II turno: a tendência de voto antifhc se confirma

Como já havia esboçado o primeiro turno das eleições burguesas, nas principais cidades do país, a tendência de voto antifhc se confirmou. Neste segundo turno eleitoral, muito mais que no primeiro turno, o voto da população trabalhadora foi taxativo: além de votar contra os candidatos do PSDB, partido de FHC, votou contra também os candidatos dos partidos que dão sustentação ao governo: PFL, PPB, PMDB, PTB e outros que funcionaram como legendas de aluguel. Mas não foi só isso, como demonstra o cômputo eleitoral geral: nas 26 capitais do país, onde reside cerca de 1/3 do eleitorado nacional, a oposição venceu em 12, com destaque para o PT, que conquistou 6 capitais, dentre as quais São Paulo, Porto Alegre, Recife, Belém, Goiânia e Aracaju. Os demais partidos de oposição ficaram, o PDT com 2 capitais, e o PSB com 4, dentre as quais se destaca Belo Horizonte, que é capital do segundo maior Estado em importância econômica no país. Assim o recado das urnas foi claro: nas maiores capitais do país, o povo disse não a FHC, seus aliados e sua política econômica; e além disto indicou também que setor da oposição ela prefere no governo: o Partido dos Trabalhadores.

Sem dúvida, este crescimento da oposição nestas eleições é um acontecimento político de profunda relevância, pois as eleições burguesas, como termômetro do sentimento das massas na sociedade, mostraram que a temperatura está elevadíssima, e que se tudo continua assim, a vitória da oposição nas eleições presidenciais em 2002 é, teoricamente, certa. Logo, uma pá de cal sobre os planos das oligarquias locais e quiçá internacionais. Portanto, se por um lado este resultado indicou uma tendência eleitoral no país favorável à oposição ao atual governo das oligarquias; por outro também criou o espaço para as oligarquias manobrarem politicamente através de táticas que garantam a manutenção do governo em suas mãos, e impeçam a oposição de chegar ao governo. Táticas que impeçam a unidade da oposição, que desmoralizem sua força principal, ou que impeçam a realização do processo eleitoral. É claro que as oligarquias vão jogar também para reverter este sentimento das massas de oposição ao seu governo, desenvolvendo ações nas áreas de impacto e onde as necessidades das massas são mais sentidas, como nas áreas da saúde, educação, emprego, habitação, segurança; mas até que estas ações surtam efeito, o processo de oposição poderá estar avançado demais e a situação irreversível.

Como é sabido por todos, esta vitória da oposição já era prevista por nós desde 1998, ano em que a crise geral do capital explodiu no Brasil. Analisando aquele momento, indicávamos como resultado geral da crise e das medidas tomadas pelo governo das oligarquias, dois momentos da conjuntura: um primeiro em que o governo, se aproveitando do seu aparelho ideológico e o despreparo da esquerda, criaria uma opinião favorável às suas ações – e isto foi tão verdadeiro que as oligarquias chegaram a reeleger FHC –; e um segundo momento em que os efeitos da crise chegariam à população e cresceria a insatisfação das massas para com o governo e sua política econômica – e isto se tornou tão verdadeiro que hoje falamos da vitória da oposição.
É claro que se pode alegar que a atual conjuntura nada tem a ver com a crise que antecedeu e se desenvolveu após a reeleição de FHC, porque os indicadores econômicos atuais são positivos e já se passaram quase dois anos do momento de auge da crise. Sem dúvida, tal fato parece verdadeiro, mas não muda em nada a verdade também concreta de que a atual conjuntura política é favorável à oposição no país. Portanto, se é verdade que o momento atual da economia é positivo, isto não implica que o momento da consciência das massas seja positivo também: por um lado, porque dialeticamente índices positivos da economia se refletem negativamente na consciência das massas, dado que, por experiência própria ou consciência revolucionária, crescimento econômico no capitalismo é acumulação de capital e esta última, acumulação de riqueza para a burguesia e de miséria, exploração e todas as torturas do trabalho, para os que produzem seu próprio produto como capital, os trabalhadores; por outro lado, porque se a vacilação da oposição (falta de clareza teórica e revolucionária) e o controle ideológico das massas pelas oligarquias não permitiram a sintonia temporal entre as condições objetivas e subjetivas na sociedade; agora libertas destas condições, as massas tenderão a solucionar este anacronismo entre economia e política, retomando o processo político de onde foi interrompido: a crise. De outro modo, quanto mais cresça a economia, mais as massas manifestarão sua consciência revolucionária em todas as esferas da luta de classes na sociedade e não somente eleitoralmente.

