A nova Guerra Imperialista: tecnologia, assassinato e rapina!

A nova guerra imperialista iniciada pelos EUA e Inglaterra, com o apoio dos demais países do “G-8” (Japão, Alemanha, França, Itália, Canadá e Rússia) contra o Afeganistão, confirma, em linhas gerais, as teses marxistas-leninistas da tênue linha que demarca a passagem da crise econômica à crise política e vice-versa, no sistema capitalista. Não se trata de uma mera coincidência de fatos: o agravamento da crise econômica mundial, como demonstram todos indicadores dos principais organismos internacionais do próprio sistema – Banco Mundial, OCDE, ONU e etc. –, o ataque ao World Trade Center e ao Pentágono e o início da guerra dos EUA e Inglaterra contra o Afeganistão visando, em primeira instância, derrubar o governo Taleban e a destruição da Organização Al Qaeda, de Osama Bin Laden, a quem consideram responsável pelo ataque aos EUA. Para além dos fatores circunstanciais, a guerra constitui um método intrínseco ao sistema capitalista como solução das crises cíclicas do capital, respaldando inteiramente as teses de Clausewitz, sobre “a guerra como prolongamento da política por outros meios”. Aqui as palavras de Marx e Engels, no Manifesto Comunista de 1848 constituem a base lógica para esta dedução sobre o caráter da guerra: “E de que modo a burguesia vence tais crises? De um lado, através da destruição forçada de uma massa de forças produtivas, de outro, através da conquista de novos mercados e da exploração mais intensa dos antigos. O que quer dizer, mediante a preparação de crises mais gerais e mais violentas e a diminuição dos meios de evitá-las.” [in Manifesto do Partido Comunista de Marx, Collected Works Vol. 6, 1845-48, Edit. Lawrence & Wishart London, p.490]”.

Neste sentido, a nova guerra imperialista é um acontecimento trágico e significativo porque, além de representar a solução política das oligarquias financeiras para a crise geral do capital, confirma as teses de Marx e Engels que fundamentam nossa análise da luta de classes no complexo quadro histórico atual e suas tendências: agravamento da crise geral do capitalismo (uma crise terminal do modo de produção capitalista) e o desenvolvimento das suas soluções históricas; por um lado, a guerra de extermínio e rapina, como já citamos acima; e por outro, as condições objetivas para retomada da revolução proletária em escala mundial. Neste contexto, a conjuntura internacional se enquadra, perfeitamente, nos “sintomas” definidos por Lênin para se distinguir uma “situação revolucionária”, pois sem esta “é impossível uma revolução”. Embora “nem toda situação revolucionária desemboque em uma revolução”, não se pode negar que no quadro atual há: 1) A impossibilidade para as classes dominantes manterem inalterada sua dominação; tal qual uma crise das “cúpulas”, uma crise na política da classe dominante que abre uma fenda pela qual irrompe o descontentamento e a indignação das classes oprimidas. Para que se instale a revolução não basta apenas que os “debaixo não queiram”, é necessário que, além disso, “os de cima não possam” seguir vivendo como até então. 2) Um agravamento, fora do comum, da miséria e dos sofrimentos das classes oprimidas. 3) Uma intensificação considerável, por estas causas, da atividade das massas, que em tempos de “paz” se deixa expoliar tranqüilamente, porém que em tempos de turbulências são impulsionados, tanto por toda a situação de crise, como pelos mesmos de “cima”, a uma ação histórica independente.

Naturalmente, tais assertivas não se sustentam na idéia do Marxismo como Alcorão mas, pelo contrário, na situação histórica concreta que emerge com a queda da URSS e a crise no socialismo. Com este processo de crise e desestruturação das forças do comunismo no mundo, o proletariado passou de antagonista principal a secundário, temporariamente, na luta contra a classe burguesa e o sistema capitalista de opressão e exploração. A vitória conjuntural da contra-revolução desencadeou a supressão de todas as conquistas da classe operária no mundo inteiro, e em conseqüência, ampliou-se a miséria e a opressão sobre as massas em geral. As concessões arrancadas da burguesia para evitar que o proletariado e as massas exploradas guinassem para o comunismo nascente, durante as primeiras 7 décadas do século passado, sucumbiram ante ao “fundamentalismo” liberal e eufemismo da tese “neoliberal”, de Milton Friedman (Nobel de Economia pelo seu “Capitalismo e Liberdade”). Este credo capitalista, desenvolvido nos laboratórios de Chicago e experimentado na ditadura sanguinária de Augusto Pinochet no Chile (Friedman foi seu assessor), se constituiu na política econômica oficial da contra-revolução imperialista para devastar as conquistas dos trabalhadores - estabilidade, seguridade social e outros direitos, e para entregar a propriedade Estatal aos monopólios privados. A demolição do Estado do Bem Estar Social, precipitou não somente o mundo capitalista, mas toda a humanidade, para uma nova aventura insólita do capital, retornando aos tempos em que as crises cíclicas e as guerras imperialistas (abandonada decisivamente na 2ª Guerra Mundial, devido ao advento do comunismo) ditavam o ritmo do mundo.

