Na hora do Voto

Quando nos dirigirmos para a cabine de votação e estivermos frente a frente com a urna eletrônica, mais que se preocupar e suar frio diante da “Urna Eletrônica” (máquina de votar), é mais importante lembrar que ao digitarmos o número do nosso candidato e confirmarmos o voto nele, estamos também confirmando um pacto de transferência de nosso poder individual sobre a sociedade tanto para o candidato a vereador quanto para o candidato a prefeito da cidade em que vivemos ou temos domicílio eleitoral. Parece sem maior significado este ato, visto que grande parte da população fica mais preocupada em “como votar na Urna Eletrônica” que acaba por esquecer que o mais importante mesmo não é como votar, mas e sobretudo, em quem se está votando. Afinal, o candidato, se eleito, ficará 4 anos no governo (executivo ou legislativo) e durante todo este tempo, cada voto, projeto ou ação desencadeada por este “representante de nosso voto” será nossa responsabilidade também.

Invoco esta condição do voto propositalmente, pois é comum no sistema “Democrático Burguês”, em que o poder político reside no princípio constitucional eletivo, por maioria de votos, o comportamento popular de considerar que após o processo eleitoral, em que se processa a “escolha” do candidato a vereador e/ou prefeito da cidade, a massa da população não se sinta responsável pelos atos dos governantes. Uma pesquisa recente, realizada pelo Censo, mostra que 82,8% da população pesquisada não acredita que os políticos cumpram, na totalidade, aquilo que prometem nas campanhas, e cerca de 50,8% não acredita que os políticos cumpram absolutamente nada que prometem. Se tomarmos estes dados como uma tendência verdadeira, então isto significa que o exercício do voto nas eleições burguesas em nosso país é precisamente um ato onde os protagonistas não se sentem responsáveis por suas conseqüências, mesmo sendo palavra de ordem de alguns candidatos no horário eleitoral que: “o voto não tem preço, tem conseqüência”!
Mas se esta pesquisa retrata uma verdade sobre o processo eleitoral e o voto no sistema democrático burguês em nosso país, então em que base se assenta a legitimidade resultante deste processo? Eis que um novo mistério se revela e explica a rápida mudança de humor das massas para com os governantes: “elege-o num dia e sai às ruas para derrubá-lo no outro”. Contudo, não é só a base da legitimidade do processo eletivo que está questionado com o resultado desta pesquisa, mas sobretudo a própria legalidade, visto que uma representação legal, ou seja, através do processo eleitoral, longe estaria de ser legítima, pois o ato eleitoral para as massas não passaria de uma tática de sobrevivência: o voto pelo emprego, o voto pela bica d’água, o voto pelo material de construção, a bolsa escola, etc; e nunca o voto por um projeto de governo ou por leis que beneficiem a todos e promovam o bem e o progresso; em última análise, um projeto de governo no qual o eleitor transfira sua representação ao vereador ou ao prefeito e participe e fiscalize o mandato dos seus representantes.

Deste modo, o desenho do processo eleitoral burguês é muito simples: por parte do eleitor um “escambo”, no sentido que representou historicamente esta troca no Brasil entre o nativo e o conquistador; por parte do político uma fraude, pois conquista a “legitimidade” através do escambo, oferecendo “apito” em troca de “diamante”. E este processo é tão mais acentuado quanto mais avançam a crise econômica, as transformações tecnológicas do sistema capitalista de produção e a aplicação das políticas econômicas das oligarquias burguesas – o neoliberalismo –, pois como é sabido por todos, estes fatores impulsionam as massas, em especial a classe operária, para a situação de miséria e desespero na luta pela sobrevivência. O quadro é dantesco, como se todos estivéssemos condenados ao Inferno da Idade Média e a única saída é você ser conduzido por um cego (o poeta Virgílio). No caso das massas no país, nossos cegos enxergam mais que a memória trágica do poeta, pois são destes “cegos” que se constituem os mais de 300 picaretas que comandam o Brasil, da Esplanada dos Ministérios e Congresso, em Brasília, aos mais humildes rincões deste país.

Portanto camarada, na hora do voto, não se pode deixar de lembrar de toda miséria, exploração e opressão do sistema, como ele se forma e quem comanda; sobretudo da responsabilidade que cada um dos que votam tem com a cúpula de crápulas que ascendem aos governos municipal, estadual e federal. Lembrar que eles irão governar por 4 anos e que se os hospitais não funcionam, se você não tem mais como pagar aluguel, se você já não suporta os ônibus superlotados e caros, a falta de segurança, o desrespeito aos cidadãos, o roubo aos cofres públicos, a falta de saneamento, coleta de lixo regular e água, se você já não quer seus filhos fora da escola pública e de qualidade; enfim, se você não quer mais o modelo desumano de cidade que agora começa a transparecer com toda força em nosso país, em especial, nas capitais; então, na hora do voto pense bem, esqueça a máquina e se concentre no candidato, é claro que uma boa escolha não mudará radicalmente a situação do Brasil, em especial, considerando a eleição municipal, contudo uma boa escolha pode ajudar a avançar a luta para uma verdadeira revolução. Assim, camarada eleitor, vá às urnas e vote em candidatos que você possa confiar de fato e cujo objetivo seja o resgate de uma cidade humana, solidária e justa, em oposição à barbárie neoliberal que se intensifica em todas as partes. E que todos saibam, nas três últimas edições de INVERTA temos apresentado nossos candidatos.


Resistir é preciso, vencer é possível!
Por Cidades Humanas, Solidárias e Justas!
Contra o modelo de barbárie neoliberal!
Viva os 13 anos de INVERTA, Órgão Central do PCML!

Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2004 P. I. Bvilla p/ OC do PCML