Crise argentina continua afetando o mercado financeiro

Os rumores de que a Argentina não iria honrar os seus compromissos externos gerou um nervosismo no mercado financeiro, dando uma clara indicação do grau de dependência que o país tem frente aos interesses financeiros internacionais.

Crise argentina continua afetando o mercado financeiro

Por: Lúcio Fernando


Os rumores de que a Argentina não iria honrar os seus compromissos externos gerou um nervosismo no mercado financeiro, dando uma clara indicação do grau de dependência que o país tem frente aos interesses financeiros internacionais.

As constantes oscilações no mercado financeiro tanto na Argentina como no Brasil mostram que o Plano de Conversibilidade do Peso Argentino com o dólar, o euro e yene japonês pode ser uma faca de dois gumes, a tal ponto que o ex-presidente Carlos Menem chegou a afirmar que os argentinos deveriam trocar o seu peso pelo dólar americano o mais rápido possível, pois a conversibilidade de quase 70% do total de moeda cir-culante no país faria com que uma desvalorização fosse um verdadeiro caos para a economia da Argentina.

O plano de conversibilidade do Ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, é uma incógnita para os investidores estrangeiros, mas o Ministro da Argentina quer pressionar os EUA mostrando que o país pode começar a aumentar as suas exportações para os países da UE, embora os saldos entre os argentinos e europeus sejam sempre positivos a favor dos países da União Européia. No intercâmbio da Argentina com os blocos econômicos em 2000, cerca de US$ 31,9 bilhões de exportações de comércio do país com o exterior é com o Mercosul, US$17,5 bilhões com a União Européia e US$ 14,2 bilhões com o Nafta e com outras regiões o total de vendas de produtos argentinos foi US$ 36,4 bilhões. No setor de importações as compras do Mercosul chegam a US$ 28,6 bilhões, para outras regiões do mundo as importações argentinas chegam a US$ 26,3 bilhões, para a União Européia as compras argentinas chegam a US$ 22,8 bilhões e nas trocas comerciais com o Nafta as importações somaram US$ 22,3 bilhões.

Outro dado que pode mostrar que a região da América Latina perdeu os investimentos em 2000 é uma constatação do Relatório Anual para a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), que mostra uma redução de 20% no volume de recursos para a região que chegou em 1999 a US$ 93 bilhões contra US$ 74 bilhões em 2000 e isso pode ser considerado uma perda, já que o volume de fluxos de capitais cresceu 14% no mundo. Em uma reunião conjunta o Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BIRD) que começa hoje na capital dos EUA, os principais dirigentes das duas instituições estão receosos com a crise econômica internacional, principalmente com a desaceleração da economia dos EUA que certamente afetará os países emergentes e em especial os da América Latina. O vice-diretor-gerente do FMI, Stanley Fischer afirmou que a situação da Argentina é dramática, que só pode ser comparada com a crise da Turquia. O medo dos investidores de que a Argentina dê um calote em seus compromissos com os credores internacionais está fazendo o país perder credibilidade nos principais mercados financeiros mundiais. Com isso os títulos da dívida externa da Argentina estão despencando nos principais mercados internacionais. A falsa premissa de que os mercados resolvem tudo na economia está mostrando ser um dos maiores engodos para a população mundial. A globalização e o neolibe-ralismo estão mostrando a sua face perversa de aumento da miséria, da fome e do desemprego a nível mundial.

Segundo a visão marxista, toda crise na infra-estrutura da sociedade, ou seja, as relações econômicas se refletem nas outras relações sociais e políticas da sociedade. As várias mudanças de governo nos países da América Latina estão mostrando que a crise econômica está se refletindo na superestrutura, que são as leis e a governabilidade das nações com a administração voltada para sair da crise. Por tudo isso, a atual ingover-nabilidade dos países latino-americanos tem um exemplo muito claro na crise argentina, em que as mudanças políticas não resolvem a insolvência financeira e a falta de soberania para tomar as decisões que tirem o país do cadafalso em que se meteu.