Os Sonhos e as Lutas não Morrem!
Na madrugada na noite do dia 8 de novembro deixou de respirar e transmitir os seus pensamentos o lutador Ivaldir José Rodrigues (Índio). Índio vinha lutando contra o câncer há alguns anos e a sua saúde piorou na última semana e vei a óbito no na terça-feira, dia 8/11/22.
A história do Índio é semelhante à de muitas lideranças que surgem pelo Brasil afora, Índio nos faz lembrar a canção de Leci Brandão:
“[…] É que faz um discurso profundo
Ele quer ver o bem da favela
Está nascendo um novo líder
No morro do Pau da Bandeira
Está nascendo um novo líder
No morro do Pau da Bandeira
No morro do Pau da Bandeira [...]”
Aqui em Belo Horizonte no ano de 1994 nascia um “novo líder”: Ivaldir, conhecido como Índio, por sua a proximidade com os originários pataxós. Ivaldir deixa esposa, um filho e uma filha do primeiro casamento.
Em 1994, Belo Horizonte viveu uma enorme efervescência política e social, muitas ocupações de sem-casa ocorreram nesse ano. Uma delas ocorreu nas margens do Córrego Sarandi, na região da Pampulha, onde 620 famílias ocuparam a área e exigiam do poder público municipal de Belo Horizonte uma solução para o problema social de falta de moradia popular. O prefeito Patrus Ananias (PT) e o Dr. Célio de Castro (PSB), vice-prefeito na época foram protagonistas dessa luta pela moradia.
A ocupação do Sarandi, como era conhecida, foi comandada pela Organização Popular Pra Lutar (OPPL), que organizou as famílias e, em assembleia popular, elegeu o Comando da Ocupação do Sarandi. Entre os participantes que já faleceram estão: Ivaldir, Dona Penha, Rosa Leão, Dalva Maria, Pena, Elcimar, e Dona Eva. Os membros do histórico Comando do Sarandi que estão vivos são: Joaquim Alves, Mônica, Ubirajara (Bira), Vitorina, Gérson, Maria da Conceição (Zoca), Marlene, Arquimedes e Zé Ribeiro. Participavam ainda do Comando, membros da OPPL, Sandra Fortes, Tião Rodrigues (OPPL/Sindicato dos Bancários), Joseane (OPPL), Rosely Martins (OPPL) e Sidnei Martins (OPPL/Jornal INVERTA). O Índio sempre foi um militante muito ativo e se tornou uma liderança reconhecida pela sua disposição e trabalho na causa dos sem moradia.
Em setembro de1994 aconteceu a histórica ocupação da prefeitura de Belo Horizonte, que durou 72 horas, e a ocupação da Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais – Cohab Minas e da Praça Afonso Arinos, que durou mais de três meses até a conquista definitiva dos terrenos e da construção das casas.
A OPPL sugeriu a criação de um comando-geral das ocupações que existiam em BH, Ribeirão das Neves e Santa Luzia, eram um total de seis ocupações. Da ocupação do Sarandi participou do comando-geral: Índio, o sr. Joaquim, Rosa Leão e Mônica. As ocupações mantinham o seu comando local com suas reuniões e mobilizações e o Comando-Geral fazia as negociações e articulava as ocupações em uma pauta em comum, como a diminuição do deficit habitacional no Estado de Minas Gerais que na ocasião ultrapassava a casa de um milhão de sem casas. Com a criação do Comando-Geral foi criado em assembleias o Movimento de Luta Pela Moradia – MLPM.
Queremos ressaltar a importância desse movimento para a criação de políticas públicas para a habitação em BH, como foi o Orçamento da Habitação Popular de Belo Horizonte – OPH, no governo de Patrus Ananias (PT) e o debate publico que fez com que a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte destinasse recursos para a habitação, e que levou a Assembleia Legislativa a abrir o debate sobre o tema com várias audiências públicas.
O fato é que o Movimento de Luta Pela Moradia de Minas Gerais ocupou as principais páginas dos grandes jornais da capital e a OPPL foi atacada pela imprensa mineira com matérias que não retratavam a realidade, colocando os trabalhadores que lutavam pela moradia como terrorista e bandidos. Na verdade, a organização popular fez história, durante a sua atuação nenhum dos seus membros desviaram dos seus objetivos e princípios, algumas organizações partidárias de “esquerda” acusavam o movimento de se manter em uma “camisa de força”, por não aceitar que nenhum de seus membros saíssem candidatos ao parlamento, caso isso acontecesse a pessoa deveria se desvincular da direção do movimento.
Criamos de certa forma um “know how”, como se diz, uma expertise no tema ocupação. Depois de nós, vieram outras ocupações e lideranças que beberam no mesmo pote, contudo, hoje se percebe a utilização do movimento para projetar as “novas lideranças” para a disputa do processo eleitoral burguês.
Viva a luta popular!
Viva os que lutaram e os que continuam lutando!
Ivaldir José Rodrigues – Presente!
Sidnei Martins – Comitê de Luta contra o Neoliberalismo