O despertar da primavera no X Festival de Teatro de Curitiba
O despertar da primavera no X Festival de Teatro de Curitiba
O grupo de Teatro de Mauá leva para Curitiba um clássico de Frank Wedekind considerado por Brecht como o “Grande Educador da Europa”, trata-se do espetáculo “O Despertar da Primavera”. Trabalho marcante onde o tema é a sexualidade, ou melhor, o despertar dessa sexualidade, já que o assunto principal é o adolescente e suas descobertas. Caio Evangelista, o diretor, fala sobre sua montagem:
Proposta de Encenação
Quando conheci o grupo, na época não sentia que estivessem preparados para a empreitada, nem eu mesmo sentia-me capaz de levá-los adiante. Mais tarde compreendi que isso se daria pelo processo. Tão longo que se passaram três anos...vieram espetáculos, conflitos...
Desenvolvi neles o gosto teatral; leitura, debate nas relações, provocando explosão de vida, o que nos levou a compreensão deste mistério como possibilidade de orga-nizá-lo como ciência e arte, parafraseando Peter Brook.
O que nos motiva é a essência do pensamento de Wedekind. Falar para o povo e ser entendido pelo povo, o que não é questão de forma, pois o povo não entende apenas as formas do passado. Para isto, se faz necessário citar Brecht: “acusam a classe operária de renegar novos temperos. É falso. Ela recusa a carne, quando esta está podre”. O nosso processo (processo, e não somente espetáculo) é no âmbito comunitário, épico por excelência.
Não é à toa que se chega aqui, foi necessário estudo das estruturas dramáticas desde os gregos até o teatro popular brasileiro, naquilo que minha mente abarca e, à medida em que o repertório ampliava-se e permitiu a compreensão numa ótica em que se cria ator-cidadão participativo e não intérpretes fechados na estrutura realista/naturalista, sem contudo negá-lo.
Em “O Despertar da Primavera” esse mundo veio à tona: nos faz voltar a Balzac para entender melhor o realismo, reler lendas e mitos gregos. Estudar seriamente “O Fausto”, “Vestido de Noiva”, estudar desde estética romântica, ao expressionismo, assistir a filmes e descobrimos que a estética que namoramos não é “um caso penoso”, nem apenas um desvio, mas algo sem rótulos. Essa margem de função social é Brecht quem nos guia: “Sejam como Tostoi - sem suas fraquezas! Sejam como Balzac - mas atuais!”
Essa consciência do espetáculo como arte (irmão da pintura e da poesia) nos norteia procurando estetizar o período de transição do romantismo ao expressionis-mo, fazendo-nos valer das músicas de Schoenberg, Welber, Berg e Arrigo Barnabé, das pinturas de Munch e Van Gogh caracterizando sonoplastia, iluminação, indumentária; a iluminação por exemplo é concebida a partir do entendimento que esta deverá dar relevo às personagens, criar clima poético, dimensionar as obras (pinturas) e verticalizar as interpretações grotescas ou não. Porém é o próprio texto quem nos responde a esses estímulos. Apaixonado que sou por Max Reinhart, quase que as elucubrações tomavam parte de mim, mas preferi a simplicidade (qual difícil!), inclusive na interpretação que é naturalista a atinge distorção nos sonhos dos adolescentes. Ao contrário do que pensam alguns diretores, o meu treino não encontra dificuldade na falta de unidade.
O Grupo Apolo começou mostrando suas investidas teatrais em 1997, com a montagem “O Jornal do Louco” participaram do FECEST, recebendo o prêmio de melhor espetáculo. Desde então, dedica-se à leitura, observação de aspectos reais e experimentações a fim de compor o elemento vivo teatral. Ainda 1997, participaram de uma oficina de teatro avançado e como resultado montaram o espetáculo “A Rebelião de Zuza Ribeiro”.
Depois se fez temporada no espaço livre do Anfiteatro Vinícius de Moraes, e além de se revelarem um novo espaço cênico, estenderam suas apresentações às ruas, praças, escolas e até mesmo representando a cidade no mapa cultural paulista em 1998. O grupo teve ainda a presença marcante no espetáculo “Orixente, o novo Papa era baiano?” como convidado da Companhia Aquarius e também com participações, marcantes, nos espetáculos das oficinas culturais de Mauá; “Auto da Compadecida”, rendendo-lhe até premiações e “7 Aleluias”!; “A Ópera”, em que quase todos os integrantes participaram da montagem.
Depois de “Somos Todos do Jardim de Infância”, o grupo está bem mais maduro, goza de reconhecimento público pela força de seus trabalhos, firmando-se como um dos principais grupos teatrais da cidade abrindo oportunidades para outros atores da cidade, sempre procurando o crescimento, aperfeiçoamento, compreensão social e respaldo público.
O espetáculo foi apresentado em Curitiba no Teatro Paiol, nos dias 29/30/31/03 e 1º de abril.