Pequena África - Luta e Resistência Cultural na Região Portuária do RJ

Localização dos mercados de escravos (casas de engorda) e toda a logística do tráfico de africanos nos séculos XVIII e XIX, a Pedra do Sal, ao pé do Morro da Conceição, funcionava como armazém de povos africanos no Rio de Janeiro. Este marco histórico ressoa mesmo depois da chamada abolição da escravatura, em 1888. O local transformou-se em espaço sagrado, a partir de rituais afro-religiosos, batuques e rodas de capoeira.

Os atores Chico Dias e Silvia Buarque de Hollanda estiveram na Pedra do Sal em razão dos 30 anos de tombamento do monumento histórico. Recebidos pela partideira Márcia Moura, o casal de atores conversou um pouco sobre os filmes que retratam a Zona Portuária do Rio de Janeiro.

 Filmes como "Pequena África", de Zózimo Bulbul; "Morro da Conceição", de Cristiana Grumbach; "Solo do Samba", de Álvaro Sarmiento; e a "Revitalização Portuária", de Luiz Claudio Guilherme Dias, felizmente não esgotam a filmografia dos bairros da Saúde, Santo Cristo, Gamboa, Morro da Providência, Morro do Pinto e Pedra Lisa, que formam o cinturão histórico da Região Portuária.

O Largo da Prainha, por exemplo, vira e mexe, transforma-se em set de cinema: os realizadores gravam ou filmam seus documentários, comerciais e obras de ficção na chamada Pequena África.

Os moradores, porém, tem opiniões diferentes quanto à utilização de bairros da Zona Portuária como cidades-cenográficas. Para Nildelene Santos, por exemplo, a movimentação do "bonde dos estrangeiros" é meio complicada. “Bem, aqueles que apoiam a 'invasão do cinema e da TV' geralmente fazem parte da figuração”. Mas há também aqueles que reclamam em função da desordem e da violenta alteração da rotina da população, como a partideira Márcia Moura. "O cinema, os programas de TV divulgam nossa Pedra do Sal mas, ao mesmo tempo, fecham as ruas e prejudicam nossa rotina".

 Morro da Conceição

Após cinco anos de visitas ao Morro da Conceição, uma equipe de cinema filmou conversas com apenas 8 dos seus cerca de 4 mil moradores – os mais velhos, com idades que chegam a 97 anos, nascidos no morro e filhos de portugueses. Esses senhores e senhoras narram histórias de suas vidas, inevitavelmente atravessadas pelas histórias da cidade e do país. A construção desse imaginário devolve ao Rio de Janeiro um filme que trata da sua memória e do seu esquecimento. Morro da Conceição é um documentário de tem direção de Cristiana Grumbach, ex-assistente de Eduardo Coutinho.

 Pedra do Sal

 Localização dos mercados de escravos (casas de engorda) e toda a logística do tráfico de africanos nos séculos XVIII e XIX, a Pedra do Sal, ao pé do Morro da Conceição, funcionava como armazém de povos africanos no Rio de Janeiro. Este marco histórico ressoa mesmo depois da chamada abolição da escravatura, em 1888. O local transformou-se em espaço sagrado, a partir de rituais afro-religiosos, batuques e rodas de capoeira.

 Sambistas e chorões como Donga, João da Baiana e Pixinguinha também elegeram a Pedra do Sal para seus encontros político-musicais. Nos anos 80, Ângela Moreira, mulher de Wilson Moreira, produziu vários encontros de sambistas no local. No início do ano 2000, a Associação de Moradores da Saúde reunia centenas de jovens em torno da feijoada e do grupo Panela Di Barro. A cada domingo o conjunto recriava as pérolas de João da Baiana, Donga, Pixinguinha e Sinhô. A feijoada da Pedra do Sal estimulou a retomada do samba de terreiro de escolas de samba como Portela, Mangueira, Leão de Iguaçu, Império Serrano, Salgueiro, Estácio. O tombamento da Pedra do Sal data de 20 de novembro de 1984.

 Anterior ao Morro da Conceição, o Sal do Samba virou filme em 2001. Pedra fundamental da Pequena África do início do século XX; espaço sagrado; lugar de oferendas, festas e batuques; posto de observação; “local de ensaio e ponto de encontro de pastoris, que viraram ranchos, que viraram escolas de samba”; essas e outras qualificações indicam e registram o caráter agregador da Pedra. Em torno dela a comunidade do Morro da Conceição se reúne, se envolve e se identifica.

A Pequena África abrange toda a Zona Portuária. Mais um exemplo de filme sobre a região. Pequena África, de Zózimo Bulbul, em 15 minutos o documentário retrata um Rio de Janeiro de 1910, a capital do país, cujo bairro de escravos alforriados é o centro da cultura afro-brasileira. O filme investiga as influências desta pequena África.

 

Mauro Viana