Manoel Miguel da Silva - IMPRESCINDÍVEL

O camponês Manoel Miguel da Silva, 81anos, nascido em Cipó Branco, no município de Lagoa Grande, Paraíba, filho dos agricultores Jose Miguel da Silva e Rosa Antonia da Conceição, recebeu no 18º aniversário do INVERTA a comenda imprescindível, pelo trabalho que desenvolve com o jornal. Em entrevista ao INVERTA, o agricultor agradeceu a homenagem e disse que faz o trabalho com o INVERTA com muito gosto.

O camponês Manoel Miguel da Silva, 81anos, nascido em Cipó Branco, no município de Lagoa Grande, Paraíba, filho dos agricultores Jose Miguel da Silva e Rosa Antonia da Conceição, recebeu no 18º aniversário do INVERTA a comenda imprescindível, pelo trabalho que desenvolve com o jornal. Em entrevista ao INVERTA, o agricultor agradeceu a homenagem e disse que faz o trabalho com o INVERTA com muito gosto, pois, “se o povo do nosso país seguisse o que o Inverta fala, nosso país não seria assim sem disciplina”. Seu Manoel, que tem filhos no movimento que luta por um país justo e igualitário, nos narrou um pouco de sua luta desde pequeno, na região seca da Paraíba, e quando chegou no Rio de janeiro, como todo nordestino que construiu este estado. Em suas lembranças ainda há como era a Praça XV antes de ser aterrada, a Praia do Flamengo, a Glória...Ele nunca foi a escola; no entanto, quando sentamos para prosear, nos dá uma excelente aula de história e de Geografia física do Brasil. Isso é o que chamamos sabedoria popular.

Com 5 anos, pegava na inchada para ajudar papai, trabalhava com plantio de feijão, milho...nas terras dos outros de segunda a sexta feira e, no sábado, trabalhava no nosso pedacinho de terra. Era muito duro, pois não chovia; quando as plantinhas estavam bonitinhas, morriam tudo, pois eram anos sem chover, comíamos mari, bredo de porco, mandacaru, feijão com farinha, andávamos mais de 3 km para encontrar água. Com 9 anos, trabalhava em uma usina  com soca de cana de açúcar, papai se virava como podia também, era meio carpinteiro e barbeiro para sustentar uma família de 7 pessoas. Meu pai era um homem bom, mas quando bebia se transformava. Em 45, foi embora de casa eu e meu irmão Severino ficamos responsáveis pela casa, eu tinha 19 anos. Mudamos para Santa Rita, me lembro até hoje, a mudança foi a cavalo, saímos de madrugada e só chegamos na boquinha da noite. Lá o dinheiro também era escasso.

Em 1950, vim embora para o Rio de Janeiro.Diferente dos outros sertanejos que vinham de pau de arara, eu vim de navio. Quando cheguei aqui, achei um lugar rico. Passei a ter uma vida de rico, mesmo tendo uma vida dura, pois fui trabalhar na construção civil, trabalhava como um burro, fiquei na Gamboa, ficávamos como um rato socado na obra. Trabalhava, comia e dormia, mas, em comparação à vida de miséria que tinha na Paraíba, passei a ter vida de “Doutor”, comi muito bem, principalmente carne, passei a vestir e a calçar. Se lá na Paraíba eu tivesse a vida que passei a ter aqui, não teria vindo embora, porque preferia ter ficado na terra onde nasci com minha família.

Também tentei construir a vida em São Paulo, mas não deu certo, pois lá a única alternativa de trabalho que tinha para mim era de bóia fria.Voltei para o Rio, me casei com Rosida e fui construindo a vida. Aqui, tentei me dedicar a terra, participei de duas ocupações, uma em Japeri, me lembro também que os juizes comprados pelos grileiros queriam tirar a gente de lá, mas veio o governador, que na época era Roberto da Silveira, e interferiu pela gente, conforme mais tarde Leonel de Moura Brizola fez, quando estávamos ocupando a fazenda São Bernardino, em Nova Iguaçu, onde inclusive tinha um membro da OPPL, Gesivaldo Gomes Alves. Nesta terra nós não ficamos porque a terra que ficou pra mim e Rosida era ruim, não dava para plantar, e nós só queríamos terra para plantar.

Na época da ocupação de Japeri, vinha um coronel do exército, que também fazia parte da Liga Camponesa, nos orientar dos nossos direitos, ele fazia o mesmo trabalho que fazemos com o INVERTA, ele defendia CHE, Cuba...

Nesta vida já vivenciei uma porção de coisas, imagine até alguns crentes tentaram nos passar a perna. Eu estava em Japeri tentando organizar a vida, chegou um pastor e viu que eu e Rosida éramos trabalhadores, então ofereceu sociedade em uma terrinha que ele tinha, nós fomos, lá era um matagal, não tinha casa para morar, enfiamos a cara no trabalho, roçamos, construímos um barraquinho e plantamos. Quando o cabra viu aquilo tudo, pediu para agente sair da terra, um golpe. Fomos vítimas outras vezes. Desta vez foi em uma possessão de terra, nossa plantação estava muito bonita, veio outro crente e começou a criar confusão, preferimos sair.

Na década de 80, entrei na OPPL (Organização Popular é Pra Lutar), minha esposa encontrou uma professora militante no “Brizolão”, nos apresentou as propostas do movimento, eu e Dida, que estávamos na igreja, aceitamos, entramos para este movimento. A OPPL era forte, estava nas Associações de moradores, sindicatos... me lembro de várias ações que fizemos na época da privatização da Usiminas, paramos a Dutra  entre Comendador Soares e Nova Iguaçu, fizemos greve geral, lutamos pela democratização dos CIEPs. Fui até para São Paulo, em tentativa de unidade com outro grupo, lá acho que queriam envenenar a gente, a quentinha deu dor de barriga em muitos companheiros. Mas ainda to aqui contando nossa História.

O INVERTA é um ótimo jornal, se o povo obedecesse ao que ele fala, o país ia ser muito bom, ia ter disciplina. O que vemos é a desobediência, os grandes estão acabando com nossa riqueza.  Com meus 81 anos, distribuo o INVERTA com muito prazer, porque ele é muito importante para o esclarecimento das pessoas humildes e trabalhadoras. Dou todo meu apoio a meus filhos, que também estão nesta luta.

Finalizo solicitando ao povo que compre e leia mais o INVERTA, para conhecer o trabalho que está sendo feito para o bem do povo e da nação. Aqui tinha que chegar um caboclo com a sabedoria e força como Fidel Castro”.


Osmarina Portal