2003: Esperança Brasil! Estamos condenados à civilização

Mais um ano se passou, um ano que marcou profundamente a vida de todos no mundo: um ano sob ameaça e terror de uma guerra nuclear, de perseguições, torturas e assassinatos, massacres e extermínio; mas também um ano em que se plantaram esperanças e se edificaram sonhos de um mundo de paz, igualdade e liberdade para todos. Se o mundo se viu perseguido e aterrorizado pelos EUA, em sua insana campanha de terror para controlar as reservas de petróleo mundiais, não é menos notável o esforço e luta das massas oprimidas em todo o mundo para mudar, ainda que limitadamente, esta situação. E assim, apesar das forças do capital e sua contra-revolução, o povo cubano resiste e escreve sua história, reafirmando as conquistas do Socialismo; o povo norte-coreano mantém sua marcha soberana e conquistas socialistas; e o povo chinês demonstra a capacidade do trabalho socialista para superar os terríveis flagelos da fome, miséria, obscurantismo e opressão feudais e capitalistas. Neste contexto, brota um novo ano, período em que as razões históricas nos levam a renovar a esperança na luta por um mundo comunista: um mundo “onde o livre desenvolvimento de cada um seja a condição do livre desenvolvimento de todos”.

É esta a direção, em última instância, para onde marcha toda a humanidade. Observa-se este fato quando dos escombros do holocausto palestino, renasce a luta unindo cada vez mais vozes e punhos de protesto em Intifada contra Sharon e Cia; quando milhares de jovens, homens e mulheres, africanos, europeus, asiáticos e nativos se unem em marchas de protestos contra os muros dos magnatas do petróleo e do capital financeiro (o muro que separa os EUA do México e o Escudo Antimíssil). Mas, o que é mais notável é a força, garra e determinação dos povos em luta nos países sob jugo do capital senhorial e do imperialismo nazi-fascista. Nestes países o preço que a classe operária e massas oprimidas pagam pela entrada na civilização é “sobre-humano”. Vejam os trabalhadores e massas africanas? Ao lado de reservas minerais incalculáveis em diamante, ouro, petróleo, fauna, flora (biodiversidade) amargam escravidão, miséria, fome e epidemias como AIDS, Ebola, Tifo, guerras e extermínio. O imperialismo e sua luta doentia por monopólio de matérias-primas e exploração desenfreada assassinam o continente. Mas apesar de tudo, lá o povo resiste, sacrificando milhares de Mandela, Kabila, Agostinho Neto, Samora Michel, Patrick Lumumba, Amílcar Cabral; e das cinzas da África violentada renasce outra África, que só encontrará lugar num mundo comunista.

O mesmo acontece com a Ásia, que continua afogada no manto de fundamentalismo político e da exploração imperialista. Quem não vê na luta desesperada dos estudantes e trabalhadores da Coréia do Sul, Indonésia, Afeganistão, Malásia, Filipinas o impulso à libertação do julgo do capital? No continente dos “Tigres”, o Tufão de crise econômica e política varreu parte do lixo ideológico da nova economia, que associava a tecnologia cibernética e o medievalismo samurai, abrindo espaço para a história real, onde a China avança para uma liderança sólida e abre espaço para o desenvolvimento do Vietnã e Coréia do Norte. Como na África e na Ásia, na América Latina os mártires são incontáveis e o alto preço que pagam por sua entrada na civilização também. Mesmo mergulhada em poder senhorial, escravidão, miséria e opressão, as massas resistiram historicamente, de Tupac Amarú a Sepe Tiarajú e Zumbi dos Palmares; de Simon Bolívar a José Martí, Máximo Gomes, Josep e Anita Garibaldi; de Farabundo Martí, a Sandino e Emiliano Zapata; de Luiz Carlos Prestes a Che Guevara; de Camilo Cienfuegos a Mariguella e Lamarca; dos Zapatistas ao MRTA e FARCS. Com exceção de Cuba, onde a revolução comandada por Fidel Castro foi vitoriosa e recompensa o sacrifício de vidas e custos econômicos, a luta de resistência das massas no continente continua a exigir o seu preço.

Mas, quem pensar que tudo isto não passa de determinismo mecânico, que “o papel da violência na história” é coisa de retórica marxista-leninista radical, então veja: o recente relatório do Banco Mundial mostra que numa economia global que cresceu em 2002 apenas 2, 8%, devido à Crise Geral do Capital, os países emergentes (países que seguem a via para o capitalismo segundo o receituário neoliberal ou não do FMI) declinaram de 5,2% em 2001, para 2,9% em 2002; e que somente a Ásia passou de 5,5% em 2001, para 6,3%, em 2002. Mas, se engana quem pensar que este crescimento é dos países que amargaram a crise econômica e política da Ásia, entre 1997-2000, “os Tigres”; na verdade, a locomotiva deste crescimento é a China continental, que cresceu de 7,3% em 2001; 8% em 2002, e um crescimento de 7,5% previsto para 2003. Já não se pode dizer o mesmo da parte dos ex-países socialistas da Europa que se renderam à contra-revolução burguesa. Aí o crescimento declinou de 6,6% em 2001, para 2,2% em 2002. Nesta parte da Europa, como no Oriente Médio e Sul da África, cujo crescimento declinou de 3,2% em 2001, para 2,5% em 2002, a tendência é se agravarem cada vez mais os conflitos. O mesmo se pode dizer dos países da América Latina, que pior que a África subsaariana, cujo crescimento declinou de 3,2% em 2000, para 2,9% em 2001 e 2,5% em 2002; viu declinar seu crescimento de 4,5% em 2000, para 1,2% em 2001, e para 0,7% em 2002. Isto sem contar a Argentina; pois a contabilizando no conjunto da América Latina o crescimento foi de 3,7%, em 2000; 0,4%, em 2001; e –1,1% em 2002.