Mas, até que ponto esta conjuntura favorável à oposição e contrária ao governo das oligarquias e sua política econômica continuará? Esta é um pergunta difícil de responder, visto que a conjuntura atual é resultado de múltiplas determinações. Contudo, não se pode deixar de notar que, ao contrário dos resultados positivos da economia alardeados pelo governo das oligarquias, a situação econômica nacional, continental e mundial, não é tão boa. Na verdade, como reiteradas vezes fizemos questão de afirmar, tudo está por um triz. Para se ter uma idéia, basta observar como crescem as tensões e conflitos no Oriente Médio, na Europa, Ásia, África e América Latina, por causa das fontes de matérias-primas combustíveis, nomeadamente o petróleo. A crise econômica em todo o mundo está em contradição com o boom econômico dos EUA, aliás uma coisa explica a outra; e sendo assim a retração do PIB dos EUA, tão festejada pelos americanos, ao contrário de significar um pouso suave da economia e o fim da ameaça de uma crise de superprodução, significa para a economia mundial desaceleração ou recessão. E o que representa isso para países de economias dependentes, como o Brasil? Menos exportações, menos entradas de divisas, altas taxas de juros, crise no pagamento da dívida externa, desvalorização do câmbio e moeda, enfim, déficit maior e inflação.

Portanto, ao contrário do que a conjuntura econômica aparenta, na essência, o processo revela uma crise do capital contínua e tende a se agravar ainda mais. Além disto, o processo de penúria que passará o continente não será um castigo divino ou catástrofe inevitável, um cataclismo antidiluviano, mas um processo racionalmente concebido e posto em prática através de um plano de ação. É um Plano que visa tornar o pouso da economia dos EUA suave para os americanos e não para os latinos. É o que se pode deduzir do famigerado "Plano Colômbia" lançado pelos EUA para atenuar o impacto da crise do capital junto aos americanos. Neste aspecto o Plano se destina a três objetivos: a conquista de novos mercados (mercado de drogas e o mercado verde, petróleo); intensificação da exploração dos mercados já explorados (implantação da ALCA) e destruição das forças produtivas já desenvolvidas (guerra química e bacteriológica, guerra suja e guerra convencional); ou seja, tudo como reza a velha cartilha do capital nos momentos de crise cíclica. E neste caso, independente da posição que o governo das oligarquias no país tome em função do "Plano Colômbia", ou seja, da Guerra contra as FARC-EP e pela ocupação da Amazônia, a conjuntura nacional tenderá a esquentar ainda mais, as dificuldades nacionais crescerão com os custos da guerra e a atmosfera revolucionária fervilhará entre todos os trabalhadores e massas exploradas do continente.

Deste modo, a conjuntura que se viverá no Brasil será marcada por profundas e intensas comoções econômicas e sociais, logo uma conjuntura de crise revolucionária, cuja propensão é desenvolver aceleradamente todas as condições subjetivas para que se instaure uma revolução de fato no Brasil, a exemplo da situação continental. Quem observe as contrações e dores do parto no Equador, Peru, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai, Argentina, Venezuela e, particularmente, Colômbia, aqui do Brasil, não terá dúvidas quanto a este processo. Nela o que mais se realça é a luta quase desesperada das massas operárias e camponesas para sintonizar as condições objetivas com as subjetivas, ou seja, em todo o continente se reflete, com toda intensidade, a crise na organização subjetiva do proletariado e a necessidade absoluta da sua solução para que a crise revolucionária chegue a uma revolução de fato. Acreditar que é possível solucionar a situação de exploração, miséria e opressão vivida pela classe operária e massas exploradas sob o capitalismo, através do processo eleitoral burguês e dos partidos burgueses e pequenos burgueses, é o mesmo que esperar por uma quimera, pois como nos disse Engels: "A libertação da Classe Operária será obra da própria Classe Operária!" Portanto, entre sonhar com a vitória e aguardar o processo eleitoral burguês, a tarefa dos comunistas revolucionários, na presente conjuntura, é lutar pela organização do Partido Comunista, Marxista Leninista em todo o país e na América Latina como um todo. Somente um Partido de Vanguarda poderá construir um grande movimento revolucionário envolvendo todos os aliados estratégicos do proletariado, sob a mesma diretriz estratégica e tática.

Assim: Viva a Revolução Proletária! Viva a luta pela organização do Partido Comunista Marxista Leninista! É na luta de classes que se constrói o Partido e o Movimento revolucionário!