Instituto Palmares: arte e luta contra o racismo
Instituto Palmares: arte e luta contra o racismo
Entrevista com Éle Semog
Presidente do Instituto Palmares de Direitos Humanos (IPDH)
Nós, cariocas, sabemos que a Lapa é um marco da cultura brasileira e da cultura do Estado. O Circo Voador foi a retomada, o recrescer da Lapa. Ele conseguiu colocar a cultura brasileira, a música brasileira, a música carioca na ponta do agito cultural do Brasil, e atrás do Circo Voador vieram se retomando o espaço, mas com uma perspectiva moderna, com uma perspectiva de transformação, uma perspectiva do cidadão pulsando junto com a cidade. A Lapa reúne tudo o que você possa imaginar em termos de cultura, de construção, de resgate, e o mais importante: com as tribos mais diversas. A Casa Brasil-Nigéria, por exemplo, é o resultado de um projeto de pessoas que conduziram uma proposta natural, social e de combate ao racismo. A Casa estava aos pedaços e foi feita em parceria com a Embaixada da Nigéria, um investimento de aproximadamente 150 mil dólares. Evidentemente que é uma organização voltada para a luta mais invisível da sociedade, a luta contra o racismo, mas por outro lado nós compreendemos que esse espaço também é um espaço de formação de cidadãos, e achamos que estamos conseguindo isso ao longo desse tempo de existência do Instituto Palmares aqui na Lapa, da Casa Brasil-Nigéria. Acho que o problema maior hoje na relação com esse complexo cultural da Lapa é a falta de diálogo. Porque se for para ocorrer o que aconteceu em Salvador, no Pelourinho, aquilo é um absurdo, desonesto do ponto de vista de cultura. A Lapa é do povo, vai continuar a ser gerida pelo povo, o grau de tolerância é imenso, a comunidade da Lapa, as pessoas que administraram e freqüentam as casas de cultura da Lapa se ressentem do abandono total do Estado. Toda essa abundância de colocar 4 a 6 mil pessoas no fim de semana na Lapa decorre de uma atividade que a cultura do Rio de Janeiro continue pulsando.
A questão da Rio Previdência
“A RioPrevidência é o resultado de más gestões anteriores do patrimônio público estadual. Houve a necessidade de recuperar o déficit do funcionamento público, que é imenso no Estado do Rio e a RioPrevidência recebeu atribuição por lei de ser a gestora de todo esse patrimônio. Não podemos nos iludir porque o Estado é liberal, a economia é liberal e a busca de solução desse déficit é pelo caminho liberal. É necessário ter uma compreensão política do papel do Rio Previdência e construir formas de se negociar, pois eles não têm interesse nenhum pela cultura, têm interesse em como vão gerir melhor esse patrimônio para tentar diminuir os déficits provocados pelo desmando do patrimônio público ao longo de tantos anos. A grande questão é saber se essa cidade vive sem essa cultura popular.