O Show do Lula

 

Parece até uma brincadeira de mau gosto falar de um espetáculo no governo Lula mas, sem dúvida, foi isso que ele anunciou, em discurso, ao liberar R$ 6 bilhões de crédito para cooperativas e pessoas físicas: “vocês vão assistir, de agora em diante, o show do crescimento econômico do país”. E, digamos de passagem, falou de “boca cheia”. Entretanto, a questão fundamental não está em Lula anunciar aquilo que “sinceramente” acredita ao lançar sua nova campanha: levar o sistema bancário até os “excluídos” ou sobreviventes do mercado informal, a exemplo do que FHC fez com a telefonia. O problema aqui é: será que esta medida visa legitimar o controle das oligarquias financeiras do Banco Central do país, da mesma forma que FHC fez para legitimar a privatização (legitimar aqui é empregado em termos de apoio popular)? Se isto é verdade então, autonomia do Banco Central, indica que estamos muito próximos da privatização do restante das principais instituições financeiras do país: Banco do Brasil e Caixa Econômica.

Contudo é um fato que Lula vincula a bandeira da inclusão “formal” do “mercado informal” no sistema financeiro à liberação de cerca de R$ 6 bilhões do Governo para o crédito à cooperativas e pessoas físicas de até R$ 600 reais, a juros de 24% ao ano. E ele acredita que esta injeção de R$ 6 bilhões na economia se constituirá numa bola de neve que vai tirar a economia da recessão. Mas se é isto que ele pensa, que saiba então: o “Presidente” do Banco Central, o Sr. Enrique Meirelles, do Bank de Boston já anunciou que o crescimento do país (do Produto Interno Bruto) não passará dos 1,5%; o que significa um crescimento menor que o do ano passado, que foi em torno de 1,53%. Quanto às taxas primárias de juros para o capital dinheiro, que realmente faz mover a economia, esta continua em torno de 24%; o que implicam taxas reais de juros no mercado varejista e bancário de até 300%.

Mas, o pior de tudo, é que o espetáculo anunciado por Lula está mais para uma farsa e muito próxima de um pastelão. Sua representação e a de seus pares não é nem um pouco trágica e está cada vez mais distante daquilo que se poderia pensar de um governo que realmente representasse o interesse de classe do proletariado brasileiro. Vejam, por exemplo, a novíssima campanha que Lula anunciou esta semana: “O primeiro emprego”. Ele lançou a campanha dizendo que os patrões criarão 6 mil novos empregos especialmente para este fim, mas o vice-presidente da República, o patrão burguesão Sr. José de Alencar disse: “nós não criamos um único emprego e prometemos criar 10 milhões!”. E o mais engraçado, os dados do Dieese e SEAD, sobre o desemprego, registrou que neste mês o índice em São Paulo se mantém nos 20,5% da PEA (População Economicamente Ativa), ou seja, em 2 milhões; e que nos últimos 6 meses de governo Lula o desemprego aumentou em todo o país e que o desemprego maior foi entre as pessoas com mais de 40 anos e menores de 15 a 17 anos; por último, que a massa salarial decresceu em 10%.


E, agora Lula, a situação está complicada, não é? Intelectuais de prestígio que estiveram ombreados ao PT, durante todo este tempo, começaram a desancar seu governo (vejam o manifesto dos intelectuais de São Paulo: Francisco de Oliveira, Octávio Ianni); a vaia dos sindicalistas, os servidores públicos em guerra contra as reformas, sem-terra invadindo terra e saqueando caminhões com alimentos, a violência chegando ao paroxismo nos centros urbanos – “Chiquinhos, Fernandinhos, Sussuquinhas” –, previsão de crescimento econômico pífio e por último a campanha que era para ser o carro-chefe do governo e cobertor para as reformas política e econômica conservadoras, a “la FMI”, parece que se rasgou ou não deu para cobrir o corpo todo do país. Deste jeito tudo parece se encaminhar para um desfecho tragicômico ou coisa assim: o espetáculo de Lula não passa de uma grande “marmelada”, e tudo acabará em ALCA, em privatização, desemprego e sofrimento da população, mas para a platéia burguesa a risada vai ser geral. Afinal não é todo dia que se escuta um presidente operário dizer que: “primeiro se divide a miséria para depois se chegar ao paraíso!”.

Abaixo a Farsa!

Viva Revolução Comunista!

Rio de Janeiro, 1o de julho de 2003

P. I. Bvilla P/ OC do PCML