América Vermelha e Ordem Hermética
O INVERTA nesta edição, entrevista as bandas América Vermelha e Ordem Hermética, compostas por jovens que falam de Revolução, Liberdade e Amor pela humanidade e o Proletariado em particular, através da música e do trabalho militante do dia a dia. Se apresentaram nos 19 anos do INVERTA e recentemente no 6º INVERARTE na Baixada.
Os integrantes do América Vermelha são Pedro Monteiro (vocal e guitarra), Alessandro Almado (bateria e vocal), Cristiano Martins(baixo).
O Ordem Hermética é composto por Vinícius (guitarra), Peter (vocal), Fábio (baixo) e Tiago (bateria).
América Vermelha
INV - As origens do América Vermelha.
P - Surgiu da ideia de montar uma banda para se apresentar nos 17 anos do Jornal Inverta, a partir daí resultou na continuidade da ideia e nos apresentamos até hoje nas comemorações do Inverta. isso nos encorajou a se apresentar em outras atividades em outros lugares, bairros proletários, onde a juventude necessita de uma luz no fim do túnel, de uma direção e o América Vermelha veio dessa ideia: levar ao jovem proletário a ideia do socialismo, de uma nova sociedade, de não cruzar os braços e deixar a “vida nos levar”.
A - Pedro foi quem me convidou para participar desse projeto, apresentou as letras, as músicas, uma mistura de rap com rock, interessante, com cunho social e político, topei em participar.
C - Sou amigo de infância de Alessandro, que me chamou, Também gostei das músicas e achei legal o conteúdo, então topei.
INV - Qual é o estilo de vocês?
P - Chamamos de rapcore, inicialmente, nós não nos limitamos a deixar de usar nada, tanto dentro do rap, quanto do rock, desde que se encaixe na harmonia da proposta.
A - Temos uma mistura de rock com rap, mas sem um estilo definido. O importante é trabalhar pra música.
C - Tem música que tem até pegada de samba.
INV - O som e as letras.
C - As letras são com o Pedro, agora que estou ajudando um pouco nos riffs. Não achávamos que ia dar tão certo quanto deu, quando entrei já tinha cinco músicas prontas.
A - Pedro trouxe as letras, a ideia harmônica, as músicas, mas cada um tem suas influências, tem algo a contribuir, vamos mesclando as coisas e sai esse som nosso do A.V.
P - As letras sempre fundamentadas, claro, dentro do materialismo-dialético, digo isso, porque não podemos ter medo de falar de ciência política, quando direcionamos uma arte, algum tipo de letra para os jovens proletários e tudo mais, a própria história já comprovou que as pessoas conseguem fazer essa alusão, as pessoas tem isso em mente, mas o que falta é o acesso as informações, as pessoas não ficam boiando, a mídia às vezes chama a música de melô, porque acha que o povo não sabe falar o português correto, enfim, quando digo que são fundamentadas dentro do materialismo-dialético, dentro do marxismo, quer dizer também que fazemos, não sei se pode se dizer uma análise, mas uma forma marxista de explicar a atual situação na Baixada Fluminense, particularmente, e o mundo em geral, onde jovens estão morrendo com a violência, drogas e tudo mais, vidas estão sendo jogadas foras diariamente.
A - As letras refletem esta realidade, nós não podemos permanecer só estagnados, aceitando tudo que esse sistema imposto pelos mais ricos, nós não podemos aceitar isso, nós sabemos, mas algumas pessoas não acordam pra isso, não tem consciência, achamos que é importante passar isso, a nossa intenção é despertar esse pensamento no povo, de entender de que nós não podemos se sujeitar, eles dão o pão e o circo para iludir o povo.
C - Se o povo quiser ele para tudo, se disser não vou trabalhar, não vai, tem que acordar o povo pra isso.
INV - A sociedade, o social.
A - Metrô lotado, trem lotado, ônibus idem, apesar disso a passagem caríssima, você não tem conforto nenhum, paga com custo altíssimo e ainda acham que somos obrigados a pegar aquilo e ainda têm coragem de agradecer, trabalhei um tempo na empresa, colocaram um dia no mural o faturamento da empresa, quando vi achei um abuso, o faturamento foi em 2009 foi de mais de R$ 430 milhões e a empresa tem uma média de 2000 funcionários e paga um salário mínimo, isso com vários descontos, dão cesta básica e o povo fica feliz, sendo que a cesta básica é mais desconto ainda, eu e mais algumas pessoas achamos um abuso, quando comentei para algumas pessoas acharam que eu era maluco, de que estava errado e algumas pessoas se sujeitam a isso. Esse capitalismo é algo preparado, imposto pelos grandes capitalistas, no capital as coisas vão ficando cada vez mais descartáveis, tem que consumir e consumir e se não há consumo ele quebra e é ruim pra nós, além de nos afetar, isso degrada muito o meio ambiente, esse consumo desenfreado, destrói muitas matérias primas, deixa muitos resíduos na natureza e eles (capitalistas) não estão visando isso, mas só no crescimento do capital no lucro, não estão ligando pra natureza, o planeta, nada disso, estão pensando mesmo é em ganhar muito dinheiro e tirar ao máximo da natureza e já estão pensando em trocar de planeta.
