Abramovitch: Desbaratada clínica de médico da ditadura militar

Desbaratada em São Paulo clínica de Isaac Abramovitch, médico verdugo da ditadura militar

Desbaratada clínica de Abramovitch

Por: Juventude 5 de Julho – São Paulo


Já se foram quarenta e quatro anos do golpe militar, tempo que ainda deixa com que alguns de seus personagens estejam em cena. Foi matéria de jornal o recente desbaratamento de uma clínica ilegal de abortos. Localizada em bairro rico de São Paulo, funcionou por mais de 30 anos, no mesmo local e com um cartaz de clinica médica. Continha uma sala escura e sem janelas, centenas de remédios com data de validade vencida e um criminoso.


Nada contra os abortos em si, são um direito sobre o qual devemos poder decidir. E que nos perdoem os criminosos comuns, a maioria deles tem suas formas de ética. Mas esse bandido disfarçado de doutor tem em seu currículo muitos anos de serviços “médicos”.


Nos últimos tempos, mulheres grávidas pagavam a ele quatro mil reais para realizar abortos clandestinos numa clínica com alvará de vigilância sanitária vencido.


No inicio de seu histórico de canalhices, Isaac Abramovitch, é esse seu nome, trabalhou na equipe de Harry Shibata. Juntos, exerciam medicina para encobrir ou aperfeiçoar a tortura praticada pela ditadura militar brasileira. Fraudando laudos ou examinando pacientes torturados para saber se já estavam “aptos” a voltar para o pau-de-arara.


Aqueles que morriam em sessões de tortura recebiam laudos de atropelamento ou suicídio. Caso de Alexandre Vannucchi Leme, estudante e militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), morto sob tortura durante o plantão do então major Carlos Alberto Brilhante Ulstra, como provam depoimentos de presos e policiais. Seu laudo, assinado por Abramovitch, afirma que Alexandre foi atropelado quando fugia dos órgãos de “segurança”. A família processa o médico que estava tão acostumado a sair impune de crimes. Mais do que impune, premiado por seus infames serviços prestados, o “doutor” já aposentado ganhou 30 anos de operações ilegais muito bem remuneradas, colocando em risco a vida das mulheres atendidas por ele.


O local da clínica era de conhecimento público e dentro de sua “linha de propaganda” estava a distribuição de calcinhas com desenhos de cegonhas com bicos amarrados. Sua sordidez não conhecia limites, nem as seringas encontradas na clinica, que eram reutilizadas.


A pergunta que nos resta é: por que só agora a clínica de abortos foi fechada, o que mudou nestes 30 anos de funcionamento ilegal? Não temos a resposta, mas sabemos que não deveria ser surpreendente sua história, é o digno representante da nossa ditadura militar.


Este caso, além de demonstrar a face civil de uma ditadura militar, contém a triste ironia de um médico que se presta à tortura e à morte e de órgãos de segurança que torturam e matam. É um dever de todos o resgate histórico dos crimes cometidos a partir do golpe de 1964 e, seguindo o exemplo de demais nações da América Latina, que passaram por golpes militares semelhantes e em períodos próximos, a punição aos responsáveis pela ditadura e seu braço armado. Se há problemas nas formas como ocorreram os processos nos demais países, no Brasil ainda engatinhamos. A anistia geral e irrestrita ainda vigora no Brasil.