Mas as oligarquias burguesas, ao retomar o passado, não importaram de lá somente as idéias da liberdade burguesa, o mercado sobre todas as coisas e vantagem competitiva entre as nações (aplicadas às novas tecnologias e métodos flexíveis de trabalho – CAD, CAM, CIN; Just in time e Kanban; etc.), mas também todos os fantasmas deste passado, entre estes, o islamismo fundamentalista, como base de organização societária (O Estado do Islã); uma arma estratégica proveniente da Idade Média que assacou contra o comunismo, não apenas no Afeganistão (hoje principal campo de batalha e teatro de guerra), mas em todas as ex-Repúblicas Socialistas, tanto da extinta União Soviética, como também do extinto campo socialista – Iugoslávia, Tchecoslováquia, Albânia, nos Balcãs. Recentemente, em Kosovo e Montenegro foi novamente utilizada para destruir o que restava da Iugoslávia (ninguém fala uma vírgula sobre isso). É por isso que Vladimir Putin se apressou em realçar o caso da guerra da Chechênia, na Rússia, como uma guerra contra bandidos. E aí está também porque a luta contra o “terrorismo” uniu, aparentemente, “gregos e troianos”, num mesmo barco; até Fidel Castro, após desfilar na manifestação de 26 de Julho com o neto do Aiatolá Khomeini, foi a público condenar o “terrorismo” (todos sabemos que o terrorismo em Cuba é patrocinado pelos EUA e seus gusanos).

Portanto, a lógica do processo histórico que se desenrola, tendo em vista a luta de classes, é relativamente simples de se compreender: a passagem do proletariado de antagonista principal a secundário, temporariamente, na luta contra a burguesia, devido a crise no socialismo e desestruturação da organização subjetiva do proletariado, desencadeou uma onda contra-revolucionária em todo o mundo, ampliando a exploração e a opressão sobre todos os povos. Este processo fez emergir um novo quadro de resistência das massas, no qual as forças que até ontem eram cultivadas e fortalecidas pelo próprio imperialismo, como aliadas estratégicas na luta contra o comunismo, hoje renegadas e desnecessárias, passaram a protagonizar, em várias regiões, as lutas contra o imperialismo no lugar dos comunistas; marcadamente, no Oriente Médio, África e Ásia; é o caso da Organização Al Qaeda, de Osama Bin Laden e de outros grupos fundamentalistas, ou nacionalistas (militares ou civis, capitalistas ou líderes religiosos, policiais ou bandidos mafiosos). É claro que este raciocínio não encerra o ciclo de contradições que determinam a complexidade da situação na região, pois ele não explicaria o surgimento de Iasser Arafat, M. Kadafi, Saddan Hussein e Khomeini, visto que o primeiro surge da luta pela libertação nacional contra o imperialismo na região representado por Israel, e os demais, de revoluções nacionais no contexto da formação da OPEP contra o domínio das Sete Irmãs sobre a região, através de governos títeres. Mas se a ascensão destas lideranças à vanguarda do povo árabe não se sustenta na luta contra o Comunismo, está de outra forma, vinculado ao enfraquecimento deste último no cenário internacional. Fenômeno que explica também a ascensão de Hugo Chávez e seu Movimento Bolivariano, na Venezuela; os EZLN, em Chiapas no México e o MST no Brasil.

