As aventuras de Silvio Tendler: terceiro tempo com muito cinema, política e amor

O INVERTA entrevista , o cineasta, diretor, argumentista e Professor Silvio Tendler que em sua inesgotável vontade de viver e produzir obras necessárias e primorosas, lança Brizola Anotações Para Uma História, que estreia em 8 de outubro de 2024, às 19h, no Cine Estação Botafogo Net, na Voluntários da Pátria, no Rio de Janeiro. Nessa edição, trazemos um pouco da história desse homem, que é uma referência aos amantes da 7a Arte e aos que querem uma transformação social.

Às vésperas das comemorações referentes aos 33 anos de aniversário, o INVERTA entrevista um de seus amigos mais queridos, o cineasta, diretor, argumentista e Professor Silvo Tendler. Ele nos recebe em seu lar, onde conversamos sobre sua convalescença, em que a Ciência e sua fé foram e são fundamentais para obter sua saúde, além, é claro, de sua inesgotável vontade de viver e produzir obras necessárias e primorosas. Como o filme Brizola Anotações Para Uma História, que estreia em 8 de outubro de 2024, às 19h, no Cine Estação Botafogo Net, na Voluntários da Pátria, no Rio de Janeiro.

Nessa edição, trazemos aos leitores e leitoras de INVERTA, trechos desse encontro – que terá sua íntegra na TV INVERTA no YouTube – com um pouco da história desse homem que é uma referência para o Povo brasileiro, latino-americano e caribenho e aos amantes da 7a Arte em todo o mundo.

INV - Silvio, você disse que já está no terceiro tempo, conta um pouco sobre esses desafios de saúde, que você tem enfrentado.

ST - Eu estou indo para o terceiro tempo. E vou para a prorrogação… pra disputa de pênaltis se precisar. Enquanto eu puder estar aqui na Terra eu estarei. A Ciência é muito importante na minha vida pois sempre fui salvo por grandes médicos. Sempre com a benção da minha querida Iemanjá que não me abandona. Então eu junto Ciência com fé.
Dessa vez, estava completamente morto, cheguei no hospital com oito litros de água no pulmão e o clínico falou: “Olha, vamos ter que te operar.” Foi uma operação muito complicada, que só é feita em pessoas a partir dos 80 anos, no meu caso foi por conta das minhas comorbidades, então aceitaram antecipar, pois estou com 74. Tive uma parada cardíaca de dois minutos. Aquela parada na bateria pra escola passar. Mas daí eu retomei o ritmo. E a escola passou. E o sangue voltou a fluir. E eu estou aqui com muitos projetos para o futuro.

INV - Silvio, você é um grande amigo do jornal Inverta e hoje viemos aqui fazer essa entrevista filmada para que possamos falar um pouco sobre seu trabalho e esse lançamento tão necessário. Agradecemos essa oportunidade.

ST - Eu sempre tive uma relação de muito carinho com o Inverta. Primeiro porque tem a primeira melhor marca que eu já vi na imprensa do mundo naquele ano, com esse N e R invertidos. Eu estou com vocês desde os primeiros seminários. Não me lembro em qual participei primeiro, mas me lembro de ter reencontrado ali o meu grande e querido professor José Nilo Tavares e o enorme Apolônio de Carvalho. Tenho muito carinho por vocês desde essa época. Sempre tive a assinatura e apoiei o Inverta.

INV - Nós estamos falando do lançamento de Brizola Anotações Para Uma História e não dá pra falar de Brizola e sua relação com o Povo brasileiro, sem falar da luta de sua luta pela educação.

ST - Sim, claro, essa luta dele pela educação é desde o Rio Grande do Sul, com as brizoletas, que eram escolas pré-fabricadas, eles faziam em um dia, depois colocavam o campo, e acabavam com o analfabetismo. Brizola fazia questão de que todos os estudantes tivessem sapatos, pois esse era um trauma dele, porque saiu da cidade dele Carazinho, pra Porto Alegre descalço. Li em uma entrevista com o João Pedro Stédile, que ele estudou numa brizoleta, e ele diz que ele não seria o que ele é hoje se não tivesse sido as escolas do Brizola. O Caco Barcelos, repórter da Globo, diz a mesma coisa, pois também estudou nas brizoletas.
Depois Brizola veio para o Rio, fez três coisas absolutamente geniais pela cidade, que deixaram uma marca definitiva: o CIEPs, escola originalmente criada para ser em tempo integral com tudo que uma criança tem direito, o Sambódromo, pois antes era todo ano era um monta e desmonta arquibancada, com solicitações fraudadas, uma grana absurda sendo gasta. Aí ele foi e mandou fazer aquele monumento de arquitetura maravilhoso, confortável para todo mundo, e que ainda por cima, durante o ano inteiro, serve como escola. E a terceira obra foi a Linha Vermelha, que deu dignidade às pessoas. Antes, uma empresa espanhola havia proposto uma estrada que levava da Zona Sul até o aeroporto, mas tinha que pagar pedágio. O Brizola disse, aqui ninguém vai pagar pedágio não, porque é uma obra pública, para que todos tenham acesso. O Brizola é definitivo pro Rio de Janeiro, além de que todo mundo, à exceção do Crivella, que passou pela prefeitura, passou pela mão dele. Todos os prefeitos, Eduardo Paes, César Maia, Saturnino Braga, Maurício Azedo, Jamil Haddad, e outros. Acho que o Brizola deixou uma marca definitiva no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul. Se ele tivesse sido governo lá, se a esquerda não tivesse perdido as eleições, até hoje você não teria tido a catástrofe que você teve lá agora, pois a catástrofe gaúcha, claro que é um fenômeno da natureza também, não sou maluco de negar, mas eu acho que se as pessoas tivessem cuidado melhor das cidades, você não teria tido as enchentes que teve.