Agora imaginem qual a perspectiva para toda a região se o crescimento previsto é de 1,9% em 2003. Deste modo, fica muito claro que dentro do capitalismo, no atual estágio imperialista, não há mais espaço para novos competidores. O caminho destes países é o conflito cada vez maior; seja com o imperialismo; seja entre as suas classes ou burocracias dominantes e as classes e massas exploradas. Veja o caso do Brasil: aqui, fome, miséria, catástrofes se unem ao desespero dos que lutam. Aqui, chega-se ao limiar entre a loucura, o sonho e a realidade; uma fronteira, onde a luta de classes é desesperadora. As massas pagam sua pena, como um condenado sem direito a sonhos, ao sol, à vida. Tudo o que importa é sobreviver neste imenso Navio Negreiro e não importa se flutuam espumas de sangue ao repicar da chibata. E quando tudo parecia se encaminhar para as oligarquias burguesas consolidarem o seu regime; após 8 anos de um governo neoliberal, quase num réquiem aos 100 anos de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, as massas demonstraram mais uma vez sua bravura e capacidade de luta. Num salto histórico, enfrentando a adversidade, renovaram sua esperança num caminho reformista para o país. É claro que não é uma resistência armada, como em Canudos, mas qual seu significado senão contrariar o poder estabelecido das oligarquias. Em Canudos, os jagunços e sertanejos resistiram à república, porque ela não mudava em nada suas vidas em relação ao império; aqui a eleição de Lula para presidente do Brasil teve o mesmo sentido, o povo resiste ao neoliberalismo porque sabe que sua situação só tende a piorar.

Mas comparações à parte, o que resta saber agora é se o preço que se paga e que se continuará a pagar no Governo Petista de Lula por esta “civilização” valerá realmente a pena. Caso contrário, é importante aqui saber se o determinismo materialista de Euclides da Cunha ao caracterizar o sertanejo nos ajudará na mudança de tudo. Pois neste momento é sempre bom lembrar um outro clássico, da literatura revolucionária, que também completou 100 anos: “Que Fazer”, de V. I. Lênin.

“Com efeito, não é segredo para ninguém que, na social-democracia internacional contemporânea, se formaram duas tendências cuja luta ora se reaviva e irrompe em chamas, ora se abranda e arde lentamente sobre as cinzas de imponentes “resoluções de tréguas”. Em que consiste a “nova” tendência que assume uma atitude “crítica” frente ao marxismo “velho e dogmático”, disse-o Bernstein e mostrou Millerand com suficiente clareza.
A social-democracia deve transformar-se de partido da revolução social num partido democrático de reformas sociais. Esta reivindicação política foi apoiada por Bernstein com toda uma bateria de “novos” argumentos... Foi negada a possibilidade de fundamentar cientificamente o socialismo e de demonstrar do ponto de vista da concepção materialista da história a sua necessidade e a sua inevitabilidade; foi negado o fato da miséria crescente, da proletarização e da exacerbação das contradições capitalistas; foi declarada inconsistente a própria concepção de objetivo final e rejeitada categoricamente a idéia da ditadura do proletariado; foi negada a oposição de princípio entre o liberalismo e o socialismo; foi negada a teoria da luta de classes, por pretensamente não ser aplicável a uma sociedade estritamente democrática, governada de acordo com a vontade da maioria, etc.
Assim, a exigência de uma viragem decisiva da social-democracia revolucionária para o social-reformismo burguês era acompanhada de uma viragem, não menos decisiva, para a crítica burguesa de todas as idéias fundamentais do marxismo...

... Com efeito, se a social-democracia não é, no fundo, senão um partido de reformas, e deve ter coragem de o reconhecer abertamente, um socialista não só tem o direito de entrar para um ministério burguês como deve sempre aspirar a isso. Se a democracia significa, no fundo, a supressão da dominação de classes, por que motivo um ministro socialista não há de encantar todo o mundo burguês com os seus discursos sobre a colaboração de classes? Por que não há ele de conservar a sua pasta, mesmo depois dos assassinatos de operários pelos gendarmes terem mostrado, pela centésima e a milésima vez, o verdadeiro caráter da colaboração das classes? Porque não há ele de participar pessoalmente na felicitação do Tsar, a quem os socialistas franceses outro nome não dão agora do que o de herói do chicote, da forca e da deportação (Rnouteur, pendeur et déportateur)?”.

Eis uma importante passagem desta obra que se deve ler e meditar muito sobre sua contemporaneidade, de fato. Um novo ano está aí. Devemos renovar nossa esperança na luta pela revolução comunista, só ela poderá livrar nosso povo e país das garras do imperialismo, da opressão e exploração do capital. Salve 2003! Salve a Luta Internacional da Classe Operária e massas oprimidas! Viva o Marxismo-Leninismo! Viva o Partido Comunista Marxista-Leninista (Brasil)!

Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 2002.
P. I. Bvilla Pelo OC do PCML