P - Acho que temos que bater nesta tecla, revolução, mesmo que as pessoas não tenham domínio da ciência política, é como diz o Alessandro, enfim tem que bater nesta tecla, revolução, porque é a única forma de tomarmos o poder e mudar o curso da história, antes que o capitalismo destrua o planeta e outros planetas também, porque tudo de ruim que passamos, as contradições da sociedade, violência, drogas e tudo mais, isso é fruto da própria contradição do sistema capitalista, onde a produção é social, ou seja, todos produzem, porque um ser humano não consegue produzir coisas grandes, mas a apropriação da produção é individual, por isso gera essas contradições e as pessoas começam a sentir na pele, eles trabalham, mas tem algo que está sendo tiradas delas, é isto.
INV - Mensagem à Juventude.
C - Tem que ter força de vontade, não precisa aceitar o que está aí, o minimo é R$ 510,00 e tem que sobreviver com isso, a pessoa é obrigada a ganhar isso durante um mês, porque ela tem que ganhar só R$ 510,00?, para sobreviver hoje, tem de ser mais que isso, então não precisa aceitar, o povo está sendo enganado por muitas coisas, quando perceber, a coisa já virou uma bola de neve, ai é tarde de mais pra se fazer algo.
A - O que quero dizer é que, nós não podemos nos render, porque esse pessoal que trafica, que rouba, acho que eles estão se rendendo, o sistema usa eles, apesar das dificuldades devemos solucionar da melhor forma possível, não é atacando nossos iguais, pois essa situação atinge a nós mesmos e eles continuam lá protegidos nos seus condomínios fechados, luxuosos, temos que lutar com as armas certas.
P - Vivemos num sistema que por si só ele já cria tamanhas contradições, mesmo que consigam tapar hoje o sol com a peneira, eles podem ter sucesso hoje, mas amanhã é um problema muito maior, pois enquanto o modo de produção capitalista estiver instalado na nossa sociedade, enquanto reinar a ditadura do capital essas contradições continuarão a surgir, porque isso é cientifico, não tem por onde correr, então o passo principal é esse: a revolução, ousar lutar, ousar vencer, porque mesmo as pessoas que às vezes são privadas de itens que são essenciais pra sua vida, como moradia, saúde, saneamento básico, essas pessoas por não conseguirem enxergar o seu inimigo, que é a burguesia, que é o capitalismo, elas acabam atacando os seus iguais, aqueles que estão mais próximos, então a juventude não pode esquecer que a história já provou e não foi só uma vez, e que o proletariado pode se levantar, como Lênin disse, basta um empurrão, não podemos perder as esperanças de que é possível o povo se organizar e tomar o poder, porque tudo que temos a perder são nossas algemas, tem como você lutar e tomar o poder, você não precisa aceitar a ditadura da burguesia que é o capital, podemos fazer e vamos fazer uma revolução no Brasil.
Ordem Hermética
INV - Agora conversamos com Ordem Hermética. Nos falem sobre a Banda.
V - O Ordem Hermética surgiu entre 2007 e 2008, é uma dissidência de outra banda que eu tinha há bastante tempo, cantávamos em inglês, a temática principal desta banda era uma história que a gente estava escrevendo. Um dos motivos principais para cantar em português de início é porque meu primo, que era o vocalista não manjava o inglês, mas gostei da ideia de cantar em português e hoje é até preferível cantar em português do que em inglês. Mas a banda só decolou mesmo quando chamei o Peter, entrando como vocalista, foi o momento em que a banda começou a crescer, chegamos a se apresentar, aumentamos o repertório e esta até hoje.
P - Foi em julho de 2009 que entrei na banda, estava querendo montar uma parada só que não tinha material humano que pudesse fazer algo do nível, não conhecia muita gente que tivesse disponibilidade e aptidão para fazer uma banda de heavy metal, todos que chamava sempre furavam. Veio então o convite do Vinícius e topei na hora. A banda não segue uma linha, pelo que percebo é que quando sentamos para compor alguma letra, costuma ser o que estamos sentindo. Temos algumas músicas já compostas, a “Corpos Herméticos”, “De Secretis”, “Liberdade e Revolução”, “Em busca do Ouro” e “Castelo de Areia”.
V - Desde o início quisemos dar uma roupagem na banda, varias bandas de heavy metal tem uma estética, sempre desejei que a OH tivesse como aparência as ciências ocultas, a alquimia e isso já reflete no símbolo da banda, uma linguagem alquímica, mas não é para se limitar a isso, é só para ter uma característica para quando as pessoas olharem e dizer, a O.H é uma banda que tem aquela coisa de alquimia e tal, tanto que tem essas composições “De Secretis”, “Em busca do Ouro”, “Corpos Herméticos” e pretendo fazer muitas outras ainda sobre isso, mas como já disse Peter, falamos sobre tudo que estamos sentindo no momento. Para mim pessoalmente, é passar um incentivo às pessoas a procurarem conhecimento, refletirem sobre algumas coisas que a princípio podem parecer muito subjetivas, para mim as mensagens desse tipo de música são tão importantes, quanto por exemplo a Liberdade e Revolução e a própria De Secretis.
