Tragédia em SP: chuva e descaso matam na periferia
Tragédia em SP: chuva e descaso matam na periferia
Por: Roberto Figueiredo/Sucursal SP
Nas últimas três semanas São Paulo foi tomado por chuvas torrenciais. Praticamente todos os dias pelo menos um bairro da periferia na região Metropolitana de São Paulo foi colocado em Estado de Atenção ou de Emergência pelas administrações locais.
Enquanto o governo neoliberal de Geraldo Alckmin anunciava um plano de racionamento de água devido à falta de investimentos; ou, segundo a mentira oficial, “falta de chuvas” —, as águas de março afogavam São Paulo, os barracos construídos nos morros das favelas eram carregados pela força dos deslizamentos e as habitações às margens de rios eram engolidas pelo ritmo das enxurradas.
As chuvas não fazem discriminação de classe, mas nos bairros em que não foram feitos investimentos em obras de canalização dos rios e captação das águas, este fenômeno natural se transformou numa tragédia humana. As tragédias ocorreram precisamente naqueles mesmos bairros catalogados pelos governos municipais e estadual como “áreas de riscos”.
O rastro das chuvas nestes bairros proletários foi desesperador: incontáveis perdas materiais, centenas de famílias desabrigadas, dezenas de feridos, pelo menos três desaparecidos e, até segunda-feira última, foram registradas cinco vítimas fatais.
No Jardim Marta Virgem, próximo à Represa Billings, Zona Sul da capital, por exemplo, a cada chuva novos deslizamentos e mais famílias proletárias desabrigadas. Cansados de esperar o cumprimento das promessas feitas pela Prefeitura no ano passado, quando um destes deslizamentos matou três crianças soterradas, os moradores fizeram um protesto na principal avenida da região, ateando fogo nos entulhos que sobraram do último desabamento, ocorrido poucos dias atrás. Em outra “área de risco”, a Favela Beira-Rio, também Zona Sul, 15 barracos foram destruídos nestes últimos dias. Mais dezenas de outras famílias também ficaram desabrigadas com desabamentos em outras áreas da região Metropolitana, tais como Favela Elba, Cidade Ademar, São Miguel Paulista, Jardim Santo André, Vila Luzita, Jardim Represa...
Alagamentos também foram registrados em toda parte. Muitas pessoas ficaram presas em seus automóveis, outras se agarraram em postes para não serem tragadas pelas correntezas, outras ainda se arriscaram em vencer a enxurrada. Nas cidades Ademar, Vila Prudente, Campo Limpo, Taboão da Serra, Osasco, Embu, Santo André, São Caetano do Sul, Jardim Lucélia, Grajaú, etc., centenas de casas foram destruídas pelas enxurradas. O transbordamento do Córrego Aricanduva, na Zona Leste, rio que recebeu a maior carga das chuvas, chegou a destruir a própria Administração Regional do bairro.
Um camelô, que escorregou às margens do Rio Tamanduatei, próximo a região central da capital, foi tragado pela forte correnteza. Na Represa Billings, dois pescadores foram encontrados mortos por afogamento e ainda há outra pessoa desaparecida na região. Mais outro trabalhador também foi encontrado afogado depois de arrastado pelas correntezas do Córrego do Desterro, na Zona Leste. A intensidade das chuvas aliada aos fortes ventos provocou a queda de dezenas de árvores e muros sobre casas, carros e pessoas. A queda de um muro sobre mãe e filha, na Vila Nova Curuçá, Zona Leste, provocou a morte da menina, que tinha 5 anos.
Esta é a São Paulo da modernidade neoliberal. Chuvas afogando bairros proletários ao mesmo tempo em que são anunciados programas de racionamento de água e energia. “Os reservatórios estão vazios”, procuram enganar os governos neoliberais e neosociais com sua imprensa amarela, enquanto todos os recursos técnicos e financeiros do estado estão desviados para o pagamento dos juros (sistema de especulação-financeira) e absorvidos pela corrupção (sistema administrativo-burguês). Nada pode ficar sequer para as obras emergenciais nestas áreas de riscos, os bairros da periferia.
O estado burguês não cessa a sua ânsia de transformar a existência do proletariado em tragédia humana.