Os coronavírus e o enfrentamento da Covid-19

Os Coronavírus não são um novo tipo de vírus, fazem parte da subfamília Orthocoronavirinae, da família Coronaviridae, da ordem Nidovirales, conhecidos desde meados dos anos 60 do século passado. Desde então, passaram por mutações e foram identificados em 2002 os primeiros casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS - Severe Acute Respiratory Syndrome), causada pelo coronavírus nomeado SARS-CoV; e em 2012, quando se manifestou uma epidemia de síndrome respiratória no Oriente Médio, causada pelo coronavírus MERS-CoV.

Os Coronavírus não são um novo tipo de vírus, fazem parte da subfamília Orthocoronavirinae, da família Coronaviridae, da ordem Nidovirales, conhecidos desde meados dos anos 60 do século passado. Desde então, passaram por mutações e foram identificados em 2002 os primeiros casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS - Severe Acute Respiratory Syndrome), causada pelo coronavírus nomeado SARS-CoV; e em 2012, quando se manifestou uma epidemia de síndrome respiratória no Oriente Médio, causada pelo coronavírus MERS-CoV.

O novo coronavírus, denominado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como SARS-CoV-2, causador da Covid-19, é um vírus que se manifestou no final do ano passado na província de Wuhan, na China, possivelmente de um processo de mutação viral. E, ao contrário do que a xenofobia e as fake news tentam divulgar, não existe nenhuma comprovação científica da relação entre os hábitos alimentares da culinária chinesa e a mutação do coronavírus. As mutações virais são extremamente comuns, inclusive e especialmente em famílias de vírus com RNA, como é o caso dos coronavírus. Não vemos ninguém chamando o vírus Influenza, causador de diversas pandemias, de “vírus americano” ou “vírus europeu”, territórios onde a maior parte dessas mutações ocorreram.

Estes fatos mostram o quão ignorantes e estúpidas são as declarações do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, ao ofender o povo chinês, que, aliás, é o principal parceiro econômico do país e o único disposto a oferecer ajuda para o combate à pandemia.

Outras das fake news divulgadas para disseminar a confusão entre a população é de que a Covid-19 é uma doença pouco mortal e, portanto, não deve ter tanta atenção e mobilização em seu combate.

A Covid-19 realmente não tem, entre as doenças de origem infectocontagiosa, a maior taxa de mortalidade, porém, não se deixe enganar, o inédito e extremamente perigoso nesta doença é sua altíssima, diria talvez nunca vista, capacidade de disseminação. Nunca um vírus causador de síndrome gripal se disseminou e infectou tantas pessoas ao redor do mundo de maneira tão rápida.

Se por um lado é verdade que outras doenças são mais mortais, estas acabam atingindo um número muito menor de pessoas em período similar. Este fato faz desta doença, como declarou a OMS, uma pandemia de proporções apocalípticas. Em apenas algumas semanas a infecção é capaz de saltar de dezenas para milhares de casos e logo para centenas de milhares, causando não apenas a morte de 1 a 3% das pessoas que contraiam a doença, especialmente dos que estão no grupo de risco, mas também o colapso do sistema de saúde, ocasionando a falta de leitos de UTI para pessoas que sofram infartos, acidentes vasculares cerebrais, acidentes automobilísticos e todas as outras condições de saúde que não desaparecerão. Lembrando que o sistema já funciona com pelo menos 80% dos leitos de UTI ocupados. Todavia, não queremos o povo amedrontado, mas sim orientado, organizado e combativo.

O Sistema Único de Saúde (SUS) é um exemplo e um marco civilizatório para o povo brasileiro, garantindo a saúde como um direito e não uma mercadoria, afirmando que a vida dos seres humanos não pode ser vendida ou comprada e que qualquer pessoa em território brasileiro teria direito e acesso aos serviços de saúde, independente de nacionalidade, credo religioso, condição socioeconômica, etnia, naturalidade, gênero, orientação sexual e posicionamento político.

O SUS é construído e realizado diariamente por uma massa de trabalhadores e trabalhadoras que realizam a grande proeza de mantê-lo de pé e funcionando, atendendo mais de 200 milhões de pessoas; mesmo com todo o esforço realizado pelos empresários do ramo de saúde, que são, na verdade, mercadores da doença e gostariam muito de vê-lo destruído.

Mesmo tendo que lutar contra a escassez de verbas e insumos, a constante campanha de difamação e desprestígio contra o SUS e àqueles que o constroem segue firme e de pé, sendo o único sistema público e universal de todo o planeta e toda a história humana a atender mais de 100 milhões de pessoas. Este será um feito para sempre lembrado como uma das grandes realizações do povo brasileiro.

