ocupação contra o Plano Cruzado (depois ficamos sabendo que foi a primeira contra o Sarney). Nosso patrão era o Antônio Ermínio de Moraes, dono do cimento.

Ele é repressor mesmo, mandou me oferecer benesses porque não acreditou que na fábrica dele, o peão humilde pudesse se levantar. A greve foi de forma conspirativa, pois o sindicato era pelego, quando chegamos à Assembléia, a diretoria ameaçou chamar a polícia, mas não adiantou, conseguimos aprovar a proposta da oposição. Para garantir minha permanência na fábrica, a companheirada todo ano me elegia para a CIPA, mas no final fui demitido. Já na outra fábrica, antigos companheiros me reconheceram, mas ficaram quietos. Até que um dia um servente do sindicato veio trazer uma correspondência, me reconheceu e fui demitido da Brasilit; na circular dizia que eu era agitador. Uma patrulinha me acompanhou até a Av. Santa Cruz. Fui para São Paulo trabalhar na Filizola, quando fui fazer o teste prático, descobri que o pessoal estava em greve, quando entrei e vi aquele monte de gente que não tinha aderido, me recusei a pegar o lugar dos companheiros que estavam em greve e voltei para o Rio de Janeiro. Na Ingá, fiquei 8 meses, me demitiram por descobrir que eu era grevista. Na Michelin fiquei 3 meses, pois me recusava a aceitar determinado tipo de tratamento. Achei que por mais poder que eles tenham, tem hora que os valores da gente nos deixam desempregados.

Fiquei muito tempo desempregado, vendendo cachorro-quente, até que fiz concurso para a CEDAE em 94; sempre participei das assembléias e falei para a companheirada que a direção é que é pelega, e que o trabalhador tem que participar. Em 94, com a privatização da Aço Minas, Usiminas, eu via que nós seríamos os próximos; as pessoas achavam impossível deter o processo de privatização da empresa. No meu entender esse setor é vital, principalmente para o pobre, porque a principal causa de mortes é devido a água não tratada.

Em 96, entrei para o Movimento 5 de Julho, antes OPPL, nessa época houve um distanciamento da CUT, só se dizia que não adiantava lutar. Nós achávamos que seria uma experiência no enfrentamento com o projeto neoliberal. O sindicato já não resolvia, tudo era resolvido na cúpula das direções sindicais. Em 97, impedimos que o sindicato formasse o clube de investimento da Light, é uma forma de resistir à privatização; por exemplo, a empresa oferece 10% das ações da empresa e a direção sindical administra, é a aristocracia operária; a maioria do PT fazia este jogo, são os sociais-democratas, querem democratizar o capital, dentro da ótica deles.

Nas últimas eleições, a falsa esquerda e a direita, inclusive o Garotinho, tornaram a CEDAE em palanque eleitoral, até o Sérgio Cabral que mandou a polícia sangrar a classe operária, dizia defender a CEDAE. Em 98 ocupamos o Guandu. No dia, os ônibus que iriam para a Bolsa de Valores, como a direção queria, foram desviados para a Estação de Tratamento. O presidente do sindicato ligou para gente, dizendo que estávamos fazendo m..., e quando a PM ameaçou invadir, chamamos a companheirada pelo carro de som e dissemos que iríamos parar a produção e repassar a responsabilidade da produção da água da população do Rio de Janeiro à PM, e para o governador do Estado, na época Marcelo Allencar. Foi um dia de ocupação, mas no final do dia, a privatização foi cancelada.



I - Como você chegou à luta revolucionária?

V - Apesar de toda aquele tempo de militância sindical, eu não conhecia nada sobre Marx, Engels, Lenin, Mao Tse Tung; uma coisa que lamento são companheiros que tiveram nesta caminhada estarem desanimados. Teve um companheiro que chegou para mim e disse que na Baixada Fluminense tinha um pessoal muito bom; passou o tempo, foi o Haroldo, que já estava na OPPL. Em 1994, ele me chamou e comecei a ter contato com o INVERTA e a OPPL; depois no Movimento 5 de Julho em 1996, que era uma forma de resgatar a luta desse povo, com perspectiva de refundar o Partido Comunista Marxista-Leninista, porque os outros partidos se diziam marxistas-leninistas, mas só fui aprofundar isto no Movimento 5 de Julho, o que me ajudou muito nas decisões no movimento operário que participo. Fui verificando, através da leitura do “Reacender a Chama”, e vim entender mais tarde que aquela é uma obra científica, baseada no marxismo-leninismo, isso me enriquece. No ano passado, refundamos o Partido Comunista Marxista-Leninista - o PCML - e o estamos construindo. Bonito o dia da abertura do Congresso de Refundação, lá na ABI; o Edson Nequete, filho de um fundador do Partido, em 1922, Abílio de Nequete, compareceu. Ele achava que o sonho tinha acabado, mas quando viu nosso cartaz na rua, se interessou, procurou e chegou até lá, deu aquele depoimento que me emocionou muito.



I - E sobre sua militância no PCML?

V - Um militante em uma organização de novo tipo é ser um soldado permanente com a tarefa de organizar, levar o jornal aos trabalhadores, apresentar a literatura comunista, como “Enigma da Esfinge”, levar um debate sobre ele, aquele trabalho bem feito do companheiro Aluísio Beviláqua, e o “ Crise na Ásia”, que está com edição esgotada.

Comecei a entender a importância do INVERTA, vim perceber que quem tem que embalar, vender e construir, é o militante, parece difícil, mas para quem tem o embasamento ideológico, por causa da convicção - são tarefas de grande envergadura - não é impossível; vi o desprendimento dos companheiros para fazer essa obra. O jornal representa a organização, a libertação da classe operária. O Partido é revolucionário, já consegue receber informação do mundo todo através do INVERTA: as FARC’s, os Tupac-Amaru, o Hugo Chaves contra o neoliberalismo; o Barichev esteve aqui por causa do jornal, os companheiros da Itália, esta proximidade com Cuba, conheci através do jornal. E essa oportunidade que estamos tendo de construir, de fato, uma via alternativa de libertação, passa pela refundação.

Minha tarefa também é construir os Comitês de Luta Contra o Neoliberalismo, as bases para o Congresso Popular e Democrático Contra o Neoliberalismo.

No movimento sindical é construir a Greve Geral, pois não basta só o “Fora FHC”, é necessário que dentre as reivindicações do povo esteja a luta por um governo revolucionário de caráter socialista.