Três parágrafos antes do apagar das luzes

Três parágrafos antes do apagar das luzes

Editorial


1 - O Brasil e seu povo, falo da classe operária, camponeses, setores médios, passarão por um teste magnífico de paciência e resignação a partir deste final de maio: o teste de sobrevivência nos apagões. A aventura, mais que emocionante, será inesquecível. Dizem as más línguas que a equipe da Globo vai faturar horrores porque seu programa “No Limite” não terá custo algum. Ela filmará o desespero do povo brasileiro nos centros urbanos e, momento a momento, mostrará os traillers do programa que colocará no ar sempre às 7h da manhã; às 12h e 13h; às 20h e 23h30 da noite. A audiência será garantida. Você, camarada, residente nos centros urbanos, irá se sentir um verdadeiro astro. Está garantido, como diz Andy Wharol, os seus 15 segundos de fama... O problema maior é se deixar aprisionar por estes 15 segundos de fama e ter que conviver o resto da vida com a condição de rebutálio humana dentro do sistema.

 


2 - O Brasil que enfrentará esta crise – que se diz conjuntural – é um Brasil permeado por uma hoste de crises: crise cambial (a moeda hoje caminha para valer menos que a metade da metade do que valia em 1996); a crise financeira (o Brasil para saldar suas dívidas e financiar seu crescimento econômico depende mais da poupança externa que da interna); o Brasil da crise da agricultura, onde dos 350 milhões de hectares de terras cultiváveis, apenas 50 milhões de hectares são utilizadas, e destes 85% concentradas nas mãos dos latifúndios tradicionais e agro-industriais, provocando a inviabilidade dos minifúndios e pequenas propriedades, em conseqüência o desabastecimento e encarecimento de produtos agrícolas de primeira necessidade para o mercado interno (feijão, arroz, trigo, etc,), e ao mesmo tempo, a super-safra de produtos para exportação, como soja, laranja, etc., produtos que no mercado internacional, desde a crise da Ásia, reduziram ainda mais seus preços pela superprodução e superoferta, além do crescimento do fluxo dos sem-terra e a luta pela terra; o Brasil da crise econômica, chegando ao estágio dos monopólios, no sistema é incapaz de expandi-lo para além dos marcos reduzidos do Mercosul e sob a condição subimperialista, encontrando-se estrangulado e compelido a uma crise permanente entre forças produtivas e relações de produção, que se projetam na luta do proletariado versus a burguesia, e nas contradições subimperialistas (Mercosul versus Alca); o Brasil da crise do emprego que vê além do percentual de desempregados já existente, cerca de 7% e 8% da PEA, e que cresce a cada ano em 2 milhões de jovens lançados a um mercado de trabalho, onde o número de empregos é cada vez menor, dada a reciclagem tecnológica; o Brasil da crise da educação, onde a má qualidade de ensino e a infra-estrutura pedagógica dividem as novas gerações em um ínfimo número que acompanha os ritmos da transformação tecnológica e uma grande maioria que sequer tem acesso a estas realidades presentes atualmente ao processo de produção na sociedade (computadores, softwares, hardwares, etc). O Brasil da crise da saúde, onde os serviços públicos sucumbem à força do setor privado, tornando a manutenção da vida negócio lucrativo para clínicas, previdências privadas, fundos de pensão, indústria farmacêutica e comércio em geral, e marginalizando milhões de miseráveis que morrem nos recantos sem recursos, filas do INSS... O Brasil da crise da habitação, onde o desemprego, a desassistência social e a falta de perspectiva conduzem levas de trabalhadores do perambular pelas ruas ao relento à luta por um teto, mesmo que seja de lona ou de tábua em uma favela ou em prédios prestes a desmoronar nas cidades. O Brasil da crise da fome, o qual viu aumentar o número de indigentes, subnutridos e pobres de 33 para 54 milhões, que viu cair a renda per capita de US$6.000 para US$4.500 anuais, em que cerca de 75% da população tem que sobreviver com cerca de menos de 2 dólares por dia; onde a concentração de renda chega ao absurdo de 10% da população concentrar cerca de 50% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres da população ficam apenas com 10% da renda nacional. O Brasil da crise da violência, onde somente o trânsito mata mais anualmente do que a guerra do Vietnã, e onde a violência e ações desesperadas do povo tornam seus grandes centros urbanos referências ao estudo da criminalidade na América Latina - o Brasil só perde para a Colômbia, um país que vive uma revolução interna contra um governo sustentado pelo poder dos narcotraficantes e dos EUA. O Brasil da crise da corrupção, onde o presidente e sua equipe esquartejam o patrimônio público estatal, vende a retalhos suas partes e atola toda classe dominante no mar de lama, corrupção, fraude e cinismo, comprando o silêncio do Congresso (impedindo a instauração da CPI da Corrupção) ao peso de 78 milhões de reais, e lutando para não deixar que o atual presidente do Congresso Nacional, Jader Barbalho, junto com o ex-presidente do Congresso Nacional, ACM, protagonistas da cena sórdida de acusação mútua de roubo, violação ao decoro parlamentar e chantagem, tenham a mesma sorte do ex-presidente da Câmara de Deputados, Ibsen Pinheiro, cassado por corrupção e decoro parlamentar junto com os anões do Orçamento.