INV - Além do lançamento do filme do Brizola, já está criando, produzindo, elaborando algo sobre as histórias das revoltas brasileiras, né?

ST - Sim, falarei sobre a fome e as revoltas, porque a fome tem que ser trabalhada junto com a revolta. E, além disso, estou escrevendo, no meu terceiro tempo, uma autobiografia.

INV - Anteriormente em off falávamos sobre as novas tecnologias, tanto aplicadas ao cinema, com as câmeras em 4K, como aplicadas ao jornalismo e literatura, com os livros digitais e os jornais digitais. E confirmamos que o Inverta tem sua edição digital, mas não abre mão do impresso. Você acredita que hoje ainda há um motivo de existência desta modalidade?

ST - Acredito que sim. Hoje em dia eu quando viajo é mais fácil você levar um PDF, levar um computador, tem um iPadzinho. Mas o cheiro do papel, o peso do livro, tudo isso faz parte da criação humana. Acho que o jornal impresso é isso também. A notícia impressa, é uma coisa que você pode guardar, entendeu? Você receber pela internet, não dá a mesma satisfação de você receber o impresso, jornal ou livro. Agora mesmo eu estava falando com o meu parceiro de trabalho e amigo, o ator Eduardo Tornaghi, pois estamos fazendo um trabalho juntos. E ele falou: eu estou te mandando impresso. Já me mandou por PDF, mas papel que vai me dar muito mais realidade, é outra dimensão. Você pode colocar 300 laudas na Internet, você não consegue avaliar o tamanho da coisa, a dimensão do trabalho realizado mas quando você recebe um calhamaço desse tamanho, você sabe que não cabe num filme, tem que cortar. Então, acho que o Inverta terá a longa vida, porque a imprensa é mais do que necessária, sobretudo a imprensa alternativa, que eu acabei de fazer agora um filme sobre os blogueiros, que está rolando de graça pela internet. Acho que o Inverta é importante, não só pela impressão em papel, mas pelo papel que ele exerce na sociedade como consciência crítica.

INV - Como um dos Imprescindíveis de Inverta, você poderia deixar uma mensagem ao XVIII Seminário Internacional de Luta contra o Neoliberalismo, realizado em homenagem aos 33 anos do jornal Inverta, 32 anos de circulação do grama internacional de Cuba em português e 20 anos do acordo Inverta com a Agência de Notícias Latino-americana, Prensa Latina?

ST - Sim, claro! Ter um contraponto na sociedade é fundamental e sempre tive esse contraponto com o Inverta. É muito bom que o Inverta exista, e também represente o Granma Internacional de Cuba em Português e a Agência de Notícias Latino-americana , Prensa latina. Então, pra mim é bom estar sempre falando com vocês e estar presente nos eventos com vocês. Em relação a esse novo seminário, eu convido as pessoas a participarem do 18º Seminário Internacional de Lutas contra o Neoliberalismo promovido pelo jornal, que traz uma discussão super importante, sobre o neoliberalismo, e é sempre bom ir lá participar e pensar o mundo novo, a gente está sempre tendo que renovar. A crise do capitalismo é uma constatação, assim como a desigualdade, a exploração do homem pelo homem e ao longo dos tempos, toda a sociedade vive de uma forma crítica. É uma constatação universal que o capitalismo é ruim. A gente tem que buscar a sua solução socialista para resolver as questões do ser humano com a natureza. Não podemos simplesmente ser cúmplices dessa devastação que está acontecendo.

Bianka de Jesus e João de Aquino

Entrevista com Silvio Tendler na Ciência e Luta de Classes edição 10CLC-edicao-10