Cesta Básica aumenta em todas as cidades, aponta Dieese
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 5/12/2024, segue em alta, como no mês anterior, o valor do conjunto dos alimentos básicos aumentou nas 17 capitais onde é realizada mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos. A capital paulista foi onde o conjunto dos alimentos básicos apresentou o maior custo (R$ 828,39), seguida por Florianópolis (R$ 799,62), Porto Alegre (R$ 780,71) e Rio de Janeiro (R$ 777,66). O Dieese ao comparar os valores da cesta, entre novembro de 2023 e novembro de 2024, revelou que o custo dos alimentos básicos também aumentou em todas as cidades nesse período, com destaque para as variações de Campo Grande (14,47%), Goiânia (12,19%), Brasília (11,19%) e São Paulo (10,56%).
A partir da cesta mais cara, que, em novembro, era a de São Paulo, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, em novembro de 2024, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 6.959,31 ou 4,93 vezes o mínimo de R$ 1.412,00.
Cesta x salário mínimo
Em novembro de 2024, o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 107 horas e 58 minutos, maior do que em outubro, quando ficou em 105 horas e 14 minutos. Já em novembro de 2023, a jornada média foi de 107 horas e 29 minutos. De acordo com o Dieese, ao se comparar o custo da cesta com o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto de 7,5% referente à Previdência Social, observa-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu em média, em 11/2024, 53,05% do rendimento para adquirir os alimentos básicos, e, em outubro, 51,72%.
A carne bovina, o óleo de soja, o café em pó e a batata são as estrelas dessa carestia de acordo com o Dieese, mas quem vai ao mercado semanalmente ou para a compra do mês, encara com susto que os capitalistas não estão dando tréguas, aproveitando-se, por exemplo o preço das carnes bovinas aumentaram pela falta de chuva, mas mesmo quando essas se normalizaram e houve a melhora dos pastos, o que dá condições para engorda do gado, a oferta de boi para abate ainda não foi normalizada e os preços seguem em alta. Outro fator que não chega ao conhecimento do consumidor médio, é que há alta demanda interna e externa por carne, o que tem contribuído para os aumentos. Do mesmo jeito que a alta do óleo de soja está sujeita ao crescimento do volume exportado do óleo bruto e a oferta interna menor pressionaram o seu valor no varejo. O cafezinho nosso de cada dia, tem sua trajetória de alta derivada da menor oferta mundial, do dólar valorizado diante do real e de incertezas relacionadas ao potencial produtivo da temporada 2025/2026.
O INVERTA foi às ruas do centro do Rio de Janeiro, e conversou com trabalhadores e trabalhadoras sobre como eles “sentiam no bolso” a carestia, o aumento dos preços, em especial, às vésperas das denominadas festas de fim de ano.
Para Maria Julia e Eliana, os preços em geral estão aumentando cada vez, “e querendo ou não está muito difícil para as pessoas de baixa renda se manterem. As proteínas são os alimentos que mais aumentaram, as misturas. O arroz, o feijão, o café estão pela hora da morte”. Ela considera que as pessoas não deviam comprar os produtos mais caros, “mas quem pode, não se preocupa com os mais pobres”. Ao serem perguntadas sobre o que mais consideram como básico para viver, além da cesta de alimentos, respondeu: “A diversidade, o direito de amar, o respeito à vida em geral, o direito de ir e vir, as necessidades que temos em comum, além das nossas especificidades, como saneamento básico, educação, saúde também são básicos e necessários”, concluiu.
Maria, 41, tem dois filhos, é camelô, considera que “tudo aumentou, hoje em dia você vai ao mercado com 100 reais e não traz nada, pois vamos no mercado e está tudo muito caro, onde moro, na Baixada, em Nova Iguaçu, o arroz está quarenta e pouco reais, o mais barato”. Sobre a carestia no natal é ainda pior, como ela diz. Sobre trabalhar como ambulante, há 7 anos, ela destaca que trabalha como pode, e tem dia que vende, mas tem dia que não vende nada. O preço das lojas levam as pessoas a comprarem no camelô: “aqui vejo muitas mães e pais comprando nos camelôs roupas para os filhos, pois os preços dispararam nas lojas, eu também compro nos meus colegas”. Para ela, “é fundamental ter um bom atendimento médico, uma boa alimentação e um lazer, pois todos precisamos disso”, declara.
Sobre o aumento dos preços no Rio de Janeiro, Eliana da Silva, 40 anos, é administradora e paga aluguel. Ela também é da Baixada, e declara “que os preços estão absurdos, como arroz, carne, açúcar, azeite e feijão aumentaram muito, os preços estão absurdos, na Baixada Fluminense”. Ela não sabe como será o Natal de 2024, no que se refere aos denominados produtos natalinos: “impossível comprar bacalhau, azeite, frutas cristalizadas, castanhas”. Assim, como “as tarifas bancárias, os boletos com valores exorbitantes, condomínios, tudo está um absurdo e não há lazer, para mim, muitas horas de trabalho, estamos tomando remédios para sobreviver, tal a pressão”. A irmã dela, Lilian, 38, com um filho, paga financiamento da casa própria, indica que os alimentos básicos estão com preços altos o ano inteiro.” O Natal será na base do rateio, cada um levará uma coisa, se não fica difícil”.
A carioca Silvia, 69, aposentada, mas que continua trabalhando, declarou sobre os preços que percebeu “um aumento absurdo da carne, açúcar, arroz, pode chegar a 40 reais os 5 kg. O pobre tem que trabalhar cada vez mais para ter uma cesta básica decente em casa. No Natal o bacalhau saiu de 70 e foi pra 90; o do Porto, deve ir para mais de 100 reais.” Silvia, declara que a unidade das pessoas é fundamental e dá o exemplo: “o prefeito não é do meu partido mas ele fez um bom trabalho, no transporte dos trabalhadores com o BRT, etc, isso ajudou os trabalhadores, eu reconheço o trabalho dele, por isso votei nele”.
Daniel, 32, também camelô sente “o aumento dos preços quando vai comprar carne, arroz, café, legumes. Sobre os produtos natalinos eu nem vi, pois como fora devido o meu trabalho, como quentinhas, então, quando aumenta os preços eles diminuem o tamanho da quentinha para não aumentar os preços”. Ele considera que 100 reais não vale nada no mercado, tem que vender mais produtos por um preço menor, pois as pessoas também estão sem dinheiro.
Eduardo Poeta, considera que apesar dos aumentos, as coisas já foram piores no governo anterior, de Bolsonaro. E se ele continuasse as coisas iam piorar ainda mais em todos os sentidos, não somente em relação aos preços. Além da comida, ele considera que o SUS é fantástico, pois atende a todos, e mesmo com problemas de sucateamento. Entendimento político é importante: “a direita está em algumas administrações, como no Governo do Estado do Rio. Mas temos que continuar sendo a resistência ontem e hoje”.
Gilka Sabino