Socialismo e sensibilidade em Hierba Buena, de Roberto Pontes
Socialismo e sensibilidade em Hierba Buena, de Roberto Pontes
“Vamos juntos tomar dessa Hierba Buena, da qual já sabemos o sabor!”. Com este convite, o professor e poeta Roberto Pontes embebe todos os poemas de seu mais novo livro de poesias, Hierba Buena, em edição bilíngüe Português/Espanhol. O livro é composto de trinta poesias, todas retratando o cotidiano de Cuba, através das impressões colhidas pelo próprio autor durante a sua viagem a ilha caribenha. Os poemas destacam-se por aguçada sensibilidade e riqueza de detalhes na descrição de cotidianos, mas significativos acontecimentos, que na ótica do autor é expressão máxima da riqueza humana do povo cubano. Aliás, o próprio título Hierba Buena é referencia a uma bebida popular cubana que é feita de hortelã (hierba). Os poemas em espanhol foram cuidadosamente traduzidos pela professora do Departamento de Línguas Estrangeiras da UFC, Isabel Leal.
O poeta Roberto Pontes é também Professor Doutor titular da disciplina de Literatura Portuguesa e Literatura Africana em Língua Portuguesa, na Universidade Federal do Ceará (UFC), tendo já publicados diversos livros de poesias e de critica literária. Participou de momentos importantes na Literatura Cearense, fazendo parte do Grupo SIN de literatura, grupo responsável pela inserção do concretismo na Terra do Sol. Recentemente, foi incluído na Mesa Diretiva da Junta Mundial de Poesia em Defesa da Humanidade, composta durante o XII Festival Internacional de Poesia de Havana, realizado entre 28 de maio à 2 de junho de 2007.
Todos os trinta poemas foram particularmente concebidos com especial atenção, próprio de alguém consciente e que “a vida se faz missão”, segundo o dizer do próprio autor. É fácil perceber essa identificação com os “simples e nobres trabalhadores”, como se percebe em Carmem, onde Roberto versifica a ternura do trabalho da camareira Carmem, do Hotel Vedado, “que também é combatente, / que também é companheira”(p.21). E o talentoso cantor popular que toca Si mi pudieras querer em uma tienda, na periferia de Havana, e é capaz de trazer toda a ilha dentro de seu sorriso. Ou como o poeta diz noutro poema, o bolero de Cuba é como o zunzuncito de um pássaro do mundo, cantando o hino puro, para todos os seres vivos.
E cada pedaço desse país, é um pedaço do mundo. É um país de frente para o Brasil, e em suas costas arde a ferida aberta pelas chicotadas do imperialismo norte-americano, vindo desde o Estreito da Flórida. E assim, “A América do Norte /Bate em seu chicote ruim / Desde cinqüenta anos. / Mas Cuba não se assusta” (p.57). Ao invés de se abater, estar em Cuba é sentir “os homens crendo na vida / E as mulheres fazendo / Com cérebro, cabeça e ventre / Um país bem diferente, um país que sofre e que ri” (p.28). Toda essa alegria e força, Roberto Pontes metaforiza, advém da Hierba Buerna, “a santa erva de Cuba. / Que ela traz em si a força / E também a consciência / De um mundo solidário e novo” (p.37). Porém, a hierba buena só cresce “em terra fértil (...) Plantada pelo fuzil, /Metralhadoras e bombas, no solo da Primavera /Para colher muito bem cedo /O formoso passarinho /Da Paz e da Alvorada” (p.79).
Ao final do livro o poeta publica a declaração final dos delegados do Festival Internacional de Poesia de Havana, que entre outras coisas, declara o caráter humano e internacionalista dos presentes, divulgando um poema em louvor dos cinco presos cubanos presos nos EUA por motivos políticos.
Hierba Buena é um livro sem restrições. Recheado por belos versos e embebido com muito senso crítico, indicado justamente para inflamar o sentimento e a ação de solidariedade com nossos irmãos, com seus versos harmoniosos e de significado forte.