Lançamento de “A Luta dos Marinheiros”, na ABI

O livro “A Luta dos Marinheiros”, de autoria de Antonio Duarte, foi lançado no dia 9 de junho, às 18 horas, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), 7° andar, no Rio de Janeiro. Também foi realizada uma mostra de fotografias na Sala do Conselho, localizada no mesmo local a partir das 17h.

O lançamento de "A Luta dos Marinheiros" lotou a Sala Belisário de Souza, onde foi realizado, numa demonstração de apoio à iniciativa de Antônio Duarte, antropólogo, correspondente do INVERTA na Suécia e membro do Conselho Editorial de INVERTA, em dar esta contribuição à história brasileira, com seu testemunho do que foi a luta dos marinheiros ao resistirem ao Golpe de 64 e pela legalidade, representada na manuntenção do governo de João Goulart, o presidente eleito.

A mesa do evento foi composta pela presidente da Cooperativa INVERTA, Sueli Dantas, que coordenou o ato; o editor de INVERTA, Aluísio Bevilaqua; Antônio Cícero, diretor do CEPPES (Centro de Educação Popular e Pesquisas Econômicas e Sociais); Raimundo Porfírio, presidente do Movimento Democrático Pela Anistia e Cidadania (MODAC); o jornalista Abel Sardina, correspondente da Prensa Latina no Brasil; e Antonio Duarte, que após a saudação dos demais membros da mesa, tomou posse da palavra.

Estiveram presentes representantes de diversas entidades do movimento social, como a Associação de Mulheres de Padre Miguel; a Associação de Lutas dos Não Anistiados; Associação dos Servidores da Justiça do Trabalho; MODAC; Femulher; SINDISPREV; Sindicato Nacional dos Técnicos do Banco Central do Brasil; CECAC; OAB; Casa das Américas, de Nova Friburgo; UMNA; MODECOM; Centro Cultural Latino-Americano Che Guevara; Centro de Estudos Amílcar Cabral; membros do PCML e da Juventude Comunista Marxista-Leninista.

O lançamento foi prestigiado com a presença de seus ex-companheiros de Marinha, estudantes, intelectuais, operários, professores universitários. Dentre estes, seu irmão José Duarte, os atores Edson Nequete, filho de Abílio Nequete, e Idioraci dos Santos; o ex-deputado Vladimir Palmeira, comandante Thales Godoy e sua esposa Josina Godoy, o comandante Paulo Henrique Ferro Costa, Miguel Batista (PCML).

Raimundo Porfírio falou sobre a importância do lançamento: “Companheiros da mesa e do auditório, esse momento é de grande importância para nós, ex-marinheiros, porque estamos repondo a nossa história, que é de grande importância para o Brasil e com a presença dos que lutaram naquele momento para derrubar a mal fadada ditadura. Eu sou representante do MODAC (Movimento Democrático Pela Anistia e Cidadania), que congrega vários marinheiros daquele movimento, evidentemente, que estou falando também em nome de outras entidades de marinheiros. Duarte veio da Suécia diretamente para lançar este livro e hoje encontramos grandes amigos daquela época que vieram prestigiar este evento, isso é muito importante, prova que fizemos realmente história. A história dos marinheiros no Sindicato dos Metalúrgicos, no antigo estado da Guanabara, nos dias 25, 26 e 27 de março de 64, foi marcante na história desse país. O Duarte fez parte daquela diretoria da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, obedecendo o recado deixado pelo grande herói de 1910, o marinheiro João Cândido. Nosso movimento visava continuar aquela luta de 1910, o objetivo do marinheiro João Cândido era modernizar a Marinha e nós, em 64, tivemos a mesma intenção, assim como lutar pelas reformas, que eram um anseio do povo brasileiro e nos engajamos naquela luta. (...). Sou uma pessoa muito procurada para contar esta história, porque hoje estudantes, historiadores, jornalistas pesquisam para saber qual a importância política daquele movimento, porque realmente houve uma grande importância política. Naquela época o Brasil vivia numa convulsão política muito grande e havia a questão das reformas que até hoje não foram feitas. Aqueles marinheiros de 1964 continuam até hoje engajados na mesma luta da época porque ela ainda se faz necessária (...) Muito obrigado”.

Em seguida falou aos presentes, o historiador Antônio Cícero Cassiano Sousa: “Quero em nome da diretoria do CEPPES me solidarizar a este evento do qual participamos e estamos orgulhosos de estar presentes, e contribuir com esse momento de profunda recuperação da história do nosso país. As lutas sociais da nossa pátria, ambas representam, sem sombra de dúvida, um alimento importante, um estímulo para as novas lutas que estamos travando, que são as lutas do povo brasileiro e sua classe operária contra o neo-liberalismo e a dominação imperialista e pela construção de uma sociedade justa, socialista, em nossa pátria. O livro do camarada Antônio Duarte resgata um capítulo extremamente importante dessa luta e tem como foco 1964, na conhecida Revolta dos Marinheiros, mas antecede a um outro marco importante já citado aqui, que é a Revolta da Chibata em 1910, de João Cândido; esta luta, com a luta da qual Antonio Duarte foi um dos protagonistas em 64, a luta pela Anistia e a permanência dessa luta hoje na sociedade brasileira aponta uma direção muito importante (...) Queremos deixar aqui também o interesse em divulgar esse evento da Cooperativa Inverta, do Jornal Inverta e do CEPPES, e que certamente deram um passo importante na recuperação de um capítulo fundamental da nossa história e que tem sido tratado de forma preconceituosa pela mídia e imprensa burguesa. Quero deixar aqui o nosso interesse em continuar estimulando iniciativas como esta. Obrigado”.

