A busca pela paz com justiça social na Colômbia

Estima-se que na Colômbia, país afetado por mais de 50 anos de guerra interna, mais de 6,5 milhões de pessoas foram prejudicadas pela mesma e que, entre elas, mais de 200 mil morreram produto da violência, na qual têm participado não somente as guerrilhas e as forças militares do Estado, senão que também paramilitares e grupos criminosos associados ou não ao narcotráfico, entre outros atores.

Esses números aterradores são, no entanto, apenas um singelo reflexo do verdadeiro drama social que sofre o país, pois a maioria corresponde aos últimos 30 anos, quando essas vítimas começaram a ser contabilizadas; mas não são as únicas.

A elas teria que somar centenas de milhares de ameaçados, desaparecidos, sequestrados, torturados ou vítimas de violência sexual ou econômica. Estima-se que cerca de 95 mil homicídios foram cometidos durante esses anos, e mais de 540 mil pessoas sofrem pelo assassinato de um ser querido.

Desde 2011, apesar de estar em desenvolvimento em Havana, Cuba, um processo de diálogos de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (FARC-EP) e o Governo, o número de vítimas continua crescendo. Segundo fontes institucionais, só em 2012 o conflito somou mais de meio milhão de novas vítimas. Isto foi amplamente denunciado pelas FARC-EP e pela ex-senadora Piedad Córdoba, do Movimento Marcha Patriótica (Movimento que se consolidou em 2012 e que já sofreu a perda por assassinato de mais de 60 de seus militantes nesses poucos anos).

No fundo do conflito está o problema da propriedade e do uso da terra. E o que tem ficado em evidência através de tudo o que está sendo exposto é de que a guerra não iniciou com o surgimento das FARC nem com o de nenhuma outra guerrilha, senão que sua origem está na violência da acumulação capitalista no país. Depois do chamado pensamento único e do “fim da história”, laboratórios políticos e linguísticos para a fábrica do pensamento neoliberal criaram novas acepções tentando descrever as velhas políticas, que semearam a humanidade com violência e horror, de tal maneira para beneficiar seus interesses.

Centra-se o problema da guerra como se se tratasse de um assunto entre protagonistas armados ou de dois grupos, ocultando a responsabilidade do Estado (o peso de suas políticas econômicas), a responsabilidade dos políticos (que por constituição exercem o poder e são a instância legal das decisões que têm a ver com a guerra e a paz), do empresariado (que ajudou a financiar o paramilitarismo) e a responsabilidade de outros sujeitos ativos na instigação do conflito, como é o caso da grande imprensa, que desinforma, manipula a consciência nacional e aniquila a verdade.

Um dos objetivos centrais dos diálogos de paz é de dar um contexto histórico ao confronto político, social e armado para estabelecer bases sólidas para a definição da Verdade e das responsabilidades sobre o conflito e a guerra.

Nesse esforço, demonstra-se que entre os anos 30 e 70, o conflito pela terra está marcado pela violência política e nesta se acentua o conflito partidário liberal-conservador que, em grande parte, girou em torno do despojo da terra e da expulsão da população rural. Fenômeno que é fator causal primordial do surgimento do movimento de resistência armado que se converteu em guerrilha.

Portanto, é necessário assinalar que ao contrário do que se diz sobre os problemas da violência serem causados pela existência das guerrilhas na Colômbia, as guerrilhas surgiram como consequência da opressão que as elites oligárquicas associadas ao imperialismo submeteram a população.

A submissão aos interesses estrangeiros por parte dos governos e o tratamento brutal aos trabalhadores tem sido uma constante que se estende até os dias de hoje quando a reprimarização da economia e a entrega dos recursos aos interesses transnacionais são acompanhadas de morte e do terrorismo de Estado.

Em cada ponto que tem sido abordado nesse processo de diálogos de paz, as FARC-EP têm apresentado análises que abordam a totalidade dos problemas que devem ser tratados, e ao mesmo tempo, exposto suas posições sobre a situação da crise econômica, política e social do país, incluindo de maneira especial a profunda crise humanitária gerada pela guerra suja e pelo terrorismo de Estado, fatores causais do confronto.

“Não há paz justa sem reformas estruturais. Por isso, falamos da necessidade de assinar um Tratado de Paz, pois o acordo deve pôr um fim à guerra e isto implica pôr fim às causas que a geraram, adequando soluções expostas de maneira clara, integral, objetiva e ordenada com garantias -e não simples promessas, sobre os assuntos da vida nacional que estão compreendidos no Acordo Geral de Havana e sua Agenda- que têm a ver com a superação da miséria, da desigualdade e da ausência de democracia”, disse  Jesús Santrich, porta-voz da delegação de paz das FARC-EP.

Para isso, têm insistido em que a população tenha a maior participação possível na construção desse tratado, instrumento de suma importância. Assim, desenvolveram vários mecanismos que propiciem esse envolvimento no debate e nas tomadas de decisões.

A conquista da paz não será possível se não há mudanças de fundo em matéria econômica e política. Estas mudanças obrigam a pôr fim ao neoliberalismo, a partir do estabelecimento da democracia e da materialização progressiva da justiça social.

“O conceito de paz, não pode continuar sendo instrumentalizado, nem manipulado de maneira utilitarista e simplista, pretendendo instalar no imaginário coletivo a ideia de que a paz é o desarmamento da insurgência. O caminho verdadeiro da reconciliação inicia com o reconhecimento dos direitos plenos da população e da realização das transformações sociais que o povo reclama nas ruas. Não é nada coerente com um discurso de paz continuar desperdiçando os recursos nacionais no fortalecimento bélico, ou continuar com o processo de reprimarização da economia, em sua degeneração extrativista e no aumento da dinâmica especulativa do capital financeiro, etc., que destroem a soberania e entregam o país às transnacionais”, segundo Santrich.

Sem mudanças estruturais certamente não será possível a assinatura do almejado Acordo Final, porque um compromisso de paz verdadeira vai para além de sua referência à finalização do conflito armado. Um compromisso de paz verdadeira se dará quando se solucionem os problemas que deram origem ao conflito em todas suas dimensões e que permitem que ele continue aterrorizando a população do país. Ou seja, quando se dão as mudanças das condições estruturais. E é isso que buscam aqueles que estão direta e empenhadamente envolvidos na construção desse processo de paz. Sendo determinante a vontade política das partes em diálogo para ultrapassar os obstáculos e chegar a um acordo final que garanta uma paz estável e duradoura, e um futuro promissório para a Colômbia.

Sem mais massacres! Não ao terrorismo de Estado na Colômbia! Abaixo à guerra suja dos EUA na América Latina! Abaixo ao imperialismo! Todo o apoio a luta das FARC-EP e do povo latinoamericano! Viva o socialismo! Marulanda Vive!

Tânia Sánchez