INV - A origem do nome da banda e influências.
V - Vem da alquimia, sempre quando as pessoas falam de alquimia se referem à ciência hermética, essência de Hermes, uma figura simbólica, considerado o pai da alquimia, um deus, um titã, um deus egípcio, Ordem Hermética é como se fosse uma ordem de pessoas que estudam a alquimia. Cada um de nós tem influências mais marcantes, no meu caso viajo muito no rock progressivo antigo, por exemplo do grupo Yes e procuro absolver a variação de ritmos que eles têm.
P - Minhas influências são das mais variadas possíveis, às vezes paro para pensar numa composição, reflito o que Iron Maiden é, o Black Sabbath e bandas mais clássicas, não é difícil imaginar também Kiss, Deep Purple, Dio e uma coisa que foi inevitável foi o contato com o Rush que também é uma influência grande entre nós, e por aí vai.
V - A preocupação não é querer ser igual a essas bandas, eles são da época deles, então não tem como fazer uma música igual a deles hoje, nem eu seria capaz de fazer o que eles faziam, porém a essência, a ambientação que eles criavam, a ambientação sonora, por isso que acho que são inigualáveis, porém faço coisas que tem mais com a época atual, mas é isso, é sempre difícil falar das influencias do som da banda.
INV - Como você entende a sociedade?
V - A mudança no mundo compreende a mudança nas pessoas, é difícil pensarmos num sistema, a forma de organização, um tipo de mudança que por si só vai garantir um mundo de paz e harmonia, não existe paz e harmonia se não existir paz e amor, amor pleno como dizia Gandhi, até por isso eu não tenho a pretensão de chegar e dizer que a O.H vai fazer e acontecer, se a banda for um elemento positivo nas vidas das pessoas, pra mim já é uma coisa boa.
P - O trabalhador hoje que rala até 16 horas por dia e não entende porque paga uma passagem tão cara, porque precisa trabalhar tanto, as vezes o trabalhador nem lê, é estimulado simplesmente por um sistema, o sistema manipula as pessoas impossibilitando praticamente qualquer tipo de reação delas. Aí eu entro um pouco no que o Vinícius falou, não seria capaz de dar uma solução exata, mas de imediato tem que haver uma quebra desse sistema atual, primeiramente para acabar com a opressão, agora, para construir uma sociedade livre da opressão, também não tenho uma opinião de como se realiza isto, uma sociedade ideal, como vários teóricos já teorizaram, mas indubitavelmente, tenho como cura disso tudo o amor, só que, nós trabalhamos com influências, ou seja, sociedades pré-moldadas, são sociedades onde o amor não significa tanto, logicamente essas sociedades tendo os meios de comunicações como grande influência, tendo a propaganda, as rádios, enfim, tudo que possa está influenciando a sociedade, elas tendo isso vão fazer o que quiserem, e aí se tiver aquela gota de egoísmo dentro dela, o que é que vai prevalecer, a mais-valia e o lucro com o trabalho do pobre que não tem entendimento suficiente pra compreender a subjetividade do todo das coisas minuciosas. O planeta está sendo destruído e se não derrubarmos esse sistema opressor, se fomos pensar só na subjetividade de tudo, pensar num plano que existe pós terra, perderemos o que existe aqui no planeta.
INV - Como foi a participação do O.H nos 19 anos do INVERTA?
P - Foi boa a organização do evento cultural, houve uma interatividade boa entre os artistas, foi legal nossa participação. Foi a nossa melhor apresentação, mesmo não estando os outros integrantes (baterista/baixista). Também foram muito boas as outras apresentações. Ao todo o evento foi bom.
V - Agradecemos o convite a vocês, fui lá e fiz o que gosto e me dediquei ao máximo.
INV - Mensagem para a Juventude.
V - “Não há caminho para a paz, a paz é o caminho” - Mahatma Gandhi
P - O caminho além da paz é o amor, não adianta a paz sem amor os dois estão ligados, um completa o outro, se conseguirmos compreender que é com amor que chegamos na paz, que é com a paz que conseguimos construir um mundo melhor, temos uma juventude fraterna, uma juventude que vai lutar pelo seu outro, pelo seu próximo, que vai tomando a frente do país e do mundo resolvendo os problemas que atingi a toda a humanidade. O caminho é que não haja mais opressores e que todos possam ter a consciência de que não pode mais haver opressão, porque não existindo mais opressão não existirá mais oprimidos, mas lembrando que onde existe opressão existe resistência, sendo pelo modo pacífico, que é a minha posição.
Juventude 5 de Julho/RJ