A saúde pública em Juazeiro do Norte entre a Tuberculose e a Hanseníase

A cidade de Juazeiro do Norte, conhecida pelos milagres de Padre Cícero, está passando por uma grande crise na saúde pública. s hspitais da cidade não têm a aparelhagem necessária, e o povo, quem necessita, "é obrigado a esperar por estes milagres" que não vêm.

A saúde pública em Juazeiro do Norte entre a Tuberculose e a Hanseníase


A cidade de Juazeiro do Norte, conhecida pelos milagres de Padre Cícero, está passando por uma grande crise na saúde pública. s hspitais da cidade não têm a aparelhagem necessária, e o povo, quem necessita, "é obrigado a esperar por estes milagres" que não vêm.

José Carapinima, Sucursal/Ce

O Secretário de Saúde da cidade de Juazeiro do Norte (CE), Francisco Holanda Júnior, anunciou a inauguração neste mês de Novembro da primeira unidade de emergência do município. Segundo o jornal Miséria, para a unidade, em funcionamento no Hospital Tasso Jereissati, é previsto o movimento de 200 pessoas e a abrangência alem do próprio município, de toda a região. Porém, apesar do “feito” da atual administração, existem algumas questões a considerar. Afinal de contas, Juazeiro do Norte é uma das cidades mais destacadas do Estado, que apresenta um bom desenvolvimento econômico e uma grande densidade demográfica. Inaugurar uma unidade dessas não é ‘feito” nenhum. É, no mínimo, uma diminuta parcela da divida com os trabalhadores e camponeses dessa cidade que, apesar de desenvolvida e contar com uma das mais conceituadas escolas de medicina do Ceará, ainda tinham que se deslocar para outras cidades se quisessem fazer uma cirurgia eletiva, uma ultra-sonografia, uma endoscopia, ou um eletrocardiograma. 

A respeito da cidade de Juazeiro do Norte, ela é conhecida na história por ser o cenário de onde Padre Cícero criou sua Meca a guiar seus fieis. Reza a história que o jovem padre chegou em um lugar onde tinha um pé-de-juazeiro, e daí começou a criar o seu “império”. Sua consagração veio no final do século XIX quando aconteceu o dito milagre. Porém, na cidade onde o “padim ciço” operou seu milagre, acontecem os mesmos problemas de uma cidade laica.

Problemas estes que o povo da cidade está enfrentando, uma guerra não declarada contra doenças de todo o tipo e o caos na saúde pública. Mas a própria prefeitura diz que, a não ser o hospital inaugurado, não há local que garanta todas as condições de atendimento.

Sobre o dengue, a cidade de Juazeiro do Norte é o segundo dentre todos do Ceará com maior número de casos da doença, estando apenas atrás de Fortaleza. Porém, Fortaleza possui uma concentração populacional muito maior de que Juazeiro, o que faz da cidade caririense a primeira em número de casos por habitante. Recentemente, a grande imprensa estampou nos jornais a urgência de se combater de maneira “eficaz” a dengue, depois que um Capitão da PM morreu vítima do tipo hemorrágico. Porém, infelizmente não vinham noticiando os trabalhadores que padeciam, e padecem, lentamente.   

Além desta, tem reaparecido na cidade algumas moléstias que há muito já deveriam ter sido extirpadas ou controladas. Tuberculose e hanseníase, conhecidas sob o estigma de “doenças da miséria”.  A hanseníase vem assustando autoridades de saúde do município, com os repentinos casos da moléstia, o que levou a Secretaria de Saúde a criar um grupo de trabalho desde fevereiro, com vistas a controlar os crescentes casos. A hanseníase é considerada por alguns antropólogos como sendo o primeiro male humano conhecido, justamente por se desenvolver mais facilmente em condições insalubres de sobrevivência. Diferentemente, a tuberculose tem tido uma queda nos casos desde os esforços feitos para controlá-lo. Mas ainda representa perigo, pois a cidade de Juazeiro do Norte tem um constante fluxo de romeiros vindos de todas as partes do nordeste, na maioria pobres camponeses com muita boa fé, e que às vezes o falta até condições mínimas de sobrevivência.

Aliás, fé o sertanejo sofrido tem demais. Mas não o pode cegar diante da realidade que se apresenta. O sertanejo sempre fora privado de muitas necessidades básicas – alimentação, educação e salubridade, além do castigo do clima – e o faz propício a doenças. O sertão do Ceará, e o sul como um todo, é historicamente palco de epidemias, pestes, fome e morte de milhares de pessoas. A mortalidade infantil é outro fator conseqüente das epidemias. E importante também frisar que, Juazeiro do Norte é um exemplo tão gritante quanto outros no Estado, sofrendo das mesmas moléstias, ou de outros problemas tão agudos quanto. Afinal de contas, a doença maior que acama nossa sociedade é o capitalismo.

José Carapinima, Sucursal/Ce