 


3 - A crise do setor elétrico, mais que apagar as luzes para esconder a crise geral a que o governo conduziu o país, também abre espaço para uma fuga espetacular da gangue de FHC no Planalto, sem que o povo possa fazer com ele aquilo que por pouco não conseguiu com o aprendiz de picareta Collor de Melo e sua equipe (a economista Zélia vive hoje em anonimato no centro corruptor da América Latina: Estados Unidos). Naturalmente, quando falamos de fuga, falamos em linguagem figurada. Na verdade, o que estamos dizendo é que a crise da energia esconde a crise geral que vai desde a crise da economia do país até a crise de corrupção e política. Por um lado, porque através da crise da energia, FHC pode agora justificar o pífio desempenho da economia nacional, que ele prometia crescer absurdos num cenário de crise como o que se vive na atualidade. Além disso, FHC ainda pode tentar posar de herói, exacerbando os efeitos da crise de energia e apresentando-se como herói que mais uma vez vence uma crise. Assim ele e sua gangue além de encontrarem uma justificativa para o declínio econômico do país e o fracasso do seu plano econômico – o Plano Real – ainda tentarão criar um efeito inverso, tendo em vista o caráter conjuntural da crise de energia nas dimensões atuais. Todos sabemos que o problema central da crise de energia no país não está no fenômeno da seca, mas sobretudo na completa falta de investimentos na infra-estrutura de produção e distribuição dos serviços; e que esta realidade decorreu por um lado da privatização do setor energético, que ao contrário de fazer os tão propalados investimentos diretos no setor, aumentando a capacidade de geração e distribuição de energia, apenas racionalizou custo, otimizou mão-de-obra (demissões em massa) e superdimensionou os lucros. Assim, a crise também tem um outro lado, o lado das fornecedoras de energia (hoje privadas), que querem aumentar os preços de sua mercadoria. Mas ao apagar das luzes, o que se pode notar mesmo é que da seca pouco se pode esperar que a mudança de estado da natureza para o de chuva caudalosa; já do governo, que se diz pego de surpresa, a situação é outra: podemos sim derrubá-lo, e colocar outro em seu lugar. A questão agora é saber que caráter deve ter o movimento de derrubada deste governo e do governo que deverá substituí-lo; para nós, o caráter é somente um: revolucionário, proletário, socialista.

 


Abaixo o governo das oligarquias burguesas!

Abaixo FHC e sua gangue no Planalto!

Abaixo os mais de 300 picaretas do Congresso!

Viva a insurreição popular!!

 

P. I. Bvilla
Pelo Órgão Central do PCML