Associações de Moradores estão ameaçadas

 

A política de enfrentamento e monitoramento por parte dos órgãos de segurança só tem trazido insegurança aos moradores das favelas no Rio de Janeiro. A política do “prendo e arrebento” parece ser a tônica dos últimos anos e tem sido incre-mentada no governo Rosinha Garotinho.

A prisão de líderes comunitários, lideranças em suas comunidades tem cortado o diálogo entre os poderes supralocais (a polícia) e os poderes locais (as associações de moradores). O elo intermediário, o grande comércio de drogas existente em todas ou quase todas as favelas e conjuntos habitacionais da cidade, que dificilmente terá um fim, pelo menos a médio prazo, estabelece uma situação conflitual que dificilmente será resolvida.

Os presidentes e diretores das associações seriam o ponto intermediário para o diálogo entre os dois poderes, o que representa a lei e o que está fora ou contra ela.

A condenação de Antonio Carlos Gabriel, o Rumba, líder comunitário não só do Jacarezinho mas do Movimento Popular de Favelas é sintomática, assim como as ameaças ao ex-presidente da Associação de Moradores da Carobinha, em Campo Grande, Alexandre Silva, sugerem uma falta de diálogo entre os poderes estabelecidos e os representantes de moradores de favelas, mostrando que a política de repressão ainda predomina, apesar dos governos se autodenominarem populares. A prisão de Wiliam de Oliveira, presidente da UPM-MR - União Pró-Melhoramentos, em março de 2005, feita de modo arbitrário (foi algemado), sem direito a responder o processo em liberdade, mostra a truculência do aparelho policial. William deverá ser tra-nsferido para um presídio, apesar de não ter sido condenado judicialmente.

As recentes declarações de Carlos Costa, presidente da Associação de Moradores do Laboriaux, parte alta da Rocinha, deveriam provocar uma reflexão mais profunda nos poderes governamentais. A prometida “descida do morro” visando ocupar o túnel Zuzul Angel, principal meio de ligação entre a Gávea e São Conrado, provocou reação raivosa do secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, que ligou para o diretor do Viva-Rio, Rubem César Fernandes, prometendo prender o líder comunitário da Rocinha, Carlos Costa, que é funcionário da ONG. Se for efetuada a prisão de Carlos as situações conflituais irão se acelerar e deverão ter consequências imprevisíveis, provavelmente aumentando a lista de mortos e feridos, pois haverá conflito iminente, partindo da população local, a sua grande maioria pacífica e ordeira.

A população da Rocinha tem assistido atemorizada as crescentes invasões que tem acontecido quase que diariamente, principalmente por parte do BOPE - Batalhão de Operações Especiais da PM, e da CORE - Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil, invadindo residências e jogando bombas que afetam quase sempre à população carente e ordeira e raramente os soldados do movimento.

O secretário de Direitos Humanos, Paulo Bahia, em recente debate no CIEP Airton Senna, com a presença do comandante do 23º BPM e de líderes comunitários, afirmou em alto e bom som que “tem ficado de mãos atadas”, pois, tem em suas pastas mais de 500 denúncias de violações de direitos humanos, sem que tenha sido movido um centímetro sequer na apuração e punição para os culpados, provavelmente agentes da lei. Em seu discurso, Bahia, que nasceu em favela e é sensível aos problemas que se acumulam, disse ser considerado “um babaca” (textual) por parte da imprensa, por não ter conseguido dar andamento às denúncias dos moradores que tiveram suas casas invadidas e seus filhos mortos.

A Rocinha fica numa posição privilegiada, em área muito nobre da Zona Sul, tendo a especulação imobiliária o sonho de um dia talvez, poder construir parques temáticos e condomínios luxuosos, expulsando para algum gueto seus mais de 150 mil moradores, opinião defendida recentemente por alguns líderes empresariais. Ela é também um grande reduto eleitoral, motivando a cobiça de alguns políticos pouco escrupulosos, que vêem na imensa população de parcos recursos um caldo de cultura ideal para promessas e mais promessas, mas que dificilmente serão cumpridas. Para eles, é melhor ficar como está, para explorar a “indústria da miséria”, onde muitos sofrem e poucos enchem os bolsos.

Parece delírio, mas em tempo de falsos esquerdinhas e de mensalão, muita coisa é possível, aprofundando cada vez mais as contradições que já poderiam estar resolvidas.

Alcyr Cavalcanti