Mas, é obvio também que nos países e regiões onde esta nova ascensão da luta de classes e resistência das massas ao imperialismo, se fundamentou na direção e na organização revolucionária dos comunistas marxistas-leninistas, como é o caso concreto da Colômbia (FARC-EP); ou ainda aonde a vanguarda do proletariado resiste e se mantém na testa do movimento revolucionário sem revisionismo, reformismo, peleguismo, traição e covardia, apesar de concessões e recuos efetuados mediante a conjuntura adversa; pode-se concluir que bastará a classe operária e sua vanguarda consciente, os comunistas revolucionários marxistas-leninistas, se reorganizarem (refundarem seu Partido ou arrancá-lo das mãos dos revisionistas) para voltarem a protagonizar o antagonismo ao regime de miséria, barbárie, opressão e exploração do capital e das oligarquias burguesas sobre as classes dominadas. E a cada momento que avança a conjuntura de crise geral do sistema, mais e mais as palavras de Lênin soam como emergenciais para todos os comunistas: “as mudanças objetivas, não somente independem da vontade dos distintos grupos e partidos, senão também da vontade das diferentes classes (...). E o conjunto destas mudanças objetivas é precisamente o que se denomina situação revolucionária. (...) Porque nem toda situação revolucionária origina uma revolução, senão tão somente na situação em que às mudanças objetivas acima enumeradas se agrega uma mudança subjetiva, a saber: a capacidade da classe revolucionária de levar a cabo ações revolucionárias de massas suficientemente fortes para romper (ou enfraquecer) o velho Governo, que nunca, nem sequer nas épocas de crise, “cairá” se não se o “fizer cair”. (V.I. Lênin, in La Bancarrota de la II Internacional, OC, Vol. 26, p.229).

Entretanto, concluir do atual quadro histórico a comprovação das teses de Lênin sobre o Imperialismo e a balela do “Ultraimperialismo” de Kaustky, não parece difícil, considerando que este último era definido como um estágio em que o capitalismo de monopólio e financeiro através de acordos ou instituições – como o “Consenso de Washington”, AMI (Acordo Multilateral de Investimentos), G-8, OMC, OTAN, ONU, UE, NAFTA, ALCA, MERCOSUL – cessariam a concorrência entre os monopólios, tornando as crises e guerras supérfluas. O que mais se viu nos últimos anos foi justamente a proliferação de guerras. A história mostra que mesmo depois da I e II Guerras Mundiais, da queda da URSS, e do período em que reina quase absolutamente o imperialismo dos EUA e seus megamonopólios, a concentração de capital continua sendo a lei fundamental de acumulação capitalista, gerando novos monopólios e cartéis, e com eles a concorrência entre os cartéis, trusts e sindicatos empresariais e bancários, em âmbito cada vez mais global ou continental; e quanto mais avança o capital monopolista e financeiro, rompendo os limites do Estado Nacional e impondo a sociedade global, se amplia também a abrangência da lei geral da acumulação capitalista, a generalização das crises cíclicas do capital e das lutas de massas pela imediata sobrevivência. As crises políticas e econômicas se instauram na cúpula mesmo do sistema capitalista mundial, e tudo fica por um triz como se pode comprovar atualmente. Depois da derrubada do World Trade Center, está claro “que os debaixo já não querem viver como antes e que os de cima já não podem viver mais como até então”.

Não é necessário dizer, que no limite das políticas anti-crise do imperialismo, está a corrida neocolonial e a partilha do mundo. E se ontem foi possível um consenso do G-8 em Gênova, sobre esta guerra e nova partilha do Oriente Médio e da Ásia, não se faz por esperar seu dissenso na primeira coalizão de governo, pós-guerra do Afeganistão, Palestina, Iraque, Irã ou de qualquer quer outro país escolhido para esta patifaria internacional. Afinal, por trás da Aliança do Norte está a Índia; da mesma forma que estava por trás do Taleban até ontem o Paquistão. Agora para piorar as coisas, chegaram os carniceiros ianques e ingleses querendo dividir ainda mais o bolo. Se as negociações não forem boas, Caxemira explode de vez e o conflito poderá chegar a esfera nuclear. Mas, se não for por aí, ainda estão latentes as situações da Palestina, Iraque, Irã, Taiwan e da Chechênia, que somadas as feridas abertas nos Balcãs, como Kosovo, indicam uma grande propensão da expansão do conflito atual para um quadro mundial de guerra regular entre as potências imperialistas. Não se trata pois, de um guerra apenas para destruição de forças produtivas, conquista de novos mercados e fontes de matérias-primas, mas uma ação desesperada dos EUA para não deixar desintegrar o sistema imperial pela rebelião das colônias. O Oriente Médio e a Ásia ardem atualmente, como a África ardeu e sucumbe na vastidão do esgotamento dos recursos minerais, vegetais, hídricos e humanos pilhados pelo imperialismo.

