Hugo Chávez: de Sabaneta à história

Caracas, 6 mar (Prensa Latina) O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, líder inquestionável da Revolução Bolivariana, traçou ao andar um caminho que o levou de Sabaneta, no estado Barinas, à história devido à profunda transformação que promoveu no país.

Nascido em 28 de Julho de 1954 nessa cidade nas planícies de Barinas e falecido nesta terça-feira em Caracas, foi o segundo de seis filhos de Hugo de los Reyes Chávez e Elena Frías, ambos professores de educação primária.

Reconhecido por uma personalidade única, capaz de captar os mais diversos sentimentos populares, recebeu em sua formação a influência militar ao ingressar em uma escola desse tipo em 1971.

Depois de quatro anos de estudo, se formou como subtenente e licenciado em Ciências e Artes Militares, iniciando uma carreira na então Força Armada Nacional, na qual chegou em 1990 ao grau de Tenente Coronel.

Este processo lhe proporcionou o conhecimento dos mais distantes lugares do país e da crítica situação na qual sobreviviam milhões de venezuelanos.

Seguidor do pensamento e da obra do Libertador Simón Bolívar, Chávez também cursou pós-graduação em Ciências Políticas, estudos que estruturaram e sistematizaram desde cedo suas inquietudes políticas e sociais.

Foram precisamente essas inquietudes a origem da fundação em 1982, junto com outros oficiais do corpo militar, do Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR200), no meio de uma deteriorada situação socio-política no país, que conduziu, em 1989, à explosão popular conhecida como O Caracaço.

A Venezuela dos anos 80 e 90 do século passado se caracterizou pelo esgotamento do modelo neoliberal guiado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e imposto por governantes venais e corruptos. O resultado desse modelo foi um país com milhões de pobres, apesar das imensas riquezas geradas pela exploração do petróleo.

É nesse cenário que lidera, no dia 4 de fevereiro de 1992, uma rebelião cívico-militar contra o presidente de turno, Carlos Andrés Pérez, que terminou em um fracasso, mas o "por ahora" ("por enquanto"), pronunciado por Chávez ao assumir publicamente a responsabilidade por essa ação, converteu-se no ponto de partida de um processo político que transformaria o país.

Por esses acontecimentos, Chávez esteve dois anos na prisão, de onde saiu fortalecido ideológica e politicamente, fundando então o Movimento V República.

Depois de sua libertação, começou um trabalho social e político por todo o país, além de trazer a suas filas estudantes, profissionais, pequenos e médios empresários, camponeses, pequenos produtores, pescadores, mineiros, indígenas, operários, mulheres, jovens, militares, dirigentes locais e quase a totalidade da liderança de esquerda venezuelana.

Tudo isso sob as bandeiras de resgate do pensamento bolivariano e da convocação a uma Assembleia Constituinte para refundar o Estado, recuperar a soberania popular e nacional, assim como transformar a estrutura de exclusão social das grandes maiorias.

Dessa forma, participou das eleições presidenciais de 6 de dezembro de 1998, apoiado pelos partidos Comunista (PCV), Pátria Para Todos (PPT) e outros que mantinham então posições de esquerda.

Nessas eleições, Hugo Chávez foi eleito com 56,2% dos votos válidos e se converteu no 47o presidente da Venezuela, apoiado pelo voto popular com a então segunda mais alta porcentagem obtida por um candidato presidencial em quatro décadas.

Depois da tomada de posse, em 2 de fevereiro de 1999, os fatos aconteciam com inusitada rapidez.

Um referendo constituinte, a elaboração de uma nova Constituição em substituição à de 1961 e sua aprovação pelo Parlamento em 15 de dezembro, marcaram o primeiro ano de governo e criaram as bases de um profundo processo de reformas políticas, econômicas e sociais que continua atualmente.

Em virtude do que foi estabelecido na nova Constituição Bolivariana, foram convocadas eleições gerais para o ano seguinte, a fim de reafirmar todos os cargos de eleição popular, incluindo a Presidência, e nessa processo Chávez foi ratificado ao obter 59,76% dos votos.

A batalha política era intensa, pois as medidas levadas a cabo pelo governo para estabelecer a soberania e consolidar a independência, entre elas a Lei de Hidrocarbonetos de 2001, dedicada a recuperar os recursos derivados do petróleo, despertaram contra esse projeto os setores mais ricos do país, que contaram então - e agora - com o apoio dos Estados Unidos.

O golpe de Estado de abril de 2002 e o paro petroleiro (greve patronal) de finais de 2003 e princípios de 2004, foram as tentativas mais graves da oligarquia venezuelana, associada a interesses estrangeiros, de se livrar de Chávez e recuperar o controle do país, frustrados pela resistência popular e pela maioria dos militares.

Ao mesmo tempo, começaram a ser implementadas missões sociais, entre elas Barrio Adentro (Favela Adentro) para atenção médica gratuita à população de baixa renda, e Mercal, resposta às carências provocadas pelo paro petroleiro e dedicada a fornecer alimentos a preços acessíveis aos venezuelanos.

Depois de superar o referendo revocatório promovido pela oposição em 2004 e ser reeleito nas eleições presidenciais de 3 de dezembro de 2006, Chávez governou o país durante 2007-2012 com um crescente apoio da maior parte da população, que o vê como o líder que a tirou da exclusão perpétua e mudou sua vida.

As eleições de 7 de outubro do 2012 levaram à reeleição do mandatário, iniciando assim um novo período 2013-2019, com o apoio de 55,07% dos eleitores, ou oito milhões, 191 mil 132 votos, em um processo no qual a participação chegou a 80,4%.

leg/mem/cc