A recomposição política no governo Lula

A substituição do ministro Aldo Rebelo (PCdoB), da Articulação Política, é um dos últimos suspiros do eterno aliado petista, na composição de fato desta agremiação partidária da base política de sustentação do governo Lula, PT e aliados. Observando-se, portanto, um papel secundário para este partido.

Após deixar claras suas pretensões para as próximas eleições presidenciais, os grupos petistas no governo Lula procuram força e quebram cada vez mais as possibilidades de alternativas de esquerda institucional e fortalecem suas alianças de centro e à direita, recompondo-se como um governo conservador, neoliberal e anti-popular.

As sobras daquilo que se pretendeu progressista são demonstradas como inviáveis em decorrência dos compromissos assumidos com as oligarquias reacionárias nacionais e imperialistas internacionais representadas pelo PL, PP, PMDB, etc.

Observa-se cada vez mais um afastamento do governo Lula do proletariado e de suas reivindicações, ou até mesmo de bandeiras reformistas de caráter capitalista. Tem aumentado o desemprego, o comércio interno popular, elevam-se as taxas básicas de juros, o crescimento da inflação, enfim, o pauperismo oficial, com a redução dos salários a níveis aviltantes, são demonstrações objetivas desta tendência.

Os programas políticos oficiais do PTB, PSB e até mesmo do PMDB,já procuram demonstrar discordâncias em relação às reformas trabalhista e sindical, propostas pelo governo, que representam, como expressa nosso último editorial, o retorno às condições de acumulação primitiva de capital semelhantes àquelas ocorridas nos séculos XVI e XVII.

Diante destas constatações, o governo fortalece seus representantes nas áreas chaves de sua atuação, como as econômicas, que recentemente reorganizou todo seu gabinete agrupando representantes, inclusive, que serviram ao governo FHC na condução da política econômica de então; as sociais, que continuam permanecendo mais como serviço de propaganda e marketing do que algo sério para o país em função do comprometimento de boa parte do orçamento nacional para o serviço das dívidas interna e externa; e as políticas, onde a queda do ministro Aldo Rebelo representa mais força para o ministro da Casa Civil e para o secretário especial de Comunicação do governo, passando todas as decisões a serem centralizadas pelo PT, retirando a representação de outros partidos, principalmente do PCdoB, que mesmo reformista e adesista ao extremo carrega a fama de comunista, mesmo que lute para não o ser, o que pode criar obstáculos para as pretensões petistas quanto a um segundo mandato de Lula.

O governo Lula, PT e aliados apresenta cada vez mais uma tendência dominante marcadamente à direita e de traição ao proletariado e ao povo pobre, retirando todas as conquistas trabalhistas, domesticando o movimento sindical, e aumentando a flexibilização e a precarização das condições de trabalho, além de desenvolver a taxas insuportáveis o trabalho informal.

Resta ao PCdoB decidir se caminha ao lado do seu aliado “histórico” ou se transfere para as esquerdas institucionais que já articulam uma saída “alternativa” para o país que está sendo entregue às oligarquias financeiras nacionais e internacionais.

Talvez, pela primeira vez no Brasil, vão terminar com a política do fato consumado e das negociações e, mesmo não sendo as condições subjetivas de transformação de nossa sociedade para a Revolução Socialista, pela ausência da classe revolucionária em movimento, além da sua vanguarda, o Partido Comunista, existe uma remota possibilidade dos agrupamentos e organizações de esquerda saírem para o embate às claras pelo poder, mesmo que ainda muito iludidos com as vias legais e eleitorais.

Haroldo de Moura