Aqui tudo se parece tanto com a análise de Lênin, em “O Imperialismo, fase superior do capitalismo”, que até mesmo é possível fazer uma correlação entre a sua ironia sobre o sonho utópico de Saint Simon, de ver na instituição bancária a base de um sistema de centralização e planificação econômica, permitindo a igualdade social e a redistribuição de renda (como, aparentemente, se poderia concluir dos programas sociais do Banco Mundial e do FMI, como o Bolsa-escola e etc...), e o papel que o capital financeiro realmente desempenha no imperialismo, ou seja, indicar que: “O velho capitalismo caducou. O novo constitui uma etapa de transição para algo diferente. Encontrar “princípios firmes e fins concretos” para a “conciliação” do monopólio com a livre concorrência é, naturalmente, uma tentativa voltada ao fracasso”. Assim, não se podia esperar outra coisa do retorno do capitalismo ao seu credo “liberal”. O mais assustador de tudo isto não é constatar a correção da doutrina de Marx, Engels e Lênin, mas o acerto de nossa análise que afirma como tendência geral do quadro histórico atual a evolução desta conjuntura para uma conjuntura de III Guerra Mundial; já que neste momento as bases subjetivas para uma revolução do proletariado mundial, estão ainda muito debilitadas e em alguns casos, vacilantes. É estarrecedor imaginar que toda a humanidade possa estar caminhando para uma situação similar às palavras iniciais do Manifesto Comunista de 1848: “(...) agora abre-se uma luta, uma luta que a cada tempo se encerrou com a reconstituição revolucionária de toda a sociedade, ou com a ruína das classes em luta” (Ob. Cit., p. 482).

Mas neste contexto, em que trágicos acontecimentos como o atentado do WTC e a guerra assassina atual roubam milhares de vidas, como não fossem nada, num aparente retorno “à barbárie”, relembrar as lições da história do surgimento da monstruosidade do nazismo e do fascismo é uma necessidade vital para todos. O nazismo, como uma aposta das oligarquias financeiras, foi alimentado para destruir o comunismo nascente com a revolução proletária de Outubro de 1917, na Rússia. Porém, quando a criatura se voltou contra o seu criador, a força do proletariado organizado não poupou sua energia para abater a fera que ameaçava a todos. Foi a maior doação de vidas, cerca de 20 milhões de soviéticos em defesa da humanidade. Nem o nazismo ontem, nem o fundamentalismo islâmico hoje, são capazes de tal feito histórico. Finalmente, parafraseando Marx, “as armas de que se serviu a burguesia para abater a URSS e o Campo Socialista do Leste voltam-se agora contra a própria burguesia.” E nesta conjuntura já não existe, como anteriormente, a organização subjetiva do proletariado capaz de combater os monstros criados pela burguesia. Resta assim, as lições de Lênin durante a I Guerra Mundial, invocadas do Manifesto de Basiléia, que na essência é:

a) Entender a guerra atual como prolongamento da política imperialista dos EUA e demais países do G-8, de recolonização, opressão e pilhagem por outros meios, precisamente a violência, logo, constituindo-se o mais desavergonhado farisaísmo, o discurso escatológico da guerra em legítima defesa da pátria; b) Que o aprofundamento da crise econômica e política derivado da guerra, possibilita acentuar a agitação política e ações de massas, econômicas e políticas, contra o governo das oligarquias visando o acúmulo de forças e a organização necessária para substituí-lo por um governo de caráter revolucionário; c) Que diante da ameaça concreta da guerra atual evoluir para uma III Guerra Mundial, a luta pela paz no mundo e autodeterminação dos povos, deve se revestir, concretamente, na luta contra o Plano Colômbia, que é o Plano de Guerra e de rapina do imperialismo para o continente. d) E que diante da conjuntura é momento de aprofundar a organização dos revolucionários em todos os níveis para que estejam a altura das tarefas decisivas da revolução que se esboçam pela frente.

Abaixo a Guerra Imperialista, assassina e de recolonização! Viva a Paz Mundial e a Autodeterminação dos Povos! Viva o Partido Comunista Marxista-Leninista! Viva a resistência do povo afegão ao criminoso e terrorista ataque dos EUA e Inglaterra! Proletários de todos os países uní-vos!

P.I. Bvilla

p/OC do PC Marxista-Leninista

Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2001