Abel Sardina, correspondente da Prensa Latina no Brasil: “Para quem segue há muito tempo o que está acontecendo no Brasil, o lançamento desse livro é importante, pois retrata um fato histórico que teve muita repercussão na luta do povo brasileiro contra a ditadura militar que dominou este país durante décadas. Só quero transmitir uma palavra de homenagem, de respeito e de admiração por todos esses lutadores".

O cientista político Aluísio Bevilaqua, editor do Jornal Inverta e que prefaciou a obra saudou a todos: “Quero agradecer a presença de todos; agradecer ao Duarte por confiar esta tarefa ao INVERTA e à Cooperativa por essa responsabilidade em preparar um livro da importância que este representa, não só para aqueles que lutaram e tiveram uma participação efetiva durante o processo de resistência à ditadura militar e antes, no processo de luta pelo avanço da sociedade brasileira, como foi o caso do Movimento dos Marinheiros e de todos aqueles que estiveram envolvidos durante esse processo de luta que envolveu não só os marinheiros, como também o movimento estudantil daquela época, e um dos seus líderes, Vladimir Palmeira, esteve aqui e todos sabem muito bem a sua importância como protagonista daquele movimento como um todo. O prefácio tem realmente aquilo que eu senti no livro e que em termos gerais é uma experiência de vida e de luta para construir um mundo melhor; vejo isso por diversos ângulos como foi abordado. Todos esses acontecimentos políticos são fatos históricos que se formaram após a luta desse processo de resistência à ditadura que se impôs no Brasil; de certa forma, há uma geração de jovens que estão na luta política, que têm o fogo da juventude e que não conhecem essa história direito, porque cada um conta uma versão diferente. Esse trabalho de resgate da história é muito importante e que a nós, como editora e prefaciadores, é com muita honra que fazemos esta edição, esperando cada vez mais aprimorar. Vamos deixar as palavras ao companheiro Antonio Duarte, ele colocará com melhor precisão a importância de vocês apreciarem o livro. Muito obrigado (...)”.

O autor falou, emocionado, aos convidados: “Gostaria em primeiro lugar agradecer as pessoas que estão presentes, e não só os marinheiros, o livro é “A Luta dos Marinheiros” mas essa história pertence a muitas pessoas que não são marinheiros, é importante frisar a presença aqui do comandante Godoy, que era comandante do navio Barroso, na época em que o Antonio Geraldo Costa transmitiu a mensagem de fundação da Associação e essa mensagem foi considerada posteriormente como subversiva. Ele é um herói de três continentes; o outro é aquele que era o 2° tenente, na época, do Ta- mandaré, e participou de reunião com os marinheiros, o tenente Ferro Costa, que chegava a jogar futebol com os marinheiros e foi proibido pelo fascista José Uzêda, que era comandante do navio. Estes oficiais também foram exemplo para nós, quando escolhi o título do livro também pensei nisso, pois não foram somente os marinheiros e fuzileiros, embora, é claro, era uma expressão da luta dos que estão em baixo, inclusive subtraídos do direito de cidadania. Não podíamos votar nem sermos votados, nem falar nada sobre política; foi isso que nos levou a organizar a Associação dos Marinheiros, a retratar a voz daqueles que não a tinham. Toda a visão do livro não é só uma versão histórica em contradição com aquela que apareceu tanto na imprensa, com a qual não concordamos e que tentava demonstrar que nós éramos incapazes e, até certo ponto, pessoas socialmente desajustadas, porque isso foi o que surgiu na imprensa desse país, inclusive nos associaram às coisas mais baixas; e um general chegou a nos chamar de bandidos, porque havíamos carregado nos braços o almirante Cândido Aragão, que foi outro que também apoiou a luta da associação. E disse assim: “carregaram ele como se estivesse num andor”. A luta dos marinheiros é uma luta que tem que ser vista numa continuidade histórica, os heróis de 1910, 1922, de 1935, aqueles que lutaram pela democracia, pela liberdade, por uma sociedade mais justa neste país, pelo socialismo, porque isso é o que temos dentro de nós. A classe dominante desse país, que eu considero atrasada, negreira; para eles, talvez até os castigos corporais devessem existir até hoje. Essa classe dominante tenta apagar a história das chamadas classes subalternas, dos pobres, dos que lutam, dos trabalhadores, isso porque eles temem a essas lutas, têm um verdadeiro terror a que essas lutas sejam conhecidas, porque para eles o melhor mesmo é esquecê-las. Foi com essa visão que eu escrevi o livro, para mostrar como era a vida interna nos navios, as nossas relações com os superiores hierárquicos, a visão que tínhamos do Brasil, aquilo que pensamos fazer, em reformar a Marinha, e descobrimos em seguida que não era só reformar a Marinha, mas o Brasil. Por isso que nos engajamos na luta pela transformação. Não fomos desajustados coisa nenhuma, nem fomos amotinados, fomos os que defendemos um governo que queria a reforma, essa é que é a verdade. Os verdadeiros criminosos que violaram a Constituição foram o Estado Maior, o Exército, os oficiais superiores que estavam ligados a interesses estrangeiros, mais especificamente aos interesses norte- americanos, que jogavam inclusive com a guerra civil, se tivéssemos pelo menos resistido militarmente, se tivéssemos tido a organização para isto... Eles pensam que ganharam, mas a história tem muitas alternativas, a vida também, e nós estamos aqui para demonstrar isso. É muito importante que as gerações futuras conheçam isso. Agradeço as pessoas que estiveram aqui, obrigado”.

Gilka Sabino

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