Entretanto, mesmo o SUS sendo esse grandioso programa de assistência e inclusão social, não seria capaz de resistir ao aumento súbito na demanda por leitos de alta complexidade, especialmente durante o atual governo, que não só cortou verbas da saúde como também fechou leitos e demitiu mais de 11 mil médicos do programa Mais Médicos, em sua maioria cubanos, os mesmos que hoje ajudam a salvar vidas na China e na Itália, médicos e médicas que atuavam, em sua maior parte, em regiões de grande pobreza e de difícil acesso no país.

O panorama diante de nós é preocupante e desafiador. As medidas tomadas pelo atual governo são escassas e propositalmente ineficazes. O Brasil tem no começo de abril uma curva de ascensão de infectados e mortos maior que a dos EUA durante o mesmo período do curso da infecção, sendo o estado de São Paulo o epicentro dos casos de COVID-19 e mortalidade pela doença. O falso conflito entre Bolsonaro e o governador do estado de SP João Dória é show para inglês ver.

Dória, quando prefeito, cortou verbas e tentou fechar unidades de atendimento, e enquanto governador é 100% aliado às políticas neoliberais do ministro Paulo Guedes, que lidera os ataques ao povo trabalhador. Já Bolsonaro, irresponsável e despreparado, agita a população para abandonar o isolamento social (única medida epidemiológica que até o momento tem demonstrado eficácia na diminuição da progressão dos casos), colocando o povo contra a ciência e os profissionais de saúde e levando o país ao risco de sofrer com milhares de mortos.

Os governos Bolsonaro e João Dória têm demonstrado dia a dia com quem está seu compromisso, e não é com o povo brasileiro, mas com a burguesia senil e decrépita.

O capitalismo chegou a um estado de decomposição e infâmia tão grande que hoje propõe aos trabalhadores sacrificar a parcela mais idosa, mais pobre e mais vulnerável, como os que sofrem de desnutrição e de condições que comprometem a imunidade e que, por sua vez, sofrerão mais com a infecção em nome do lucro dos empresários.

E que não venham agora nos dizer que estão preocupados com o bem-estar dos trabalhadores e trabalhadoras quando, até outro dia, comungados ao congresso e ao governo, tiravam nossos direitos, reduziam nossos salários, marginalizavam nossos jovens, tiravam verbas da educação de nossos filhos, mandavam embora nossos médicos, fechavam as farmácias populares de onde ganhávamos nossos remédios; vendiam e queimavam nossas florestas, assassinavam nossos índios, e perseguiam os que entre nós se rebelavam.

Tudo isso contrasta fortemente com as medidas tomadas pelos povos que vivem em países socialistas. Diante dos milhares de mortos nos países centrais do capitalismo, tanto na Europa como o próprio EUA, que já cavam covas comuns para enterrar seus mortos, países como Cuba, China e a República Popular Democrática da Coreia mantêm os casos sob controle.

Para a medicina social, a história de uma doença é sempre a história de vida do doente, e, assim sendo, é perfeitamente compreensível que os países socialistas, mesmo muitas vezes tendo recursos mais escassos que a Europa e os EUA, conseguem ter menos casos e menos mortos. Os cidadãos desses países hoje apenas precisam se preocupar em se proteger da infecção e proteger sua comunidade. Ao contrário dos países capitalistas, onde parcela da população precisa pensar no que vai comer no dia seguinte, se haverá atendimento médico quando fica doente, se haverá demissões em massa, se a violência, fruto da pobreza e da miséria, aumentará, se haverá dinheiro para comprar os medicamentos quando necessário.

Não nos preocupa aqui também afirmar o oposto dos que, desde o pântano, claudicaram da defesa dos objetivos de nossa classe de que existem grandes diferenças entre o capitalismo senil e apodrecido e o socialismo.

O socialismo, ao contrário do que se afirma, não acabou. Ele se planta e se desenvolve ao redor do mundo como fruto das próprias contradições do capitalismo e sua crise orgânica, seu futuro radiante se enxerga, para os que sabem analisar o mundo, brilhando cada dia mais forte no horizonte.

Exemplo dos grandes feitos desse futuro é o desenvolvimento do medicamento cubano Interferon Alfa 2-B, uma mostra do que a humanidade é capaz quando a ciência não é refém do capital, mas se encontra a serviço do bem-estar do povo. O medicamento, que é um imunomodulador, foi utilizado em Wuhan, na China, com alta eficácia e diminuição da morbimortalidade; em oposição à polêmica cloroquina, medicamento utilizado no combate à malária que tem sido alardeado como salvação, mesmo não tendo demonstrado diminuição da mortalidade nos estudos. Não impressiona saber que a família Trump é acionista de empresas farmacêuticas produtoras da droga.

Michel Damasceno

Médico formado na Escola Latino-Americana de Medicina (Cuba), atua no Sistema Público de Saúde do Município de São Paulo, membro do CNLCN