Prosul: integração a serviço de Washington

Recentemente representantes de oito países sul-americanos – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai e Peru – firmaram, em Santiago, um documento que propõe a criação do Fórum para o Progresso da América do Sul, a Prosul. Diferentemente de blocos como Unasul ou CELAC, este nasce de um esforço conjunto de uma lumpenburguesia entreguista, com o fim de concertar posições que intensificarão o ataque à autodeterminação dos povos da região e a dependência de seus países aos ditames de Washington.

Recentemente representantes de oito países sul-americanos – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai e Peru – firmaram, em Santiago, um documento que propõe a criação do Fórum para o Progresso da América do Sul, a Prosul. Diferentemente de blocos como Unasul ou CELAC, este nasce de um esforço conjunto de uma lumpenburguesia entreguista, com o fim de concertar posições que intensificarão o ataque à autodeterminação dos povos da região e a dependência de seus países aos ditames de Washington. O “grupo” nasce num contexto de fracasso da mais recente tentativa de golpe contra a República Bolivariana da Venezuela e de severa crise político-econômica interna nos principais países envolvidos, como Argentina, Chile e Brasil.

Historicamente, na América do Sul, dois projetos antagônicos de integração têm-se contraposto desde a dependência política da maior parte de seus países no século XIX: o bolivarianismo, inspirado no ideário do Libertador, o qual afirma uma soberania anti-imperialista e a real integração dos povos do continente, e o monroísmo, fruto das concepções do presidente estadunidense James Monroe (1817-1825), encaminhado pelas oligarquias locais mais comprometidas com a submissão ao governo dos EUA e com a superexploração dos povos. A Prosul alinha-se a esta última concepção.

Os governos de seus países-membros são diretamente alinhados à Casa Branca e têm como objetivo dar continuidade ao avanço do neoliberalismo no atual contexto econômico de crise orgânica do capital. Por este mesmo motivo, apesar de sua feição civil, guardam muitas semelhanças às ditaduras civil-militares que acordaram, em 1968, a Operação Condor. Os povos do continente já demonstraram seu completo rechaço ao projeto de profundo desmantelamento dos direitos sociais historicamente conquistados e subordinação de suas economias em processos de luta que conduziram à ascensão de governos como o de Hugo Chavez e Luís Inácio Lula da Silva no final dos anos 1990 e início dos 2000. Para lograr seus objetivos, portanto, estes governos têm dado passos largos a um fascismo dependente, de forma a garantir, por meio da repressão, os lucros de suas oligarquias financeiras atreladas.

O fracasso do Grupo de Lima e dos Estados Unidos em submeter a Revolução Bolivariana, por meio de uma Revolução Colorida liderada pelo funcionário de Washington Juan Guaidó e por operações de desestabilização na fronteira do Brasil e da Colômbia, levaram ao concerto deste “mecanismo de integração” voltado a ser um espaço permanente de ataque aos governos progressistas e revolucionários da região.

As principais economias sul-americanas enfrentam problemas advindos de sua bancarrota política e econômica e, para suas oligarquias, é de suma importância uma vitória contra processos revolucionários que se apresentam como uma alternativa às suas já evidentes ambições de fazer com que a classe trabalhadora de seus países pague pela crise. No caso da Argentina, os tarifaços, a descontrolada inflação, a queda do salário mínimo real e o registro de um terço da população na condição de pobreza têm levado às principais organizações sindicais a se manifestarem contra as medidas de Mauricio Macri. No Chile, a despeito do crescimento de 4% registrado em 2018, a tendência de desemprego é crescente e está situada em 6,8%¹ e o trabalho informal chegou a 40%² entre novembro de 2017 e o mesmo mês de 2018. De fato, a alta esteve mais relacionada ao aumento do preço do cobre, ou seja, ao uma circunstância temporária, do que a qualquer medida impulsionada por Piñera, já que a agenda legislativa governamental permaneceu paralisada durante todo o ano anterior. No Brasil, por fim, o crescimento pífio do ano anterior e a dificuldade do governo Bolsonaro em aprovar a Reforma da Previdência, dada sua grande impopularidade entre as massas trabalhadoras – as quais voltaram a chamar pela Greve Geral e, com isso, “forçaram” um entendimento entre os novos e velhos setores das classes dominantes locais – têm colaborado para esvaziar sua artificial base política de apoio.

Apesar das palavras do chanceler chileno Roberto Ampuero de que a Prosul é uma “integração pragmática”, “não comprometida ideologicamente” e “sem qualquer tipo de marginalização ou exclusões”, a presença apenas de governos ultra-direitistas e a inexistência de qualquer diálogo com os mecanismos já existentes revelam que, muito distante do apregoado, sua tendência é fomentar uma maior divisão no continente. É bem sugestivo que o representante brasileiro, país que goza de evidente destaque dado o seu tamanho, população e projeção econômica, tenha chegado ao encontro logo depois de uma visita a Donald Trump.

 

Carlos Rodriguez

1- https://www.cnnchile.com/economia/desempleo-chile-aumenta-seis-ocho-porciento_20190301/

2- https://www.ilo.org/global/research/global-reports/weso/2019/WCMS_670569/lang--es/index.htm