Manifestação contra o golpe e o impeachment lota o Largo da Carioca-RJ
A população do Rio de Janeiro deu uma grande demonstração de apoio à democracia e lotou o Largo da Carioca, levando mais de 100 mil pessoas ao centro da cidade no dia 31 de março de 2016. Data até então de triste memória para o povo brasileiro, quando foi instaurada a ditadura civil-militar há 52 anos, agora representa um marco de resistência contra o novo tipo de golpe e em defesa do Estado democrático de direito.
Estavam presentes ao ato contra o golpe e o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff várias entidades, movimentos sociais e partidos políticos como o PT, PCdoB, PDT, PCML, PSOL, a Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, a UJS, o Clube de Engenharia, OAB-RJ, MST, UNE, a Juventude 5 de Julho, entre outras agremiações da sociedade civil.
O professor Theotônio dos Santos falou sobre a resistência do povo brasileiro contra o imperialismo dos EUA e que neste momento a população do Brasil saberá lutar pelos seus direitos e não deixará que firam as suas liberdades democráticas e a sua dignidade soberana. Ele afirmou ainda que o império norte-americano não é invencível e que já foi derrotado no Vietnã, na China, na Índia e principalmente em Cuba, que resistiu por mais de 50 anos ao absurdo bloqueio estadunidense e hoje é um exemplo para toda a humanidade. Não podemos nos dispersar e a unidade é necessária em um momento como este de ameaça à democracia no Brasil que terá reflexos em toda a América Latina.
A petroleira Naústria Albuquerque disse que esta manifestação no Rio de Janeiro e em todo o Brasil é para afirmar que “não vai ter golpe e que vai ter luta. Hoje fazem 52 anos do Golpe e da Ditadura Militar e nós já vimos este filme e não vamos tolerar este tipo de coisa. O Brasil vai continuar avançando nas suas políticas sociais, com os jovens nas universidades e todos os benefícios deste governo”.
O diretor do Sindipetro-RJ, Emanuel Cancella, destacou como muito boa a manifestação no Rio e que o evento principal estava acontecendo em Brasília. “A FUP e a FNP estão em Brasília participando na capital federal e nós estamos aqui no Rio, no Largo da Carioca, realizando este ato, assim como em todo o Brasil, para deixar bem claro que não vai ter golpe e vai ter luta. Não aceitamos que a nossa Constituição Federal seja desrespeitada, porque impeachment sem embasamento legal é golpe e não vamos aceitar a entrega do pré-sal que é a maior riqueza deste país, onde os técnicos brasileiros desenvolveram tecnologia e descobriram este tesouro que pode pagar a dívida social que a gente tem com o nosso povo. Não vamos permitir que isto seja entregue também, como o Eduardo Cunha está querendo. Por isso não vai ter golpe, vai ter luta!”.
O representante da Juventude 5 de Julho, Michel Damasceno, médico formado em Cuba pela Universidade Latino-Americana de Medicina, afirmou em seu discurso que devido à coragem de um operário e de uma ex-guerrilheira, as elites brasileiras foram feridas em seu orgulho e tiveram que aceitar a vontade popular. “Por isso querem criar um processo político para tirar a Presidenta Dilma Rousseff do governo, mas eles não conseguirão seu intento porque as transformações pelas quais o Brasil passou nos últimos anos, graças ao governo do PT, foram importantes para a maioria da população brasileira. O atendimento em saúde na maioria dos locais do país melhorou significaticamente com o convênio do Programa Mais Médicos com o Governo cubano. Ter enfrentado a máfia do jaleco branco já é o suficiente para mostrar a coragem deste governo em mudar o tratamento à população mais pobre do Brasil. Por isso temos que defender este governo do golpe patrocinado pelas oligarquias nacionais e estrangeiras que só querem lucros às custas das pessoas mais carentes de nosso país”.
Uma destacada participação no ato foi a do cantor e compositor Chico Buarque que expressou ao público: “Eu vim aqui dar um abraço nas pessoas das mais variadas tribos, das mais variadas convicções políticas. Gente que votou no PT, gente que não gosta do PT, gente que foi do PT, que se desiludiu com o partido, gente que votou na Dilma, mas sobretudo, gente que não pode por em dúvida a integridade da presidenta Dilma Rousseff. (…) Eu vejo gente aqui na praça, da minha geração, que viveu o 31 de março de 1964. Mas vejo sobretudo a imensa juventude que não era então nem nascida, mas que conhece a história do Brasil. (…) Quero aqui agradecer a vocês que me animam a acreditar que não, de novo não, não vai ter golpe”.
A professora Osmarina Portal, representando o Partido Comunista Marxista-Leninista (PCML) e o Movimento Nacional de Luta Contra o Neoliberalismo e Pelo Socialismo, enfatizou que a ofensiva imperialista que se vive aqui no Brasil, com a tentativa de golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, é também vivenciada em outros países irmãos na América Latina, como Venezuela, Bolívia, Equador, assim como no Oriente Médio, na África e na Ásia. E que neste momento é fundamental a unidade dos trabalhadores e das forças progressistas e populares em torno da defesa da manutenção do governo legitimamente eleito, da democracia e dos avanços até então alcançados, resistindo ao retrocesso que as forças conservadoras tentam impor. Osmarina ressaltou também as manifestações de solidariedade internacional recebidas e expressadas mundialmente, e concluiu recitando um trecho da peça Ópera Reggae: O Redescobrimento das Américas, de autoria de Aluisio Beviláqua, editor-chefe do Jornal Inverta; que o público acompanhou e finalizou com as palavras de ordem: “Brasil, Cuba, América Central, a classe operária é internacional! Não vai ter golpe, Vai ter luta!”
A manifestação continuou durante toda a noite do dia 31 de março, com vários discursos contra o golpe, contra o arrocho dos trabalhadores e a exploração do povo brasileiro. No final se apresentaram vários artistas populares da MPB que conseguiram através da música alegrar os milhares de presentes que estavam se manifestando contra o retrocesso político no Brasil.
Julio Cesar de Freixo Lobo e Sucursal RJ